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A guerra continua

Sou bastante otimista de que uma vacina e/ou tratamento da covid serão encontrados. Contudo, como gestor, não podemos ignorar os riscos em torno do cenário

Economia: não podemos minimizar as cicatrizes provocadas pela pandemia (Germano Luders/Exame)
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felipegiacomelli

Publicado em 24 de agosto de 2020 às 09h56.

Última atualização em 24 de agosto de 2020 às 20h39.

O ano de 2020 está sendo marcado por um dos mais desafiadores cenários econômicos já vividos pela sociedade e, consequentemente, para os gestores de recursos e gestores de patrimônio.

Até o momento, gosto de dividir este ano em três estágios, no que tenho chamado de “Mini Ciclos Econômicos” ou simplesmente MCE.

Na primeira fase do MCE, tivemos uma parada brusca da economia global. Esse ciclo começou no final de fevereiro e perdurou até meados de abril. Muitos países adotaram “lockdowns” ou “quarentenas” bastante rigorosas, o que levou a uma interrupção quase que completa da economia mundial.

Observamos uma forte desaceleração do crescimento e uma rápida e acentuada queda dos mercados financeiros globais. Em março, inclusive, vivenciamos a queda mais rápida e acentuada das bolsas na história do mundo. Nunca na história as bolsas caíram tanto em tão pouco tempo.

Ao longo de março e abril, contudo, os bancos centrais adotaram medidas de injeção de liquidez sem precedentes, o que ajudou a estabilizar os ativos de risco, mas não eram suficientes para reverter a crise, dadas as características da pandemia .

Ao contrário da crise de 2008, em que o sistema financeiro tinha sido a raiz do problema, e a atuação dos Bancos Centrais era suficiente para lidar com a crise, está crise teve origem na economia real e, assim, eram necessárias medidas que atuassem nesta direção.

O que vimos, então, foi uma ação não coordenada, mas na mesma direção, de diversos governos ao redor do mundo, aprovando e implementando pacotes fiscais da ordem de 2% a 10% do PIB de cada país. As medidas visavam criar uma rede de proteção social e suporte à economia real para ajudar a sociedade a atravessar a crise de uma maneira um pouco menos traumática.

Estas medidas fiscais e de liquidez foram seguidas de uma reabertura gradual das economias, uma vez passado o auge do ciclo de contágio da pandemia.

Com este pano de fundo, a primeira fase do MCE deu lugar a segunda fase, marcada por uma recuperação em formato de “V” de várias regiões do mundo e setores da economia. Essa mesma dinâmica foi vista nos mercados financeiros globais.

Com uma rede de proteção social, um mercado enxurrado de liquidez e as perspectivas de reabertura econômica, os mercados seguiram em uma toada bastante positiva, de meados de abril até fins de julho e começo de agosto.

Passadas essas duas fases do ciclo, acredito que estamos, desde o início deste mês, iniciando uma terceira fase deste MCE, que deverá ser marcada por uma recuperação mais errática e mais heterogênea entre regiões do mundo e setores da economia.

Sou bastante otimista de que uma vacina e/ou um protocolo de tratamento para o covid serão encontrados, mais cedo ou mais tarde. Contudo, como gestor, não podemos ignorar os riscos em torno do cenário base e nem o que já foi precificado no mercado nos últimos meses.

Gosto de fazer uma analogia do Covid com a de um avião. Quando o avião foi inventado, era pouco seguro voar. A maioria não chegava a seu destino. Muitos davam problemas e caiam. Com o passar do tempo, foi ficando mais seguro, a tecnologia avançou e hoje é um dos instrumentos de mobilidade mais seguros do mundo. Um percentual altíssimo chega a seu destino, alguns poucos apresentam problemas técnicos, turbulências, mas percorrem seu trajeto sem grandes problemas.

Com o covid, acredito que podemos fazer a mesma analogia. Em seu começo, não se sabia como evitá-lo e nem como tratá-lo. Nos últimos meses, protocolos de tratamento, uma vez infectado, foram criados. Medidas de distanciamento social e prevenção foram adotadas – sem que precise adotar “lockdowns” generalizados. Mesmo com alta nos casos em alguns países, os números de letalidade são muito menores do que na primeira fase da pandemia. No geral, a sociedade está aprendendo a lidar com a doença.

Contudo, não podemos minimizar as cicatrizes que foram criadas na economia ao longo de todo este processo e os riscos envolvidos em torno da recuperação econômica. Algumas batalhas foram vencidas nos últimos meses, mas a guerra continua.

Do ponto de vista dos investimentos, este ambiente não precisa ser necessariamente negativo. Em toda crise, existem oportunidades. Nesta crise, por exemplo, vimos um avanço exponencial na demanda por tudo aquilo que podia ser feito de maneira remota.

Talvez, o que chame mais a atenção, e está mais no foco da grande mídia ultimamente, foi o avanço no varejo “online”. Não por um acaso, vimos um grande aumento de demanda por essas plataformas e um consequente bom desempenho para as ações dessas empresas, não só no Brasil, com em todo o mundo.

Todavia, não foi apenas na bolsa que essas tendências ficaram claras. Outros setores da economia e outras classes de ativos vivenciaram momentos semelhantes, nesta e em outras crises.

Falar aqui que precisamos ter portfólios balanceados e uma seleção de fundos e gestores que tenha governança, transparência e diligência é cair no senso comum. Quem investe há muito tempo, ou trabalha com investimentos, sabe que essa é a lição número um de qualquer livro de finanças.

O grande desafio está na execução desta estratégia. É aqui onde conseguimos diferenciar um trabalho bem feito, diligente, profundo e eficiente.

O cenário que vislumbro para os próximos meses será um cenário de enormes desafios, mas onde grandes oportunidades também irão emergir. Neste ambiente, e em um Brasil de juros baixos, nunca foi tão importante uma análise holística do cenário econômico, uma acertada seleção de ativos e uma diligente seleção de fundos e gestores.

Você está preparado para isso?

* É sócio e CIo da TAG. Gr aduado em Ciências Econômicas pela PUC-Rio, atua no mercado financeiro desde 2003. Com vasta experiência em gestão de recursos de terceiro, Fundo de Fundos, Asset Allocation e estratégia, Dan atuou nas maiores gestores independentes do país como Gap Asset Management, Bank of New York Mellon ARX Investimentos, FLAG Asset Management e Icatu Vanguarda. Exerceu as funções de Portfólio Manager e Estrategista-Chefe. Antes de juntar a TAG em 2018 trabalhou por 4 anos na Icatu Vanguarda, como responsável pelas áreas de Asset Allocation, Fundo de Fundos e Fundos Multimercados.

Fundada em 2004, a TAG é a primeira empresa no setor a oferecer uma plataforma de solução global aos clientes com total independência de instituições financeiras. Desenvolve, com exclusividade, soluções financeiras, imobiliárias e corporativas para pessoas físicas, jurídicas e para o mercado institucional. Abrange desde a gestão de ativo financeiro e imobiliário até a análise, a definição e a estruturação de veículos de investimento, garantindo uma solução completa e customizada  a seus clientes, que vai além das ofertas preestabelecidas e limitadas das instituições financeiras. Atualmente, a TAG ocupa uma posição de referência no mercado, consolidando-se entre as cinco maiores plataformas independentes do Brasil.

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O ano de 2020 está sendo marcado por um dos mais desafiadores cenários econômicos já vividos pela sociedade e, consequentemente, para os gestores de recursos e gestores de patrimônio.

Até o momento, gosto de dividir este ano em três estágios, no que tenho chamado de “Mini Ciclos Econômicos” ou simplesmente MCE.

Na primeira fase do MCE, tivemos uma parada brusca da economia global. Esse ciclo começou no final de fevereiro e perdurou até meados de abril. Muitos países adotaram “lockdowns” ou “quarentenas” bastante rigorosas, o que levou a uma interrupção quase que completa da economia mundial.

Observamos uma forte desaceleração do crescimento e uma rápida e acentuada queda dos mercados financeiros globais. Em março, inclusive, vivenciamos a queda mais rápida e acentuada das bolsas na história do mundo. Nunca na história as bolsas caíram tanto em tão pouco tempo.

Ao longo de março e abril, contudo, os bancos centrais adotaram medidas de injeção de liquidez sem precedentes, o que ajudou a estabilizar os ativos de risco, mas não eram suficientes para reverter a crise, dadas as características da pandemia .

Ao contrário da crise de 2008, em que o sistema financeiro tinha sido a raiz do problema, e a atuação dos Bancos Centrais era suficiente para lidar com a crise, está crise teve origem na economia real e, assim, eram necessárias medidas que atuassem nesta direção.

O que vimos, então, foi uma ação não coordenada, mas na mesma direção, de diversos governos ao redor do mundo, aprovando e implementando pacotes fiscais da ordem de 2% a 10% do PIB de cada país. As medidas visavam criar uma rede de proteção social e suporte à economia real para ajudar a sociedade a atravessar a crise de uma maneira um pouco menos traumática.

Estas medidas fiscais e de liquidez foram seguidas de uma reabertura gradual das economias, uma vez passado o auge do ciclo de contágio da pandemia.

Com este pano de fundo, a primeira fase do MCE deu lugar a segunda fase, marcada por uma recuperação em formato de “V” de várias regiões do mundo e setores da economia. Essa mesma dinâmica foi vista nos mercados financeiros globais.

Com uma rede de proteção social, um mercado enxurrado de liquidez e as perspectivas de reabertura econômica, os mercados seguiram em uma toada bastante positiva, de meados de abril até fins de julho e começo de agosto.

Passadas essas duas fases do ciclo, acredito que estamos, desde o início deste mês, iniciando uma terceira fase deste MCE, que deverá ser marcada por uma recuperação mais errática e mais heterogênea entre regiões do mundo e setores da economia.

Sou bastante otimista de que uma vacina e/ou um protocolo de tratamento para o covid serão encontrados, mais cedo ou mais tarde. Contudo, como gestor, não podemos ignorar os riscos em torno do cenário base e nem o que já foi precificado no mercado nos últimos meses.

Gosto de fazer uma analogia do Covid com a de um avião. Quando o avião foi inventado, era pouco seguro voar. A maioria não chegava a seu destino. Muitos davam problemas e caiam. Com o passar do tempo, foi ficando mais seguro, a tecnologia avançou e hoje é um dos instrumentos de mobilidade mais seguros do mundo. Um percentual altíssimo chega a seu destino, alguns poucos apresentam problemas técnicos, turbulências, mas percorrem seu trajeto sem grandes problemas.

Com o covid, acredito que podemos fazer a mesma analogia. Em seu começo, não se sabia como evitá-lo e nem como tratá-lo. Nos últimos meses, protocolos de tratamento, uma vez infectado, foram criados. Medidas de distanciamento social e prevenção foram adotadas – sem que precise adotar “lockdowns” generalizados. Mesmo com alta nos casos em alguns países, os números de letalidade são muito menores do que na primeira fase da pandemia. No geral, a sociedade está aprendendo a lidar com a doença.

Contudo, não podemos minimizar as cicatrizes que foram criadas na economia ao longo de todo este processo e os riscos envolvidos em torno da recuperação econômica. Algumas batalhas foram vencidas nos últimos meses, mas a guerra continua.

Do ponto de vista dos investimentos, este ambiente não precisa ser necessariamente negativo. Em toda crise, existem oportunidades. Nesta crise, por exemplo, vimos um avanço exponencial na demanda por tudo aquilo que podia ser feito de maneira remota.

Talvez, o que chame mais a atenção, e está mais no foco da grande mídia ultimamente, foi o avanço no varejo “online”. Não por um acaso, vimos um grande aumento de demanda por essas plataformas e um consequente bom desempenho para as ações dessas empresas, não só no Brasil, com em todo o mundo.

Todavia, não foi apenas na bolsa que essas tendências ficaram claras. Outros setores da economia e outras classes de ativos vivenciaram momentos semelhantes, nesta e em outras crises.

Falar aqui que precisamos ter portfólios balanceados e uma seleção de fundos e gestores que tenha governança, transparência e diligência é cair no senso comum. Quem investe há muito tempo, ou trabalha com investimentos, sabe que essa é a lição número um de qualquer livro de finanças.

O grande desafio está na execução desta estratégia. É aqui onde conseguimos diferenciar um trabalho bem feito, diligente, profundo e eficiente.

O cenário que vislumbro para os próximos meses será um cenário de enormes desafios, mas onde grandes oportunidades também irão emergir. Neste ambiente, e em um Brasil de juros baixos, nunca foi tão importante uma análise holística do cenário econômico, uma acertada seleção de ativos e uma diligente seleção de fundos e gestores.

Você está preparado para isso?

* É sócio e CIo da TAG. Gr aduado em Ciências Econômicas pela PUC-Rio, atua no mercado financeiro desde 2003. Com vasta experiência em gestão de recursos de terceiro, Fundo de Fundos, Asset Allocation e estratégia, Dan atuou nas maiores gestores independentes do país como Gap Asset Management, Bank of New York Mellon ARX Investimentos, FLAG Asset Management e Icatu Vanguarda. Exerceu as funções de Portfólio Manager e Estrategista-Chefe. Antes de juntar a TAG em 2018 trabalhou por 4 anos na Icatu Vanguarda, como responsável pelas áreas de Asset Allocation, Fundo de Fundos e Fundos Multimercados.

Fundada em 2004, a TAG é a primeira empresa no setor a oferecer uma plataforma de solução global aos clientes com total independência de instituições financeiras. Desenvolve, com exclusividade, soluções financeiras, imobiliárias e corporativas para pessoas físicas, jurídicas e para o mercado institucional. Abrange desde a gestão de ativo financeiro e imobiliário até a análise, a definição e a estruturação de veículos de investimento, garantindo uma solução completa e customizada  a seus clientes, que vai além das ofertas preestabelecidas e limitadas das instituições financeiras. Atualmente, a TAG ocupa uma posição de referência no mercado, consolidando-se entre as cinco maiores plataformas independentes do Brasil.

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