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Um terceiro mandato de Lula seria uma monarquia piorada

Excelente artigo de Paulo Rabello de Castro na revista Época desta semana fala sobre o continuísmo proposto através de PPD na semana passada, e sobre o que o fim da alternância no poder pode significar para o Brasil: A exótica ideia de uma monarquia disfarçada Um terceiro mandato de Lula seria uma monarquia piorada, que roubaria a confiança no Brasil Com 176 assinaturas de parlamentares, o deputado Jackson Barreto (PMDB-SE) […] Leia mais

DR

Da Redação

Publicado em 15 de junho de 2009 às 23h51.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 13h32.

Excelente artigo de Paulo Rabello de Castro na revista Época desta semana fala sobre o continuísmo proposto através de PPD na semana passada, e sobre o que o fim da alternância no poder pode significar para o Brasil:

A exótica ideia de uma monarquia disfarçada

Um terceiro mandato de Lula seria uma monarquia piorada, que roubaria a confiança no Brasil

Com 176 assinaturas de parlamentares, o deputado Jackson Barreto (PMDB-SE) conseguiu emplacar, na semana passada, a recepção de sua Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que autoriza a re-reeleição de presidente, governadores e prefeitos. Prefiro chamá-la como ela é: a “PEC da Monarquia”. A PEC que autoriza o terceiro mandato para administradores eleitos é, no fundo, a PEC dos saudosistas de um rei.

O monarquista valoriza a figura de um único líder, daí a “mono-arquia” (governo de um só). Entretanto, nenhum monarquista moderno defenderia tal concentração de mando. Vários brasileiros ilustres que levantam a bandeira da monarquia defendem também o sistema parlamentarista. Lembro-me, entre tantos monarquistas de alto gabarito, de Mario Henrique Simonsen, professor e ministro, só por ser esta uma coluna de economia. Com bons argumentos, defendia ele a restauração da monarquia no Brasil, por entendê-la parlamentarista por excelência e acreditar que ela nos daria maior identidade política como nação e mais seriedade e unidade de propósitos numa agenda nacional permanente, que ainda não temos! Os interessados podem procurar Plebiscito: como votarei? (José Olympio, 1993).

A tese monarquista foi amplamente derrotada pelo voto popular no plebiscito de 1993. Naquele momento, o povo abraçara as ideias da República (o sistema de “todos os cidadãos”) e do Presidencialismo (um líder diretamente escolhido pelo povo) como forma de governo. Naquela altura, a Constituição Federal nem previa a reeleição de presidente, que só se tornou vigente com a emenda pela qual a atual oposição permitiu a reeleição de FHC em 1998.

A mim, a atual “PEC da Monarquia” parece um modo sutil de retornarmos ao passado, aos tempos da pataca e de Dom João Charuto. O presidente Lula foi eleito com a legitimidade de quem emerge por mérito puro e chega republicanamente ao poder. Ninguém encarna melhor a democracia republicana que Lula. Foi, aliás, o caso de George Washington, a quem muitos queriam proclamar rei dos Estados Unidos. O presidente Washington foi para casa após o segundo mandato, recusando a coroa e a perpetuação no cargo. Conceda-se: Lula tem a biografia, a maturidade e o perfil, até fisionômico, de um rei à brasileira. Melhor seria proclamá-lo nosso rei que elegê-lo para ficar um terceiro mandato. Pelo menos, Lula seria um monarca com direito a ter Parlamento e primeiro-ministro. Mas será disso que o país precisa?

Se a ideia do “rei Lula” soa um tanto exótica, não menos ridícula é a proposta de um reizinho temporário, que se perpetua num terceiro, num quarto e num quinto mandatos! O ridículo, nesse caso, decorre da mímica do que não é. Pois uma coisa é querermos ter um rei, como têm o Reino Unido, o Japão, a Noruega, a Suécia e outros grandes países, com sua história e sua coroa. Outra coisa, bem diferente, é enrolar a república numa monarquia disfarçada, de mandatos sucessivos da mesma pessoa, com sua imensa corte de áulicos e aspones. A essência do modelo constitucional brasileiro é o oposto: a alternância como meio de oxigenar o poder e mitigar as chances da corrupção e da safadeza infinitas.

Após oito anos num cargo, qualquer político já deu o melhor de si e cumpriu sua missão. Veja George Washington. A alternância no poder também favorece a estabilidade e o crescimento baseado na concorrência. A legitimidade institucional não é só a lei votada, mas sobretudo o bom senso nela contido. Não é por outro motivo que a autocracia chinesa, de partido único, é percebida como um “risco político”. Com seu desempenho econômico extraordinário, se a China fosse uma democracia efetiva, o dólar já estaria mais perto de ser desbancado pelo iuane como moeda de reserva internacional. Entre nós, o terceiro mandato seria a monarquia disfarçada e piorada. “Lula 3” roubaria parte dos enormes ganhos de confiança institucional no Brasil que o próprio Lula nos proporcionou. É a cara de seriedade do país que está em jogo.

Excelente artigo de Paulo Rabello de Castro na revista Época desta semana fala sobre o continuísmo proposto através de PPD na semana passada, e sobre o que o fim da alternância no poder pode significar para o Brasil:

A exótica ideia de uma monarquia disfarçada

Um terceiro mandato de Lula seria uma monarquia piorada, que roubaria a confiança no Brasil

Com 176 assinaturas de parlamentares, o deputado Jackson Barreto (PMDB-SE) conseguiu emplacar, na semana passada, a recepção de sua Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que autoriza a re-reeleição de presidente, governadores e prefeitos. Prefiro chamá-la como ela é: a “PEC da Monarquia”. A PEC que autoriza o terceiro mandato para administradores eleitos é, no fundo, a PEC dos saudosistas de um rei.

O monarquista valoriza a figura de um único líder, daí a “mono-arquia” (governo de um só). Entretanto, nenhum monarquista moderno defenderia tal concentração de mando. Vários brasileiros ilustres que levantam a bandeira da monarquia defendem também o sistema parlamentarista. Lembro-me, entre tantos monarquistas de alto gabarito, de Mario Henrique Simonsen, professor e ministro, só por ser esta uma coluna de economia. Com bons argumentos, defendia ele a restauração da monarquia no Brasil, por entendê-la parlamentarista por excelência e acreditar que ela nos daria maior identidade política como nação e mais seriedade e unidade de propósitos numa agenda nacional permanente, que ainda não temos! Os interessados podem procurar Plebiscito: como votarei? (José Olympio, 1993).

A tese monarquista foi amplamente derrotada pelo voto popular no plebiscito de 1993. Naquele momento, o povo abraçara as ideias da República (o sistema de “todos os cidadãos”) e do Presidencialismo (um líder diretamente escolhido pelo povo) como forma de governo. Naquela altura, a Constituição Federal nem previa a reeleição de presidente, que só se tornou vigente com a emenda pela qual a atual oposição permitiu a reeleição de FHC em 1998.

A mim, a atual “PEC da Monarquia” parece um modo sutil de retornarmos ao passado, aos tempos da pataca e de Dom João Charuto. O presidente Lula foi eleito com a legitimidade de quem emerge por mérito puro e chega republicanamente ao poder. Ninguém encarna melhor a democracia republicana que Lula. Foi, aliás, o caso de George Washington, a quem muitos queriam proclamar rei dos Estados Unidos. O presidente Washington foi para casa após o segundo mandato, recusando a coroa e a perpetuação no cargo. Conceda-se: Lula tem a biografia, a maturidade e o perfil, até fisionômico, de um rei à brasileira. Melhor seria proclamá-lo nosso rei que elegê-lo para ficar um terceiro mandato. Pelo menos, Lula seria um monarca com direito a ter Parlamento e primeiro-ministro. Mas será disso que o país precisa?

Se a ideia do “rei Lula” soa um tanto exótica, não menos ridícula é a proposta de um reizinho temporário, que se perpetua num terceiro, num quarto e num quinto mandatos! O ridículo, nesse caso, decorre da mímica do que não é. Pois uma coisa é querermos ter um rei, como têm o Reino Unido, o Japão, a Noruega, a Suécia e outros grandes países, com sua história e sua coroa. Outra coisa, bem diferente, é enrolar a república numa monarquia disfarçada, de mandatos sucessivos da mesma pessoa, com sua imensa corte de áulicos e aspones. A essência do modelo constitucional brasileiro é o oposto: a alternância como meio de oxigenar o poder e mitigar as chances da corrupção e da safadeza infinitas.

Após oito anos num cargo, qualquer político já deu o melhor de si e cumpriu sua missão. Veja George Washington. A alternância no poder também favorece a estabilidade e o crescimento baseado na concorrência. A legitimidade institucional não é só a lei votada, mas sobretudo o bom senso nela contido. Não é por outro motivo que a autocracia chinesa, de partido único, é percebida como um “risco político”. Com seu desempenho econômico extraordinário, se a China fosse uma democracia efetiva, o dólar já estaria mais perto de ser desbancado pelo iuane como moeda de reserva internacional. Entre nós, o terceiro mandato seria a monarquia disfarçada e piorada. “Lula 3” roubaria parte dos enormes ganhos de confiança institucional no Brasil que o próprio Lula nos proporcionou. É a cara de seriedade do país que está em jogo.

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