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A classe média na vota na personalidade de um candidato

O eleitorado americano está frustrado com o cenário atual e prefere apostar em nomes que prometem mudanças significativas

Former US President and Republican presidential candidate Donald Trump speaks during an election night event at the West Palm Beach Convention Center in West Palm Beach, Florida, on November 6, 2024. Republican former president Donald Trump closed in on a new term in the White House early November 6, 2024, just needing a handful of electoral votes to defeat Democratic Vice President Kamala Harris. (Photo by Jim WATSON / AFP) (Jim WATSON/AFP)

Publicado em 6 de novembro de 2024 às 16h44.

A mais que provável vitória de Donald Trump na eleição americana mostra um país dividido politicamente, com uma metade republicana e a outra democrata (pelo menos no voto popular, sem contar os delegados do Colégio Eleitoral). O fiel desta balança foi a classe média que se viu prejudicada pela decadência econômica dos Estados Unidos nos últimos anos. Em 2020, essa insatisfação elegeu o democrata Joe Biden. Quatro anos depois, no entanto, deve derrotar a vice-presidente Kamala Harris.

Essa classe média descontente não se importa com a personalidade do candidato, desde que ele represente uma esperança de mudança. Foi assim com o próprio Donald Trump em 2016, em uma tendência que se repete em 2024. Pode-se dizer que esse fenômeno ocorre por aqui também, com a vitória de Jair Bolsonaro em 2018 e sua votação expressiva em 2022. O resultado surpreendente de Pablo Marçal na eleição de São Paulo também é uma indicação de que a classe média quer mudança e não se importa se o proponente possui uma personalidade agressiva ou politicamente incorreta.

Recentemente, Simon Johnson, professor do Massachusetts Institute of Technology e vencedor do prêmio Nobel, associou a necessidade de mudança à insatisfação do eleitorado. “Nossos resultados econômicos para a classe média têm sido muito decepcionantes ao longo dos últimos 40 anos, por causa da automação, da globalização e do declínio do comércio. Depois, tivemos a grande crise financeira de 2008. Há um sentimento de frustração em muitas partes do país, que foram deixadas para trás pelas elites”, disse Johnson.

Trata-se de um contingente de eleitores movido também pelo ressentimento e busca, através do voto, reconquistar algo que foi perdido no passado – mesmo que esses indivíduos sejam jovens e não tenham vivido um cenário melhor anos atrás. Não é à toa, portanto, que o slogan de Trump seja relacionado aos tempos gloriosos de outrora (“Make America great again”). Isso não quer dizer, evidentemente, que todos os eleitores do republicano sejam ressentidos — apenas uma parcela dessa classe média frustrada.

Trump está prestes a obter uma vitória inquestionável (pelas regras eleitorais dos EUA), conquistando ainda uma maioria republicana do Congresso. E poderá colocar em prática o discurso anti-imigração que tanto pregou durante a campanha. A ideia de que os imigrantes ilegais estariam tirando empregos dos latinos e dos negros acabou fortalecendo o republicano junto a esses grupos e foi fundamental para a vitória.

No entanto, a opinião pública é implacável e volátil. Um dos grandes propulsores da onda oposicionista nos EUA foi justamente o aumento da inflação. Trump terá de segurar a espiral inflacionária rapidamente. Caso contrário, poderá ver sua popularidade cair rapidamente.

Muitos bolsonaristas estão esperançosos com a vitória de Trump, vendo no presidente eleito uma esperança para coibir o que enxergam como exageros do Judiciário brasileiro – e também um personagem poderoso para pressionar a favor de uma anistia à inelegibilidade do ex-presidente.

Ocorre que Trump tem muito a fazer e talvez não coloque o Brasil em suas prioridades. Aliás, quando Bolsonaro foi presidente, o republicano não fez muito esforço para ajudar o amigo conservador. Ele se dará ao trabalho de arregaçar as mangas e pressionar o governo brasileiro? A conferir.

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A mais que provável vitória de Donald Trump na eleição americana mostra um país dividido politicamente, com uma metade republicana e a outra democrata (pelo menos no voto popular, sem contar os delegados do Colégio Eleitoral). O fiel desta balança foi a classe média que se viu prejudicada pela decadência econômica dos Estados Unidos nos últimos anos. Em 2020, essa insatisfação elegeu o democrata Joe Biden. Quatro anos depois, no entanto, deve derrotar a vice-presidente Kamala Harris.

Essa classe média descontente não se importa com a personalidade do candidato, desde que ele represente uma esperança de mudança. Foi assim com o próprio Donald Trump em 2016, em uma tendência que se repete em 2024. Pode-se dizer que esse fenômeno ocorre por aqui também, com a vitória de Jair Bolsonaro em 2018 e sua votação expressiva em 2022. O resultado surpreendente de Pablo Marçal na eleição de São Paulo também é uma indicação de que a classe média quer mudança e não se importa se o proponente possui uma personalidade agressiva ou politicamente incorreta.

Recentemente, Simon Johnson, professor do Massachusetts Institute of Technology e vencedor do prêmio Nobel, associou a necessidade de mudança à insatisfação do eleitorado. “Nossos resultados econômicos para a classe média têm sido muito decepcionantes ao longo dos últimos 40 anos, por causa da automação, da globalização e do declínio do comércio. Depois, tivemos a grande crise financeira de 2008. Há um sentimento de frustração em muitas partes do país, que foram deixadas para trás pelas elites”, disse Johnson.

Trata-se de um contingente de eleitores movido também pelo ressentimento e busca, através do voto, reconquistar algo que foi perdido no passado – mesmo que esses indivíduos sejam jovens e não tenham vivido um cenário melhor anos atrás. Não é à toa, portanto, que o slogan de Trump seja relacionado aos tempos gloriosos de outrora (“Make America great again”). Isso não quer dizer, evidentemente, que todos os eleitores do republicano sejam ressentidos — apenas uma parcela dessa classe média frustrada.

Trump está prestes a obter uma vitória inquestionável (pelas regras eleitorais dos EUA), conquistando ainda uma maioria republicana do Congresso. E poderá colocar em prática o discurso anti-imigração que tanto pregou durante a campanha. A ideia de que os imigrantes ilegais estariam tirando empregos dos latinos e dos negros acabou fortalecendo o republicano junto a esses grupos e foi fundamental para a vitória.

No entanto, a opinião pública é implacável e volátil. Um dos grandes propulsores da onda oposicionista nos EUA foi justamente o aumento da inflação. Trump terá de segurar a espiral inflacionária rapidamente. Caso contrário, poderá ver sua popularidade cair rapidamente.

Muitos bolsonaristas estão esperançosos com a vitória de Trump, vendo no presidente eleito uma esperança para coibir o que enxergam como exageros do Judiciário brasileiro – e também um personagem poderoso para pressionar a favor de uma anistia à inelegibilidade do ex-presidente.

Ocorre que Trump tem muito a fazer e talvez não coloque o Brasil em suas prioridades. Aliás, quando Bolsonaro foi presidente, o republicano não fez muito esforço para ajudar o amigo conservador. Ele se dará ao trabalho de arregaçar as mangas e pressionar o governo brasileiro? A conferir.

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