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Eleições Americanas 2020: a mais longa das noites

Os EUA terão uma eleição histórica em termos de números de votos pelo correio em função da pandemia

Estima-se que 90 a 100 milhões de eleitores votarão pelo correio no pleito americano (Andrew Kelly/Reuters)
JR

Janaína Ribeiro

Publicado em 18 de setembro de 2020 às 15h58.

O Mais Longo dos Dias (The Longest Day) de 1962 é, ainda hoje, um dos filmes de guerra mais importantes de todos os tempos. A produção norte-americana dirigida por Ken Annakin, Andrew Marton e Bernhard Wicki, conta a história do maior ataque que o mundo já viu, acontecido no dia 6 de junho que ficou conhecido como o Dia D e desbancou o domínio nazista na Europa. A ofensiva, que envolveu mais de 3 milhões de homens, foi uma das mais ousadas e sangrentas estratégias militares da era moderna e marcou o início do fim da Segunda Guerra Mundial. Muitos imaginam que dia 03.11.2020 será o dia D para conhecermos o presidente eleito dos Estados Unidos. Parem de imaginar. Provavelmente não será. E os motivos seguem surgindo no compasso de uma invasão militar.

Primeiro, teremos uma eleição histórica em termos de números de votos pelo correio em função da pandemia . Estima-se que 90 a 100 milhões de eleitores votarão pelo correio no pleito americano (na eleição nacional brasileira em 2018 votaram aproximadamente 107 milhões de pessoas). Um recorde de proporções incomparáveis. Atualmente especula-se muito se os correios terão capacidade de lidar com esse volume de entregas nesse curto espaço de tempo. Inúmeras reclamações de falta de recursos circulam por diversos estados americanos. Enquanto isso, republicanos (leia-se Trump) questionam a legitimidade do voto pelo correio e democratas lutam por mais recursos para os correios. A pesquisa exclusiva Exame/IDEIA realizada nacionalmente nos Estados Unidos apontou que o candidato Joe Biden supera Donald Trump por mais de 20 pontos percentuais entre os eleitores que dizem querer votar pelo correio.

Para complicar esse processo, cada estado americano apura os votos pelo correio de uma maneira diferente (o sistema eleitoral é estadual e totalmente descentralizado). Alguns estados contam os votos pelo correio conforme vão chegando e outros somente iniciam a contagem somente após o dia da votação. O Michigan, por exemplo, é um desses. Uma outra pesquisa exclusiva Exame/IDEIA realizada especificamente no Michigan mostrou que o candidato democrata tem 58% das intenções de voto contra 37% de Trump entre os votantes pelo correio. Lembrando que Hillary Clinton perdeu o Michigan em 2016 por aproximadamente 11 mil votos. Não será surpresa se o Michigan não tiver o resultado final na noite da eleição. Ou pior, se tiver Donald Trump liderando (e declarando vitória) sem que todos os votos tenham sido contados.

Na Flórida, a pesquisa Exame/IDEIA mostra um empate técnico entre as duas candidaturas: (Biden 48% x Trump 47%). Todavia, o atual presidente lidera entre os que pretendem votar presencialmente (49% contra 45% do democrata) e perde por 58% a 35% entre os que desejam votar pelo correio. As últimas eleições presidenciais na Flórida sempre trouxeram margens ínfimas de diferença (menos de 2 pontos percentuais). Ou seja, um cenário total imprevisível e complexo pelo contingente de votos esperados não presenciais.  Em 2000, o estado foi palco de uma disputa jurídica para recontagem dos votos entre os então candidatos Al Gore (Democrata) e George W. Bush (Republicano). A briga foi parar na Suprema Corte dos Estados Unidos e no final, sem recontagem de votos, Bush foi eleito com 537 votos de diferença na Flórida.

Portanto, a eleição de 2020 tem grande potencial de produzir uma pandemia de Flóridas 2000. As pesquisas apontam para margens percentuais estreitas entre os dois candidatos (nos estados-chave), um elevado contingente de votos pelo correio (em todo o país) e uma polarização que alimenta a fome de batalhas jurídicas intermináveis. A chance de termos um vencedor incontestável na noite de 03.11 é cada vez mais remota, o que vai torná-la a “a mais longa das noites” e talvez produzir a maior guerra jurídico-eleitoral da história.

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O Mais Longo dos Dias (The Longest Day) de 1962 é, ainda hoje, um dos filmes de guerra mais importantes de todos os tempos. A produção norte-americana dirigida por Ken Annakin, Andrew Marton e Bernhard Wicki, conta a história do maior ataque que o mundo já viu, acontecido no dia 6 de junho que ficou conhecido como o Dia D e desbancou o domínio nazista na Europa. A ofensiva, que envolveu mais de 3 milhões de homens, foi uma das mais ousadas e sangrentas estratégias militares da era moderna e marcou o início do fim da Segunda Guerra Mundial. Muitos imaginam que dia 03.11.2020 será o dia D para conhecermos o presidente eleito dos Estados Unidos. Parem de imaginar. Provavelmente não será. E os motivos seguem surgindo no compasso de uma invasão militar.

Primeiro, teremos uma eleição histórica em termos de números de votos pelo correio em função da pandemia . Estima-se que 90 a 100 milhões de eleitores votarão pelo correio no pleito americano (na eleição nacional brasileira em 2018 votaram aproximadamente 107 milhões de pessoas). Um recorde de proporções incomparáveis. Atualmente especula-se muito se os correios terão capacidade de lidar com esse volume de entregas nesse curto espaço de tempo. Inúmeras reclamações de falta de recursos circulam por diversos estados americanos. Enquanto isso, republicanos (leia-se Trump) questionam a legitimidade do voto pelo correio e democratas lutam por mais recursos para os correios. A pesquisa exclusiva Exame/IDEIA realizada nacionalmente nos Estados Unidos apontou que o candidato Joe Biden supera Donald Trump por mais de 20 pontos percentuais entre os eleitores que dizem querer votar pelo correio.

Para complicar esse processo, cada estado americano apura os votos pelo correio de uma maneira diferente (o sistema eleitoral é estadual e totalmente descentralizado). Alguns estados contam os votos pelo correio conforme vão chegando e outros somente iniciam a contagem somente após o dia da votação. O Michigan, por exemplo, é um desses. Uma outra pesquisa exclusiva Exame/IDEIA realizada especificamente no Michigan mostrou que o candidato democrata tem 58% das intenções de voto contra 37% de Trump entre os votantes pelo correio. Lembrando que Hillary Clinton perdeu o Michigan em 2016 por aproximadamente 11 mil votos. Não será surpresa se o Michigan não tiver o resultado final na noite da eleição. Ou pior, se tiver Donald Trump liderando (e declarando vitória) sem que todos os votos tenham sido contados.

Na Flórida, a pesquisa Exame/IDEIA mostra um empate técnico entre as duas candidaturas: (Biden 48% x Trump 47%). Todavia, o atual presidente lidera entre os que pretendem votar presencialmente (49% contra 45% do democrata) e perde por 58% a 35% entre os que desejam votar pelo correio. As últimas eleições presidenciais na Flórida sempre trouxeram margens ínfimas de diferença (menos de 2 pontos percentuais). Ou seja, um cenário total imprevisível e complexo pelo contingente de votos esperados não presenciais.  Em 2000, o estado foi palco de uma disputa jurídica para recontagem dos votos entre os então candidatos Al Gore (Democrata) e George W. Bush (Republicano). A briga foi parar na Suprema Corte dos Estados Unidos e no final, sem recontagem de votos, Bush foi eleito com 537 votos de diferença na Flórida.

Portanto, a eleição de 2020 tem grande potencial de produzir uma pandemia de Flóridas 2000. As pesquisas apontam para margens percentuais estreitas entre os dois candidatos (nos estados-chave), um elevado contingente de votos pelo correio (em todo o país) e uma polarização que alimenta a fome de batalhas jurídicas intermináveis. A chance de termos um vencedor incontestável na noite de 03.11 é cada vez mais remota, o que vai torná-la a “a mais longa das noites” e talvez produzir a maior guerra jurídico-eleitoral da história.

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