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Gerar progresso social é a melhor forma para o município da Amazônia atrair investimentos

Como prefeituras da região enfrentam o baixo orçamento, problemas logísticos e a desigualdade para melhorar a qualidade de vida da população

Agroextrativismo: novos modelos econômicos ajudam pequenos produtores na Amazônia e geram desenvolvimento social com proteção ambiental (Leandro Fonseca/Exame)
Agroextrativismo: novos modelos econômicos ajudam pequenos produtores na Amazônia e geram desenvolvimento social com proteção ambiental (Leandro Fonseca/Exame)

Gerir um município na Amazônia Legal é uma tarefa árdua. A combinação de desafios orçamentários, problemas logísticos e condições de vida historicamente baixas torna a administração pública nessa região uma missão complexa. As prefeituras lidam diariamente com a escassez de recursos financeiros, a dificuldade de acesso a diversas áreas devido à geografia complicada e a necessidade de superar profundas desigualdades sociais. No entanto, é exatamente nesse cenário desafiador que algumas administrações municipais têm encontrado maneiras inovadoras de melhorar a qualidade de vida de suas populações.

Um dos instrumentos fundamentais para essa transformação é o Índice de Progresso Social (IPS), que mede o bem-estar de uma população de maneira abrangente, indo além de indicadores tradicionais, como IDH e PIB. O IPS avalia o progresso social de uma região com base em três dimensões principais: Necessidades Humanas Básicas, Fundamentos do Bem-Estar e Oportunidades. Ao oferecer uma visão holística do desenvolvimento, o IPS permite que os gestores públicos identifiquem áreas críticas que necessitam de atenção e desenvolvam estratégias eficazes para promover melhorias reais na qualidade de vida.

Por exemplo, ao utilizar o IPS, um município pode identificar se a segurança é uma área crítica que precisa de mais investimentos. Outro município pode descobrir que, apesar de ter um bom desempenho em educação, carece de infraestrutura básica de saneamento. Esse tipo de insight é fundamental para uma gestão pública eficiente e direcionada, que pode, com base em dados concretos, alocar melhor seus recursos escassos e enfrentar os desafios de forma mais estratégica.

Saúde e educação

Água Azul do Norte, município localizado no estado do Pará, exemplifica bem estes casos. O município enfrenta diversos desafios relacionados à infraestrutura e desenvolvimento econômico. Fundado em 1988, possui uma vasta área e uma população que, segundo estimativas recentes, gira em torno de 18,5 mil habitantes. Aproximadamente 60% da população é rural e muitos moradores se encontram a até 130 quilômetros distantes da sede do município. Como muitos municípios da Amazônia, Água Azul do Norte enfrenta dificuldades significativas relacionadas à infraestrutura de transporte. Estradas de terra que se tornam intransitáveis durante a estação chuvosa complicam a mobilidade e o escoamento da produção agrícola.

A carência de serviços básicos, como saneamento, abastecimento de água potável e acesso a energia elétrica de qualidade, também são obstáculos contínuos para o desenvolvimento de Água Azul do Norte, afetando principalmente a área da saúde. Ainda assim, o município é um dos 30 melhores da Amazônia Legal no quesito Saúde e Bem-estar, com uma nota de 92,6 do IPS.

Wanderley Milhomem, secretário de Saúde de Água Azul do Norte, contou que o município decidiu olhar para os seus indicadores e atacar os problemas de frente, o que em pouco tempo revolucionou a saúde da região. O município que tinha cinco equipes de saúde que atendiam metade da população, triplicou o número de equipes e passou a levar o atendimento para 16 mil habitantes. Com uma estratégia de saúde preventiva estenderam o atendimento nos postos de saúde, mas apostam sobretudo em levar a saúde até os moradores com uma forte campanha de vacinação. “Como eu vou dispor de uma equipe de saúde se eu não conheço a população? Eu preciso saber como eles estão, saber o que comem, se estudam, isso faz toda a diferença e o IPS é uma ferramenta que me permite olhar para isso”, afirmou.

Já Arari é um município localizado no estado do Maranhão, com uma população estimada em cerca de 30 mil habitantes. A educação em Arari, assim como em muitas outras regiões do país, é um pilar fundamental para o desenvolvimento social e econômico, mas enfrenta diversos obstáculos que precisam ser superados. O município é o 39º em “Acesso ao Conhecimento Básico”, com uma nota de 87. Apesar do tamanho, também se destaca na educação superior, onde conseguiu ficar entre as 75 melhores pontuações da Amazônia Legal.

Segundo Joelma Braga, técnica da secretaria de Educação de Arari, para melhorar a educação do município, mais de 20 escolas foram reformadas, deixando de ser apenas barracões e ganhando melhores condições, porém, a verdadeira revolução veio na formação continuada dos professores e na criação de indicadores e metas municipais para elevar a aprendizagem em matemática e português. “Diminuir as salas multiseriadas e aumentar o transporte escolar não são gastos, são investimentos”, concluiu.

Na última semana, o IPS Amazônia, com o apoio do projeto Amazônia 2030, Centro de Empreendedorismo da Amazônia, Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, Social Progress Imperative e Vale, reuniu 35 municípios da Amazônia Legal em São Luís, no Maranhão, para compartilhar experiências e apresentar soluções para melhorar a qualidade de vida nestes territórios. O principal objetivo foi mostrar que o progresso social implica na criação de uma sociedade onde todos os indivíduos têm a chance de alcançar seu pleno potencial, vivendo com dignidade, segurança e oportunidades.