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Baixou um Osmar Terra em Queiroga

Infelizmente, um ministro da Saúde abre outra vez a discussão da chamada teoria da conspiração, criando dúvidas sobre o uso das vacinas

Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, durante entrevista coletiva em Brasília (Adriano Machado/Reuters)
Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, durante entrevista coletiva em Brasília (Adriano Machado/Reuters)
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Money Report – Aluizio Falcão Filho

Publicado em 17 de setembro de 2021 às, 10h36.

Aluizio Falcão Filho

Já faz alguns meses que é possível ver o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, fazendo malabarismos verbais para não confrontar os arroubos do presidente Jair Bolsonaro e sua visão peculiar sobre a pandemia. Ontem, porém, o ministro parece ter destrambelhado e se alinhado ao chefe. Queiroga mandou interromper a vacinação de adolescentes sem comorbidades e afirmou que 3,5 milhões de jovens foram imunizados de maneira “intempestiva”. “Estados e municípios iniciaram essa vacina antes, até no mês de agosto, vacina que era para começar ontem”, disparou. “Como conseguimos coordenar a campanha dessa forma?”.

Até aí, parecia que a revolta do ministro era de questão logística, uma vez que determinados governadores e prefeitos tinham antecipado campanhas de vacinação e atrapalhado o planejamento do Ministério da Saúde. Mas o ministro foi além. “[Adolescente] sem comorbidades, independente da vacina, para e não toma a outra [dose]. Por uma questão de cautela, até que se tenha mais evidências para seguir em frente”, determinou.

Infelizmente, um ministro da Saúde abre outra vez a discussão da chamada teoria da conspiração, criando dúvidas sobre o uso das vacinas, ao dizer que o processo de imunização junto a quem está na adolescência precisa ser interrompido para que se reúnam “evidências”. Ora, se a Anvisa autorizou o uso do imunizante da Pfizer para essa faixa etária, que tipo de “evidência” busca o ministro?

Além da autorização da agência sanitária brasileira, a vacina da Pfizer foi testada em mais de 10 milhões de adolescentes em cerca de 40 países, como Estados Unidos, Israel e Inglaterra. Durante todo esse processo, não se registrou nenhuma ocorrência grave.

Das 3,5 milhões de doses aplicadas em jovens entre 12 e 17 anos, cerca de 26 000 foram de marcas não aprovadas pela Anvisa para uso em adolescentes, como a AstraZeneca e a CoronaVac. Esses procedimentos foram, de fato, irregulares e precisam ser coibidos. Mas é necessário interromper todo o processo por conta destas ações inapropriadas? Será que baixou um Osmar Terra em Queiroga?

A explosão do ministro surge em meio a um gargalo na vacinação, desta vez em relação às doses da AstraZeneca. Há cinco estados da União que não possuem o imunizante, exatamente no momento em que muitos adultos precisam da segunda dose para completar o processo de inoculação.

Quis o ministro criar um factoide para desviar a atenção da falta de imunizantes de Oxford? Não se sabe exatamente o que motivou esse tipo de declaração. Mas choveram críticas, especialmente de quem resolveu adiantar o processo e acelerar o processo de imunização dos menores de idade.

O governador de São Paulo, João Doria, foi um dos que reagiram negativamente à fala do ministro. “Fico surpreso e indignado, como pai que sou de adolescentes, com essa orientação do Ministério da Saúde. Descabida e, ao mesmo tempo, que traz intranquilidade para milhões de pais em todo o Brasil”, afirmou Doria. “Não há nenhuma razão concreta, que a ciência determine e ampare, para suspender a vacinação de jovens de 12 a 17 anos. Então, São Paulo vai seguir vacinando jovens de 12 a 17 anos”.

Apesar do gargalo existente em relação à AstraZeneca, não se pode dizer que a pandemia esteja em um momento ruim no Brasil, especialmente quando comparamos nossa realidade com a internacional. Aqui, por exemplo, tivemos uma média de 2,46 mortes por milhão de habitantes nos últimos sete dias. Nos Estados Unidos, esse índice é de 5,4 mortes/milhão e em Israel, 3,7 mortes/milhão (dados do site Our World in Data).

Ou seja, se o ministro quisesse disfarçar a falta de um tipo específico de vacina era só comparar os números nacionais com os dos países estrangeiros. Mas parece que todos os membros do primeiro escalão, mais cedo ou mais tarde, resolvem partir para a briga antes de utilizar argumentos razoáveis e racionais.

É de se espantar que esse comportamento venha de um médico que ocupa a cadeira de ministro de Estado.

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