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Monetização de impacto: a avalição de custo-efetividade de um projeto

Análise possibilita criar indicadores de efetividade sem a necessidade de monetizar os benefícios gerados

É preciso continuar estimulando a inovação financeira e a competição, como o próprio Banco Central vem fazendo nos últimos anos  (Artur Debat/Getty Images)
É preciso continuar estimulando a inovação financeira e a competição, como o próprio Banco Central vem fazendo nos últimos anos (Artur Debat/Getty Images)
I
Impacto Social

Publicado em 1 de março de 2022 às, 09h00.

Por Jorge Ikawa* e Octavio Augusto de Barros**

Recentemente o Insper Metricis publicou, em parceria com a GK Ventures, um guia sobre monetização de impacto social. Entre as abordagens apresentadas no documento está a Análise de Custo-Efetividade (CE), uma técnica amplamente utilizada na elaboração de indicadores de projetos socioambientais que é particularmente adequada para situações nas quais o impacto promovido é de difícil conversão em valores monetários.

Para ilustração, considere, por exemplo, um programa na área da saúde que procure oferecer suporte a pacientes internados na rede pública. Neste caso, a iniciativa possui um objetivo bastante claro: recuperar a saúde de pessoas internadas. Apesar disso, a conversão desse benefício em reais tende a ser bastante complexa, envolvendo até mesmo questões de cunho moral, tais como a valoração de uma vida (aqui você encontra referências sobre como esse cálculo pode ser feito). Em situações como essa, a análise de CE possibilita criar indicadores de efetividade sem a necessidade de monetizar os benefícios gerados.

Para gerar medidas de efetividade de um projeto, a abordagem utiliza-se do impacto (calculado em termos não monetários) gerado pela iniciativa e do custo total investido (em reais). Note que as métricas não necessitam estar na mesma unidade de medida. No exemplo descrito acima, bastaria coletar o valor exato dispendido para a realização da política e o número de pacientes recuperados a cada mês. A partir dessas informações, seria estimada a relação entre o volume de pacientes recuperados e o valor total investido para gerar uma medida de gasto por paciente recuperado. Esse seria o indicador de custo-efetividade e poderia ser acompanhado ao longo do tempo para embasar possíveis tomadas de decisão.

Imagine que, no exemplo considerado, o custo total para implementação do programa seja de R$ 100.000,00 e o número de pacientes reestabelecidos seja 60. Na ausência da intervenção, apenas 10 pacientes seriam recuperados. Nesse caso, o resultado da intervenção é dado pela diferença entre esses dois valores (60 menos 10 pacientes), totalizando 50 pacientes adicionais recuperados. Assim, a razão CE do programa será dada pela divisão dos R$ 100.000,00 de custo pelo resultado de 50 pacientes reestabelecidos, ou seja, R$ 2.000,00 por paciente recuperado. Esse valor poderia então ser utilizado para comparar diferentes programas voltados à área da saúde e auxiliar um gestor no processo de decisão sobre quais ações deveriam ser priorizadas sob o ponto de vista de efetividade.

Como o valor dos benefícios não é monetizado, a comparação de projetos utilizando a abordagem de CE deve ser restrita a intervenções com objetivos similares e resultados comparáveis. Por exemplo, não se pode comparar um projeto de educação avaliando o custo por aluno a um programa de saúde avaliando o custo por paciente recuperado. Outras técnicas de monetização a serem discutidas em publicações posteriores permitirão esse paralelo. Até breve!

*Jorge Ikawa é doutor em Economia dos Negócios pelo Insper, bacharel em Economia pela FEARP-USP e formado em Jornalismo pela ECA-USP.

**Octavio Augusto de Barros é doutorando em Economia dos Negócios pelo Insper. É graduado em Economia pela FGV-SP e mestre em Estratégia Empresarial pela mesma instituição. Atua como pesquisador nas áreas de Avaliação de Impacto Socioambiental e Estratégia Organizacional.