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Após o Dia da Mulher, o desafio dos homens é combater o próprio machismo

As mulheres estão fazendo a sua parte para combater o machismo. Mas essa batalha faz parte de uma guerra maior

ESPANHA - Mulher sorrindo durante marcha do Dia Internacional da Mulher (Eloy Alonso/Reuters)
ESPANHA - Mulher sorrindo durante marcha do Dia Internacional da Mulher (Eloy Alonso/Reuters)
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Money Report – Aluizio Falcão Filho

Publicado em 11 de março de 2022 às, 12h48.

Aluizio Falcão Filho

Chegamos ao fim da semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher com uma certeza – embora combalido, o machismo ainda está bastante vivo dentro dos homens. Hoje, qualquer manifestação pública de misoginia é condenada pela sociedade e massacrada nas redes sociais. Por isso, os machistas empedernidos tomam mais cuidado em seus comentários, embora em ambientes privados continuem a destilar tiradas preconceituosas ou discriminatórias (o caso do deputado estadual Arthur do Val demonstrou perfeitamente este tipo de situação).

Por mais que se exercite o autocontrole, no entanto, uma tirada pode escapar aqui e acolá. Foi o caso do procurador geral da República, Augusto Aras. No dia 8 de março, ele se saiu com a seguinte pérola em um pronunciamento: “Hoje é dia de homenagem à mulher. […] A mulher que tem o prazer de escolher a cor da unha que vai pintar. A mulher que tem o prazer de escolher os sapatos que vai calçar”.

A infelicidade dessas palavras é enorme, até porque a data desta semana foi criada para exaltar a capacidade das mulheres na vida corporativa, no empreendedorismo, na vida pública, além de seus direitos básicos como cidadãs. Ao registrar questões frívolas como cor da unha e sapatos, Aras reforça estereótipos e preconceitos que estão arraigados há muito na sociedade – exatamente aqueles que a Organização das Nações Unidos queria combater quando reconheceu o 8 de março como o Dia Internacional da Mulher em 1977.

O presidente Jair Bolsonaro, no mesmo dia, não ficou muito atrás. Disse que as mulheres estão “praticamente integradas à sociedade”.

Essas manifestações lembram um comentário do presidente da Fiesp entre 1986 e 1992, Mario Amato. Falando sobre a então ministra do Trabalho, Dorothéa Weneck, afirmou que ela “era muito inteligente, apesar de ser mulher”. A frase, dita em tom de brincadeira, ganhou os jornais e foi condenada por muitos, provocando um pedido público de desculpas por parte de Amato.

Naquela época, havia apenas uma mulher na diretoria da Fiesp – Miriam Lee, da Molas Sueden, uma espécie de ícone do empresariado feminino da década. Curiosamente, mais de 30 anos depois, a entidade empresarial mais poderosa do país apenas dobrou o número de representantes femininas em seu quadro diretor. Hoje, fazem parte do comando da instituição Mariana Falcão Dalla Vecchia, da indústria alimentícia Mr. Veggy, e Silvia Ribeiro de Aquino, da metalúrgica Onix.

Essa escassez de mulheres deve-se ao fato que as chapas que concorrem à Fiesp precisam possuir presidentes de sindicatos patronais. Neste quesito, as mulheres ainda estão muito atrás dos homens e precisam reverter essa situação. Afinal, um tipo de maioria masculina tão esmagadora não traz a necessária oxigenação de ideias para os tempos atuais.

Para contrabalançar este desequilíbrio, a Fiesp criou o Conselho Superior Feminino, composto por 43 mulheres – entre as quais, as empresárias Chieko Aoki, Sonia Hess e Cláudia Angélica Martinez.

As mulheres estão fazendo a sua parte para combater o machismo. Mas essa batalha faz parte de uma guerra maior, contra a discriminação e a intolerância. E, para vencer este conflito, é preciso da ajuda dos homens. O apoio masculino é importante para eliminar de vez excrecências como a misoginia.

Lembremos: até 1962, as mulheres casadas precisavam de autorização escrita de seu marido para trabalhar. Isso parece um absurdo nos dias de hoje, mas era algo visto com total naturalidade no início dos anos 1960, uma vez que o Código Civil de 1916 estabelecia essa norma. O mesmo código, aliás, também exigia autorização escrita do marido caso uma mulher casada quisesse abrir conta em um banco ou abrir um estabelecimento comercial. Viajar sozinha? Também só com permissão do cônjuge.

Tudo isso, visto pelos olhos de hoje, parece absurdo, espúrio e inaceitável. Quem sabe, daqui a sessenta anos, os cronistas da época vão registrar, com espanto e inconformismo, que em 2022 um deputado estadual postou um áudio em grupo de amigos dizendo que as ucranianas “eram fáceis porque eram pobres”. Se, no futuro, houver o mesmo estranhamento que temos hoje ao enxergar o que parecia ser normal em 1962, é porque essa batalha, finalmente, terá sido vencida.