A classe média na vota na personalidade de um candidato
O eleitorado americano está frustrado com o cenário atual e prefere apostar em nomes que prometem mudanças significativas
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Publicado em 6 de novembro de 2024 às 16h44.
A mais que provável vitória de Donald Trump na eleição americana mostra um país dividido politicamente, com uma metade republicana e a outra democrata (pelo menos no voto popular, sem contar os delegados do Colégio Eleitoral). O fiel desta balança foi a classe média que se viu prejudicada pela decadência econômica dos Estados Unidos nos últimos anos. Em 2020, essa insatisfação elegeu o democrata Joe Biden. Quatro anos depois, no entanto, deve derrotar a vice-presidente Kamala Harris.
Essa classe média descontente não se importa com a personalidade do candidato, desde que ele represente uma esperança de mudança. Foi assim com o próprio Donald Trump em 2016, em uma tendência que se repete em 2024. Pode-se dizer que esse fenômeno ocorre por aqui também, com a vitória de Jair Bolsonaro em 2018 e sua votação expressiva em 2022. O resultado surpreendente de Pablo Marçal na eleição de São Paulo também é uma indicação de que a classe média quer mudança e não se importa se o proponente possui uma personalidade agressiva ou politicamente incorreta.
Recentemente, Simon Johnson, professor do Massachusetts Institute of Technology e vencedor do prêmio Nobel, associou a necessidade de mudança à insatisfação do eleitorado. “Nossos resultados econômicos para a classe média têm sido muito decepcionantes ao longo dos últimos 40 anos, por causa da automação, da globalização e do declínio do comércio. Depois, tivemos a grande crise financeira de 2008. Há um sentimento de frustração em muitas partes do país, que foram deixadas para trás pelas elites”, disse Johnson.
Trata-se de um contingente de eleitores movido também pelo ressentimento e busca, através do voto, reconquistar algo que foi perdido no passado – mesmo que esses indivíduos sejam jovens e não tenham vivido um cenário melhor anos atrás. Não é à toa, portanto, que o slogan de Trump seja relacionado aos tempos gloriosos de outrora (“Make America great again”). Isso não quer dizer, evidentemente, que todos os eleitores do republicano sejam ressentidos — apenas uma parcela dessa classe média frustrada.
Trump está prestes a obter uma vitória inquestionável (pelas regras eleitorais dos EUA), conquistando ainda uma maioria republicana do Congresso. E poderá colocar em prática o discurso anti-imigração que tanto pregou durante a campanha. A ideia de que os imigrantes ilegais estariam tirando empregos dos latinos e dos negros acabou fortalecendo o republicano junto a esses grupos e foi fundamental para a vitória.
No entanto, a opinião pública é implacável e volátil. Um dos grandes propulsores da onda oposicionista nos EUA foi justamente o aumento da inflação. Trump terá de segurar a espiral inflacionária rapidamente. Caso contrário, poderá ver sua popularidade cair rapidamente.
Muitos bolsonaristas estão esperançosos com a vitória de Trump, vendo no presidente eleito uma esperança para coibir o que enxergam como exageros do Judiciário brasileiro – e também um personagem poderoso para pressionar a favor de uma anistia à inelegibilidade do ex-presidente.
Ocorre que Trump tem muito a fazer e talvez não coloque o Brasil em suas prioridades. Aliás, quando Bolsonaro foi presidente, o republicano não fez muito esforço para ajudar o amigo conservador. Ele se dará ao trabalho de arregaçar as mangas e pressionar o governo brasileiro? A conferir.
A mais que provável vitória de Donald Trump na eleição americana mostra um país dividido politicamente, com uma metade republicana e a outra democrata (pelo menos no voto popular, sem contar os delegados do Colégio Eleitoral). O fiel desta balança foi a classe média que se viu prejudicada pela decadência econômica dos Estados Unidos nos últimos anos. Em 2020, essa insatisfação elegeu o democrata Joe Biden. Quatro anos depois, no entanto, deve derrotar a vice-presidente Kamala Harris.
Essa classe média descontente não se importa com a personalidade do candidato, desde que ele represente uma esperança de mudança. Foi assim com o próprio Donald Trump em 2016, em uma tendência que se repete em 2024. Pode-se dizer que esse fenômeno ocorre por aqui também, com a vitória de Jair Bolsonaro em 2018 e sua votação expressiva em 2022. O resultado surpreendente de Pablo Marçal na eleição de São Paulo também é uma indicação de que a classe média quer mudança e não se importa se o proponente possui uma personalidade agressiva ou politicamente incorreta.
Recentemente, Simon Johnson, professor do Massachusetts Institute of Technology e vencedor do prêmio Nobel, associou a necessidade de mudança à insatisfação do eleitorado. “Nossos resultados econômicos para a classe média têm sido muito decepcionantes ao longo dos últimos 40 anos, por causa da automação, da globalização e do declínio do comércio. Depois, tivemos a grande crise financeira de 2008. Há um sentimento de frustração em muitas partes do país, que foram deixadas para trás pelas elites”, disse Johnson.
Trata-se de um contingente de eleitores movido também pelo ressentimento e busca, através do voto, reconquistar algo que foi perdido no passado – mesmo que esses indivíduos sejam jovens e não tenham vivido um cenário melhor anos atrás. Não é à toa, portanto, que o slogan de Trump seja relacionado aos tempos gloriosos de outrora (“Make America great again”). Isso não quer dizer, evidentemente, que todos os eleitores do republicano sejam ressentidos — apenas uma parcela dessa classe média frustrada.
Trump está prestes a obter uma vitória inquestionável (pelas regras eleitorais dos EUA), conquistando ainda uma maioria republicana do Congresso. E poderá colocar em prática o discurso anti-imigração que tanto pregou durante a campanha. A ideia de que os imigrantes ilegais estariam tirando empregos dos latinos e dos negros acabou fortalecendo o republicano junto a esses grupos e foi fundamental para a vitória.
No entanto, a opinião pública é implacável e volátil. Um dos grandes propulsores da onda oposicionista nos EUA foi justamente o aumento da inflação. Trump terá de segurar a espiral inflacionária rapidamente. Caso contrário, poderá ver sua popularidade cair rapidamente.
Muitos bolsonaristas estão esperançosos com a vitória de Trump, vendo no presidente eleito uma esperança para coibir o que enxergam como exageros do Judiciário brasileiro – e também um personagem poderoso para pressionar a favor de uma anistia à inelegibilidade do ex-presidente.
Ocorre que Trump tem muito a fazer e talvez não coloque o Brasil em suas prioridades. Aliás, quando Bolsonaro foi presidente, o republicano não fez muito esforço para ajudar o amigo conservador. Ele se dará ao trabalho de arregaçar as mangas e pressionar o governo brasileiro? A conferir.