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4 lições dos fundadores de unicórnios brasileiros

Depoimentos de empreendedores para o livro Fora da Curva 3: unicórnios e startups de sucesso agora também estão disponíveis em áudio

Os depoimentos do Fora da Curva 3 nos fazem lembrar que trabalhar pode ser um prazer (Getty Images/Reprodução)
Os depoimentos do Fora da Curva 3 nos fazem lembrar que trabalhar pode ser um prazer (Getty Images/Reprodução)
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Opinião

Publicado em 8 de novembro de 2021 às, 18h25.

Por Florian Bartunek, Pierre Moreau e Ariane Abdallah

O Brasil encerrou o mês de agosto de 2021 somando 20 unicórnios – empresas que valem mais de US$ 1 bilhão. Assim como os fundadores dessas empresas, existem muitos empreendedores desenvolvendo iniciativas que transformam o mercado em nosso país. No entanto, estamos mais familiarizados com figuras como Elon Musk (Tesla), Jeff Bezos (Amazon) e Mark Zuckerberg (Facebook) do que com os criadores por trás das mais bem sucedidas start-ups brasileiras.

Nossa sensação é que exaltamos pouco os marinheiros que se aventuram pelos mares de cá. Por não conhecer essas jornadas – sempre fascinantes – deixamos de inspirar muitos jovens, com boas ideias e vontade de inovar, e de ajudá-los a acreditar que é possível construir no Brasil negócios tão disruptivos e impactantes quanto os que são construídos lá fora (ou, por que não, até mais?).

Essa lacuna na literatura sobre empreendedores nacionais foi um dos fatores que nos inspirou a escrever o Fora da Curva 3: unicórnios e start-ups de sucesso. O livro traz depoimentos em primeira pessoa de 12 brasileiros e brasileiras, como os criadores de empresas como Ebanx, Vtex, QuintoAndar, 99 e Movile (dona do Ifood).

Outra motivação para fazer uma edição sobre start-ups — o Fora da Curva 1 e 2, co-organizados pela jornalista Giuliana Napolitano, haviam sido sobre investidores do mercado financeiro — foi a mudança do perfil e das aspirações dos jovens. Uma pesquisa publicada pela EY em parceria com a Junior Achievement, organização que prepara os jovens para empreender, entrevistou mais de 6 mil pessoas nascidas entre 1997 e 2007. Mais da metade delas (53%) espera abrir seu próprio negócio na próxima década. Se antigamente a maior parte das novas gerações sonhava em encontrar um emprego estável, com bom salário, essa não é mais a realidade. E esses jovens se interessam pelas histórias de empreendedores que têm uma idade mais próxima da sua e passaram por situações que desejam um dia viver. Até alguns anos atrás, era o máximo ouvir o que um grande empresário de sucesso tinha a dizer. Hoje, as referências são os garotos e garotas à frente de start-ups, que estão definindo o futuro do mercado de trabalho.

A vontade de incentivar empreendedores é tão grande que toda a nossa renda com a publicação está sendo revertida para a Fundação Estudar, criada há 20 anos por Jorge Paulo Lemann. A organização apoia e incentiva a educação por meio de bolsas de estudo.

Felizmente, esse projeto ao qual nos dedicamos vai chegar a ainda mais gente nos próximos meses. Além de livro, o Fora da Curva 3 agora também virou temporada de podcast. O Atitude Empreendedora, criado pela nossa co-organizadora Ariane, lançou uma série especial com as entrevistas em formato de áudio, o que ajudará as histórias a inspirar ainda mais pessoas – nesse caso, ouvintes.

Algumas entrevistas foram regravadas, mas a maior parte dos episódios traz trechos das conversas de bastidores que deram origem aos depoimentos do livro. Ouvindo novamente os empreendedores, ficamos com a sensação de que, apesar de perfis tão diferentes, há muito em comum entre as pessoas que criaram empresas bem-sucedidas. Reunimos abaixo algumas das lições

- Tenha prazer no que você faz e apaixone-se pelo problema

Os depoimentos do Fora da Curva 3 nos fazem lembrar que trabalhar pode ser um prazer. Os empreendedores são apaixonados por seus negócios e suas áreas de atuação. Fazem o que gostam ou são tão comprometidos com o problema que decidiram transformar a carreira em sua causa. Por mais dificuldades que encontrem pelo caminho, possuem um propósito claro e tendem a se realizar com o trabalho independentemente do contexto. Anderson Ferminiano, por exemplo, conta que desde que entrou em seu primeiro emprego como programador, o dia a dia do trabalho se confundia com o que fazia para se divertir em casa. “É um estilo de vida que tento manter até hoje, fazer o que me diverte. Me sinto tão feliz trabalhando quanto jogando videogame”, conta. Duda Falcão, do grupo de educação Eleva, diz que seu objetivo principal vai muito além do sucesso financeiro: “Construí um sonho, uma paixão, um grupo de longo prazo.”

- Escolha um foco e concentre-se nele

O foco e a obsessão são tão presentes que muitos dos personagens do Fora da Curva não possuem um plano B caso o negócio não dê certo - é tudo ou nada. Não dividem sua atenção com atividades paralelas ou com oportunidades que possam parecer mais tentadoras do que seus empreendimentos. Assim, evitam distrações e fazem o possível (e às vezes o impossível) para realizar o que vislumbram. André Penha, fundador da plataforma de aluguel e venda de imóveis QuintoAndar, teve sua ideia rejeitada por um investidor em uma de suas primeiras apresentações sobre o negócio, quando ainda era estudante em Stanford. A justificativa: ele não colocaria dinheiro no negócio porque achava que os empreendedores aceitariam a primeira proposta de salário que aparecesse depois do MBA. Naquele momento, André e seu sócio fizeram um acordo: seria tudo ou nada, independentemente da possiblidade de serem contratados por alguém que pagasse a dívida do curso. "Minha dívida estudantil nos Estados Unidos era de 200 mil dólares. Mas apostávamos de verdade no negócio. Por isso, tomamos a decisão de não responder nenhuma oferta que aparecesse no LinkedIn. Se há algo que você realmente quer fazer na vida, não tenha plano B, porque a tentação de agarrar a alternativa nos dias difíceis é enorme”, conta.

- Evolução constante

Quem já fundou ou participou do início de uma empresa sabe que o time inteiro precisa fazer tudo para que o negócio deslanche, do RH ao financeiro, sem esquecer do core business. Os personagens do Fora da Curva passaram por essa fase, mas foram capazes de amadurecer e assumir novos papéis conforme seus negócios evoluíam. Eles entenderam o momento de deixar de ser um generalista para ser o especialista na gestão financeira ou liderar a empresa numa posição de CEO. Depois de vender a 99, o empreendedor Paulo Veras assumiu outro papel, trocando a liderança da empresa para atuar como investidor, apoiando empresas a solucionar problemas por meio da tecnologia.

- Teoria e prática

A maior parte dos empreendedores, apesar de sua paixão pelo fazer, tiveram excelentes experiências, em boas universidades. Mesmo em um universo onde a prática é tão importante, eles nunca deixam de buscar conhecimento – seja lendo, fazendo cursos, estudando uma nova disciplina ou conversando com especialistas. Henrique Dubugras, fundador da Brex, desistiu da graduação em Stanford no meio do curso, mas reconhece que a passagem pela instituição lhe deixou lições úteis. Fabricio Bloisi, da Movile, dona de plataformas como o iFood, usou seu mestrado na FGV para estudar empresas de tecnologia com modelos de crescimento acelerado. Depois de uma pesquisa que durou dois anos e exigiu a leitura de mais de 150 livros, Bloisi encontrou referências que foram fundamentais para melhorar seu negócio.

Acreditamos que ouvir ou ler essas histórias pode ajudar qualquer profissional dentro de uma empresa, jovem ou tradicional, a refletir sobre sua carreira e as oportunidades de fazer diferente, todos os dias. Construir do zero empresas que hoje valem milhões ou bilhões de dólares e perpetuar culturas autênticas resulta em muitas lições - para os empreendedores e para quem dedica um tempo a compreender suas trajetórias.