Uma pesquisa divulgada na quarta-feira, realizada pela Band e pelo instituto Poder/Data, mostrava que a reprovação do governo de Jair Bolsonaro é alta. Segundo o estudo, índice de desaprovação à gestão Bolsonaro passou de 56 para 57%. Diante deste número, a pergunta que não quer calar é a seguinte: como as manifestações de apoio ao presidente, realizadas em 1º de maio, conseguiram reunir tanta gente?
A resposta está na continuação do estudo revelado na quarta-feira: são 35 % que apoiam Bolsonaro (ante 34 % da enquete anterior). Trata-se de um contingente significativo de eleitores. Tanto é que o presidente se reveza com Luiz Inácio Lula da Silva na liderança das pesquisas de opinião sobre o pleito do ano que vem, oscilando entre 31 % e 35 %.
É possível arriscar, com base nestes números, que Bolsonaro tem ao seu lado, neste momento, um terço dos eleitores. Esse seria o tamanho do eleitorado mais tradicional e que apoia integralmente o presidente. Não se pode, no entanto, acreditar que estamos diante de um grupo necessariamente homogêneo.
Há nesse mundaréu de gente empresários que preferem apoiar Bolsonaro e torcer pela manutenção de Paulo Guedes à frente da economia – talvez o reduto de eleitores com maior fragilidade em termos de apoio. Há também inimigos do governador João Doria e empreendedores que não concordam com as regras de lockdown que travaram a economia. Conservadores de costumes, ligados a movimentos religiosos, também estão contidos nesta panela. E, por fim, temos os extremistas que enxergam comunistas embaixo da cama e não perdem a oportunidade de clamar por uma intervenção militar (no sábado, para variar, houve inúmeras faixas pedindo aos fardados que rasgassem a Constituição e entrassem em campo).
Não se pode desdenhar deste apoio. Trata-se de uma base eleitoral sólida, que resistiu às barbeiragens do governo durante o combate à pandemia e não liga para o estilo belicoso do presidente, que está sempre procurando o confronto e disparando sua metralhadora giratória contra alguém.
É importante ressaltar que Jair Bolsonaro foi eleito com pouco mais de 55 % dos votos válidos em 2018, diante de 31 milhões de abstenções e 11 milhões de nulos e brancos. De um lado, parte desses 55 % se arrependeram do voto no então candidato de Bolsonaro. Por outro, a desaprovação de 57 % é turbinada não apenas pelos eleitores de esquerda e arrependidos como também por aqueles que fazem parte dos 41 milhões de abstenções, nulos e brancos.
Assim, a presente situação de Bolsonaro o coloca no segundo turno, mas traz um caminhão de incertezas sobre sua vitória nesta etapa das eleições presidenciais. Porém, se essa massa eleitoral não garante necessariamente um triunfo no ano que vem, é suficiente para inflar manifestações públicas, como as que ocorreram no sábado.
Tirando os comícios de praxe reunindo as entidades sindicais, as forças contrárias a Bolsonaro não foram instadas a se reunir, como fizeram os grupos de apoio ao governo. Mesmo assim, trata-se de uma quantidade expressiva de pessoas. E, para os opositores, é hora de entender o que move essa massa.
Não adianta apenas achar que são ajuntamentos de negacionistas, fascistas e preconceituosos, que representam uma minoria da população brasileira. Os candidatos que disputam com Bolsonaro, especialmente aqueles que desejam se colocar como uma terceira opção, têm a obrigação de escrutinar o que move esse eleitorado e tentar encontrar brechas para garimpar o apoio dos mais conservadores.
Entre os apoiadores de Lula e de Bolsonaro, há uma pequena parte que pode mudar de voto até o pleito de 2022. Mas, para que isso ocorra, os políticos que não querem trafegar nos extremos devem mapear o eleitorado e aprender aquilo que os faz dar suporte aos líderes das pesquisas.
Simultaneamente, precisam encontrar um discurso coerente e carismático, sair do muro, criticar ferozmente seus opositores e não utilizar uma conversinha morna. Caso contrário, vão atolar nas pesquisas e terminar o primeiro turno duelando com os Cabos Daciolos da vida.
Jair Bolsonaro foi trabalhando seu nome durante dois anos antes do pleito de 2018. Mas apenas se viabilizou com o apoio popular à Lava-Jato e ao sentimento antipetista que varreu o país. Esse empurrão extra não irá impulsioná-lo no ano que vem – e outros vetores podem entrar em ação para favorecer Lula ou uma terceira via.
Estamos em maio e a campanha pegará fogo apenas em agosto do ano que vem. Ou seja, há muita água para passar embaixo da ponte. Mas Bolsonaro vai passar esse tempo todo convocando seus militantes a mostrar popularidade, com o intuito de esvaziar um nome que rivalize com ele e com Lula. Por isso, o entendimento em torno de uma terceira candidatura (que não contará com o apoio de Ciro Gomes) precisa deslanchar logo. De outro modo, os articuladores políticos do Centro nem precisam gastar seu tempo – quanto mais tempo um terceiro nome demora para aparecer, mais essa eleição será decidida entre Bolsonaro e Lula.
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