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Os riscos que cercam a popularidade de Bolsonaro

Pesquisa mostra que o avanço de Bolsonaro se deve a um crescimento da popularidade entre os segmentos mais pobres da população

VS

Victor Sena

Publicado em 25 de setembro de 2020 às 08h53.

Distribuída pela Confederação Nacional da Indústria, a última pesquisa do Ibope e que avalia o governo de Jair Bolsonaro é como um copo com metade de água. Os defensores do presidente podem pinçar dados positivos. Os oposicionistas, no entanto, também têm condições de encontrar matéria-prima suficiente para criticar o Planalto e seu ocupante.

Em termos de popularidade, Bolsonaro nunca teve índices tão elevados. Quando a primeira enquete deste gênero foi realizada, em abril de 2019, o presidente cravou 35 % de avaliações entre ótimo e bom. Foi caindo paulatinamente até chegar a 29% no mês de dezembro. Hoje, porém, está no patamar de 40 %. Na proporção inversa, aqueles que diziam o governo ser ruim e péssimo eram 38 % em dezembro; em setembro, no entanto, a avaliação negativa caiu a 29 %. Ao final do ano passado, havia 53 % de brasileiros que desaprovavam a forma de Bolsonaro conduzir o governo. Hoje, são 45 % os detratores, contra 55 % de quem o aprova.

Boas notícias, portanto, para o presidente. Contudo, a enquete tem o seu lado B.

Em relação à confiança no presidente em si, os dados continuam ruins. Há 51 % que não confiam no presidente, contra 46 % que depositam seu crédito na figura do mandatário. O número de desconfiados, entretanto, diminuiu: eram 56 % em dezembro.

A pesquisa mostra que o avanço de Bolsonaro se deve a um crescimento da popularidade entre os segmentos mais pobres da população, que responderam rapidamente às medidas de auxílio emergencial. Apesar de ter obtido um avanço considerável no Nordeste, ainda há certa resistência desta região em apoiar maciçamente o presidente.

Os problemas de avaliação surgem quando os entrevistados são convidados a dar sua percepção de acordo com a área de atuação do governo. A única a receber uma nota positiva foi a relativa à segurança pública, com 51 % de aprovação (com 45 % de desaprovação). Os demais itens são todos mais desaprovados que aprovados: combate à fome e à pobreza; educação; saúde; combate à inflação; combate ao desemprego; meio ambiente; taxa de juros e impostos.
Este capítulo da pesquisa mostra claramente que o país está dividido entre quem apoia Bolsonaro e quem o desaprova.

Teoricamente, há espaço para elevar os índices de aprovação um pouco mais, especialmente na região Nordeste, mas, para isso, novas ações de assistencialismo precisam ser disparadas. E, como se sabe, o governo não pode distribuir indefinidamente recursos por conta da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Por enquanto, Bolsonaro aposta em duas linhas: o primeiro é continuar com seu discurso alinhado com a base fiel de eleitores. O speech proferido na ONU é um exemplo típico deste tipo de abordagem e tem como alvo direto o bolsonarista raiz. O presidente, com isso, busca criar um antagonismo e levar consigo um oponente de esquerda ao segundo turno. Neste caso, a reeleição estaria garantida.

Ao mesmo tempo, o presidente deve raspar o tacho para manter o assistencialismo em alta. Um sinal de que isso deve ocorrer foi a enquadrada que o ministro Paulo Guedes levou anteontem do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, e do ministro Luiz Eduardo Ramos. Guedes estava falando à imprensa e entrou no assunto delicado: “Fazer um aterrisagem suave do programa de auxílio emergencial, que é exatamente o que estávamos estudando”. Enquanto o ministro da Economia falava, Barros, sutilmente, disse “tá bom” e “muito bem” – um sinal claro para que Guedes terminasse sua fala. Como Guedes demonstrou não entender a deixa, Ramos, então, pegou o colega pelo braço e deu por encerrada a entrevista.

A mensagem, assim, parece ser simples: por enquanto, ninguém fala sobre o fim dos programas de assistência social.

A estratégia de Bolsonaro, ainda assim, poderá perder seu efeito se ele encontrar no segundo turno um candidato que não for de esquerda e buscar um discurso de união. Aparentemente, o bolsonarismo tem maior efeito em momentos de conflito político para surfar no sentimento anti-esquerdista. Com um oponente de centro ou mesmo de direita, especialmente se a economia não se recuperar totalmente até lá, o pleito de 2022 poderá se transformar em algo imprevisível.

Distribuída pela Confederação Nacional da Indústria, a última pesquisa do Ibope e que avalia o governo de Jair Bolsonaro é como um copo com metade de água. Os defensores do presidente podem pinçar dados positivos. Os oposicionistas, no entanto, também têm condições de encontrar matéria-prima suficiente para criticar o Planalto e seu ocupante.

Em termos de popularidade, Bolsonaro nunca teve índices tão elevados. Quando a primeira enquete deste gênero foi realizada, em abril de 2019, o presidente cravou 35 % de avaliações entre ótimo e bom. Foi caindo paulatinamente até chegar a 29% no mês de dezembro. Hoje, porém, está no patamar de 40 %. Na proporção inversa, aqueles que diziam o governo ser ruim e péssimo eram 38 % em dezembro; em setembro, no entanto, a avaliação negativa caiu a 29 %. Ao final do ano passado, havia 53 % de brasileiros que desaprovavam a forma de Bolsonaro conduzir o governo. Hoje, são 45 % os detratores, contra 55 % de quem o aprova.

Boas notícias, portanto, para o presidente. Contudo, a enquete tem o seu lado B.

Em relação à confiança no presidente em si, os dados continuam ruins. Há 51 % que não confiam no presidente, contra 46 % que depositam seu crédito na figura do mandatário. O número de desconfiados, entretanto, diminuiu: eram 56 % em dezembro.

A pesquisa mostra que o avanço de Bolsonaro se deve a um crescimento da popularidade entre os segmentos mais pobres da população, que responderam rapidamente às medidas de auxílio emergencial. Apesar de ter obtido um avanço considerável no Nordeste, ainda há certa resistência desta região em apoiar maciçamente o presidente.

Os problemas de avaliação surgem quando os entrevistados são convidados a dar sua percepção de acordo com a área de atuação do governo. A única a receber uma nota positiva foi a relativa à segurança pública, com 51 % de aprovação (com 45 % de desaprovação). Os demais itens são todos mais desaprovados que aprovados: combate à fome e à pobreza; educação; saúde; combate à inflação; combate ao desemprego; meio ambiente; taxa de juros e impostos.
Este capítulo da pesquisa mostra claramente que o país está dividido entre quem apoia Bolsonaro e quem o desaprova.

Teoricamente, há espaço para elevar os índices de aprovação um pouco mais, especialmente na região Nordeste, mas, para isso, novas ações de assistencialismo precisam ser disparadas. E, como se sabe, o governo não pode distribuir indefinidamente recursos por conta da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Por enquanto, Bolsonaro aposta em duas linhas: o primeiro é continuar com seu discurso alinhado com a base fiel de eleitores. O speech proferido na ONU é um exemplo típico deste tipo de abordagem e tem como alvo direto o bolsonarista raiz. O presidente, com isso, busca criar um antagonismo e levar consigo um oponente de esquerda ao segundo turno. Neste caso, a reeleição estaria garantida.

Ao mesmo tempo, o presidente deve raspar o tacho para manter o assistencialismo em alta. Um sinal de que isso deve ocorrer foi a enquadrada que o ministro Paulo Guedes levou anteontem do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, e do ministro Luiz Eduardo Ramos. Guedes estava falando à imprensa e entrou no assunto delicado: “Fazer um aterrisagem suave do programa de auxílio emergencial, que é exatamente o que estávamos estudando”. Enquanto o ministro da Economia falava, Barros, sutilmente, disse “tá bom” e “muito bem” – um sinal claro para que Guedes terminasse sua fala. Como Guedes demonstrou não entender a deixa, Ramos, então, pegou o colega pelo braço e deu por encerrada a entrevista.

A mensagem, assim, parece ser simples: por enquanto, ninguém fala sobre o fim dos programas de assistência social.

A estratégia de Bolsonaro, ainda assim, poderá perder seu efeito se ele encontrar no segundo turno um candidato que não for de esquerda e buscar um discurso de união. Aparentemente, o bolsonarismo tem maior efeito em momentos de conflito político para surfar no sentimento anti-esquerdista. Com um oponente de centro ou mesmo de direita, especialmente se a economia não se recuperar totalmente até lá, o pleito de 2022 poderá se transformar em algo imprevisível.

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