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O eleitor moderado: desprezado pelos principais candidatos

Enquanto Bolsonaro resolveu peitar o STF com um perdão institucional a Daniel Silveira, Lula andou desfiando frases que agradam ao petismo mais aguerrido

Os moderados, no meio deste tiroteio, se dividiram em duas correntes (Manuel Cortina/SOPA Images/Flickr)
Os moderados, no meio deste tiroteio, se dividiram em duas correntes (Manuel Cortina/SOPA Images/Flickr)
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Money Report – Aluizio Falcão Filho

Publicado em 25 de abril de 2022 às, 08h34.

Por: Aluizio Falcão Filho

Nos últimos trinta dias, os candidatos Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva jogaram para suas torcidas. Enquanto Bolsonaro resolveu peitar o Supremo Tribunal Federal com um perdão institucional ao deputado Daniel Silveira, condenado pela Justiça, Lula andou desfiando frases que agradam ao petismo mais aguerrido e incomodam a classe média conservadora. No meio deste duelo de narrativas, os eleitores moderados foram deixados de lado.

Lula até sinalizou que iria baixar a octanagem de seus discursos com a escolha de Geraldo Alckmin como companheiro de chapa. Mas a liderança expressiva nas pesquisas do início do ano criou uma empáfia dentro do alto comando de sua campanha. O resultado disso foi uma sequência de afirmações que levantaram as sobrancelhas dos tradicionalistas e daqueles que defendem o liberalismo econômico.

Já o presidente Jair Bolsonaro nunca se afastou de sua linha conservadora. O Bolsonaro de 2018, no entanto, fazia da batalha contra a corrupção uma de suas bandeiras – e apregoava uma “nova política” que o afastaria das forças partidárias tradicionais, como o Centrão. Como se sabe, ele entrou em rota de colisão com o maior símbolo anticorrupção do país, o ex-ministro Sergio Moro, e se alinhou ao grupo liderado por Ciro Nogueira. Arthur Lira e Valdemar da Costa Neto. Essa foi uma baixa importante em sua narrativa. O restante, porém, continuou igual.

Os moderados, no meio deste tiroteio, se dividiram em duas correntes. A primeira resolveu optar pelo pragmatismo e rachou entre o atual presidente e Lula. Aqueles que preferiram apoiar a situação o fizeram por achar que a volta do PT ao Planalto traria prejuízos econômicos e políticos ao país, além de ser um sinal de que a corrupção ocorrida nos governos petistas poderia ser revivida. Já quem resolveu apoiar Lula tomou essa decisão por não mais aguentar o discurso politicamente incorreto e beligerante do presidente, a estratégia claudicante de combate à pandemia e uma economia que dá sinais de cansaço.

Há, porém, aqueles que continuam sem se alinhar às duas principais candidaturas: são moderados que não se conformam com alternativas que carregam um lado B significativo, como ocorre com Lula e Bolsonaro. Ao optar por uma política econômica mais à direita, ganha-se um presidente com arroubos verbais vexatórios, defendendo posições políticas e comportamentais altamente questionáveis. Se a opção for em direção a um mandatário com talento para agrupar forças políticas e dar uma eventual estabilidade política ao país, vem de brinde um governo com apetite para inchar a máquina pública, disposição para revogar reformas importantes e intenção já declarada de controlar a imprensa. A lista de prós e contras dessas duas candidaturas é enorme pode render páginas e mais páginas.

Esses moderados que ainda sonham acordados com a possibilidade cada vez mais remota de uma Terceira Via estão minguando a olhos vistos – e talvez esteja aí outra razão pela qual Bolsonaro e Lula desprezaram recentemente esses eleitores. Segundo a mais recente pesquisa EXAME/Ideia, os indecisos, que chegaram a quase 20 % no ano passado, somam agora apenas 4 %. Os que tencionam votar em branco ou nulo ultrapassaram a barreira de 15 % em 2021 – mas hoje estão na casa de 9%.

Muitos analistas apontavam, desde o início do ano, que a disputa entre os principais postulantes iria ficar mais aguerrida a partir de abril e foi exatamente o que ocorreu. Bolsonaro conseguiu recuperar parte de sua competitividade e reduziu a distância que o separava de Lula nas projeções de Segundo Turno em cinco pontos percentuais. Diante disso, é de se esperar que Lula recue em declarações que só agradam sua claque particular e busque um caminho mais próximo ao de 2002, quando abraçou um tom mais sóbrio e acabou eleito (nada garante, entretanto, que essa estratégia possa ser repetida com sucesso). E Bolsonaro? Conseguirá adotar uma narrativa mais contida? Dificilmente. O limite do presidente está em adotar o silêncio em relação a certos temas – e apenas por um determinado período. Bolsonaro só sabe fazer política de um jeito: o seu. Por isso, ele receberá de bom grado os sufrágios de eleitores moderados. Mas não fará nada para conquistar esses votos.