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Lições da megalive: o autoconhecimento é fundamental para crescer

Para Sofia Esteves, afinal, se alguém não se conhece muito bem, terá dificuldades extremas pata desenvolver seus talentos

Money Report: megalive trouxe nesta terça painéis com dezenas de líderes do futuro (Montagem/Exame)
Money Report: megalive trouxe nesta terça painéis com dezenas de líderes do futuro (Montagem/Exame)
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Money Report – Aluizio Falcão Filho

Publicado em 16 de setembro de 2020 às, 09h15.

Ontem, durante a megalive que MONEY REPORT realizou com EXAME, tivemos 11 horas ininterruptas com cerca de 40 CEOs, empresários e até personalidades do mundo artístico e do Terceiro Setor. A ideia era discutir como seriam as lideranças do futuro. Ouvindo todos os palestrantes e debatedores, pude conferir o óbvio: só chega ao Olimpo empresarial quem é apaixonado pelo que faz. Outra constatação: a pandemia gerou mudanças perceptíveis no perfil dos comandantes das grandes corporações. Ouvi várias vezes as palavras “humanização”. “entendimento” e mesmo “gratidão” – provavelmente essas expressões não fossem proferidas se o evento tivesse sido realizado um ano atrás.

A ruptura gerada pelo coronavírus também impulsionou a mudança dentro das companhias. Se antes havia uma certa relutância em abraças as transformações digitais, agora existe apenas a compreensão de que é preciso inovar. A alternativa é simplesmente perecer.

De tudo o que ouvi durante essas onze horas, posso destacar um comentário marcante da psicóloga Sofia Esteves, da Companhia de Talentos. Sofia afirma, com toda a razão, que todos nós têm pelo menos um grande talento a desenvolver – mas que muitas pessoas passam a vida inteira sem descobri-lo. Na prática, assim, não saber qual é sua grande vantagem competitiva no mercado de trabalho é algo que pode colocar alguém no limbo social e econômico.

A psicóloga afirma que o baixo autoconhecimento pode ser um fator impressionante de desigualdade. Afinal, se alguém não se conhece muito bem, terá dificuldades extremas pata desenvolver seus talentos.

Mas talvez o raciocínio de Sofia precise de um complemento. Há habilidades que conhecemos e localizamos dentro de nós, mas geralmente essas são aquelas características que conhecemos por conta de elogios dos outros. No meu caso, ouvi muito na minha adolescência que escrevia muito bem (embora esse comentário gere controvérsias no mercado jornalístico) e isso me ajudou a desenvolver outras habilidades como profissional de imprensa. Mas lembro de amigos da época da juventude que eram elogiados por seu senso de organização ou facilidade em lidar com a matemática.

Em relação a isso, faço um parêntese. Os professores do ensino médio nos conhecem apenas pela nossa performance em suas matérias. Ou seja, eles nos enxergam de acordo com nossas notas ou capacidade de compreensão nas salas de aulas. E sempre fui, pasmem, um bom aluno de matemática. Um pouco antes do vestibular, a professora de matemática veio me perguntar qual seria a carreira que iria seguir. Quando falei a palavra “jornalismo”, ela quase caiu para trás e tentou me demover, sem sucesso, que eu seguisse o caminho de matemática. Está aí uma habilidade minha que ficou pelo caminho.

Aproveito para perguntar: diga um talento seu que nunca foi comentado pelos outros. É difícil, não? Geralmente, precisamos da chancela alheia para poder conhecer nossas habilidades e raramente chegamos a esse autoconhecimento sem uma opinião de fora.

Outro ponto importante é que, muitas vezes, temos qualidades que são desconhecidas e só vêm à tona em um momento de adversidade. As características inerentes ao empreendedorismo se encaixam perfeitamente nesta categoria.

Entre os empreendedores, há aqueles com vocação para abrir suas empresas e tocar seus próprios negócios. São pessoas que sempre sonharam em não ter chefes ou contracheques (dependendo da empresa, porém, cada cliente será seu patrão – mas vamos deixar essa discussão para outra ocasião).

Entretanto, existem centenas de milhares de empreendedores que não escolheram essa vida. Acabaram optando pelo empreendedorismo por W.O. – ou seja, empreender era a única alternativa. Entre aqueles que perderam seus empregos, por exemplo, há indivíduos que foram aprendendo no dia a dia como tocar uma empresa, embora isso nunca tivesse sido o desejo dessa pessoa.

Por isso, muitas vezes tomamos um susto com nossas próprias capacidades. Mas elas só afloram quando tomamos riscos. Numa situação controlada e confortável, os talentos dificilmente aparecem. Essa foi outra conclusão que pude escutar duas vezes durante o dia de ontem: a de que a dificuldade produz o crescimento e a engenhosidade. A pandemia, neste sentido, foi o teste supremo para todos nós. E quem não mudar, neste cenário, dificilmente ficará de pé.