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Prosperidade na Amazônia: quando o desenvolvimento encontra a diversidade cultural e biológica

O desenvolvimento da produção é muito relevante para a prosperidade local, mas deve ser acompanhada de modelos de negócios sustentáveis

Amazônia (Andre Deak/Flickr)
Amazônia (Andre Deak/Flickr)

Nos dias 8 e 9 de agosto acontecerá em Belém do Pará a Cúpula da Amazônia, que reúne chefes de Estados de oito países integrantes da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA): Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. O objetivo é retomar os laços entre os órgãos dos governos e sociedade civil destes países em prol de um compromisso de desenvolvimento sustentável da Amazônia.

Entre os grandes temas estão o combate ao desmatamento, a crimes ambientais e a atividades ilícitas, considerados desafios comuns entre os países. Embora as propostas atuais indiquem avanços de políticas públicas pró-sustentabilidade regional, o Brasil tem uma posição fragilizada neste evento. Os problemas internos, como marco temporal e o caso dos Yanomamis, por exemplo, não favorecem as tratativas de segurança das áreas fronteiriças e a relação com a destruição dos direitos fundamentais.

Resolver os grandes temas são desafios fundamentais para impulsionar investimentos e desenvolvimento regional. No entanto, criar prosperidade e bem-estar também advêm da criação de modelos econômicos modernos de desenvolvimento. A pauta dos anos 1970, durante a ditadura militar, trouxe a infraestrutura (estradas, hidroelétricas e energia) e a mineração como principais caminhos econômicos para uma época cuja preocupação era ocupação territorial. Na dinâmica do século XXI, prosperidade é construída pelo bem-estar social de múltiplos stakeholders, entre eles sociedade e o meio ambiente. Os modelos tradicionais de negócios podem não ser a melhor solução para contemplar tamanha pluralidade. Ainda que infraestrutura e mineração possam ser desejáveis, é preciso que se reinventem.

O agronegócio, setor que recebeu diversas críticas relacionadas ao desmatamento, apresenta sua contribuição via Embrapa. A empresa tem contribuído com essa agenda para superar desafios históricos e construir soluções em prol da prosperidade regional. O plano estratégico para trabalhar a bioeconomia é pautado na socio-biodiversidade local, sendo a base de conhecimento tradicional, científico e tecnológico. No âmbito das cooperações, as áreas de aquicultura, ações de capacitação e compartilhamento de tecnologias ganham relevância. Quanto às cadeias produtivas, que podem ser objeto de cooperação com outros países, destacam-se os produtos da socio-biodiversidade e espécies nativas, tais como, açaí, castanha da Amazônia, cupuaçu, guaraná e mel; piscicultura, fruticultura e espécies florestais.

O desenvolvimento da produção é muito relevante para a prosperidade local, mas deve ser acompanhada de modelos de negócios sustentáveis, cuja coordenação pode acontecer por distintas cadeias produtivas e não apenas a produção de alimentos. O exemplo da Natura é um modelo de coordenação e cooperação que trabalha com a socio-biodiversidade brasileira na indústria de cosméticos. A marca valoriza as propriedades dos produtos amazônicos, principalmente, e trabalha com coordenação de comunidades locais para compra de produtos de forma responsável.

Além de produtos locais, a Amazônia é fonte de amplo conhecimento, ainda pouco explorado e difundido, que pode ser aproveitado em cadeias cosméticas, farmacêuticas e alimentícias. A fusão entre conhecimento tradicional, ciência e tecnologia pode abrir avenidas de desenvolvimento e prosperidade sustentáveis para uma região a tanto tempo marginalizada.

*Fernanda K. Lemos é pesquisadora associada na Universidade de York e pesquisadora visitante no Insper (Metricis/IAG). Doutora em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo (FEA/USP).