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Sobre inovação, propósito e ESG

Na coluna desta semana, conheça a história de Priscila Vansetti, membro do board da Suzano

Priscila Vansett, membro do board da Suzano (Foto Priscila Vansett/Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 24 de fevereiro de 2023 às 15h17.

Por Fabiana Monteiro

Nasci na cidade de Araras, região produtora de cana-de-açúcar do interior de São Paulo, sou a primogênita entre três irmãs, e engenheira agrônoma formada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) da Universidade de São Paulo, de Piracicaba. Também me especializei em Gestão Executiva e Liderança Estratégica Global pela Wharton School da Universidade da Pensilvânia. Assim que conclui a faculdade, fui contratada pelo Departamento Agrícola da DuPont do Brasil em São Paulo. Posso dizer que minha carreira tem sido incrível, com oportunidades de crescimento e desafios constantes. Minha trajetória pontuada por experiências diversas como liderança de negócios no Canadá e na América Latina, de times globais em áreas de Estratégia, Pesquisa e Desenvolvimento nos Estados Unidos e América Latina, e projetos de crescimento na China, na Índia, Leste Europeu e Brasil.

Vivo nos Estados Unidos desde 1996, quando me mudei para Wilmington, no estado de Delaware, e atualmente na cidade de Indianópolis (Estado de Indiana), sou casada com Roberto, um ex-colega da faculdade, e tenho um filho, Victor. Atualmente trabalho na Corteva Agriscience, um spin-off da DowDuPont, na área de Estratégia, liderando a equipe global de business development, desenvolvendo novos negócios, e expandindo a atuação da empresa em novos mercados e em segmentos globais.  A Corteva é uma das maiores empresas de inovação em Agricultura, desenvolvendo soluções de proteção de cultivos e sementes, servindo agricultores em mais de 140 países, e contribuindo para produção sustentável de alimentos.

Após desempenhar uma sucessão de papéis de liderança a frente das áreas de Pesquisa e Desenvolvimento, Planejamento, Projetos, nos Estados Unidos, em 2008, fui transferida para o Canadá, assumindo a posição de Diretora de Negócios da DuPont local, em que fiquei por cinco anos. Em 2015, retornei a São Paulo, como Presidente da DuPont Brasil e Vice-Presidente Regional de Negócios de Proteção de Cultivos para a América Latina, quando também comecei minha trajetória como conselheira na Suzano.

De volta aos Estados Unidos, em 2017, assumi, também, os conselhos do International Center, entidade sem fim lucrativo, cuja missão é atrair novos negócios e talentos para a globalização de Indiana e do Inter-American Dialogue, um think tank baseado em Washington, que busca desenvolver soluções para desafios nas áreas de educação, de clima, de governança e estreitar colaboração entre América Latina, Estados Unidos e Canadá.

A chegada ao conselho da Suzano

Eu cheguei à DuPont por causa de um anúncio de jornal, em 1981 e, em 1996, fui transferida para a cidade de Wilmington, no Estado de Delaware (EUA). Depois de ter vindo para cá e a experiência no Canadá, trabalhado em diversas áreas e projetos, em 2015 surgiu uma oportunidade muito especial para mim. O presidente da DuPont no Brasil decidiu se aposentar e recebi um telefonema dizendo: “Gostaríamos que você fosse para o Brasil, para ocupar a Presidência da DuPont local e, ao mesmo tempo, a Vice-Presidência do segmento agrícola” que era o maior negócio do grupo na época.

Voei para São Paulo e, obviamente, na posição em que me encontrava, atuando como líder do negócio agrícola no país e na América Latina, refiz todo o meu network, pois já estava há mais de 20 anos fora do País. Comecei a participar de diversos grupos de CEOs, de empresas americanas, e fui participar do conselho da Câmara Americana de Comércio (Amcham). Lá conheci outras pessoas e, por meio de algumas delas, meu nome chegou até David Feffer que me convidou para me juntar ao conselho desta empresa. Consultei a DuPont, recebi a aprovação, e comecei em 2016. Hoje, estou, também, no Comitê de Estratégia Inovação e no Comitê de Sustentabilidade da Suzano.

Desde que me juntei ao Conselho da Suzano, tenho tido o privilégio de ver de perto uma transformação incrível da empresa. São impressionantes a sua capacidade de expansão, a consolidação da fusão com a Fibria em 2019, e a diversificação além da celulose e do papel, com entrada em novos negócios como bens de consumo, embalagens, bio materiais como lignina, fibras têxteis, bio óleo e muitos outros segmentos, através de produtos produzidos a partir do eucalipto. Além disso, todos podemos sentir e ver o protagonismo e a liderança que a Suzano têm assumido nas áreas sociais, de governança, de clima e meio ambiente, de diversidade, dentre outros.

O lugar para se levantar áreas de vulnerabilidades e de oportunidades

Um dos papéis do conselho é desafiar a estratégia, e assegurar que as escolhas das avenidas estratégicas e de investimentos levem ao crescimento, ao fortalecimento, à lucratividade e o aumento do valor da empresa. Os últimos anos nos mostraram o impacto de cenários como a pandemia, as mudanças climáticas, e a dinâmica geopolítica, por exemplo, que destruíram valor de muitas empresas, e ao mesmo tempo proporcionaram oportunidades de crescimento e de novos negócios para outras. Conselhos compostos por membros de diferentes formações, áreas de negócio e experiências podem ajudar a desenvolver cenários possíveis e assegurar que as estratégias sejam robustas. Trabalhar o dia a dia é o papel do executivo, mas cabe ao conselho ajudar a empresa a levantar áreas de vulnerabilidade ou de oportunidade que precisam ser consideradas.

O conselho também exerce o papel de oversight, assegurando aos acionistas a governança adequada, com gerenciamento e implementação de boas práticas, como o gerenciamento de risco. Como conselheira, meu grande desafio é não ficar só na zona de conforto, e constantemente aprender e expandir meu conhecimento sobre os negócios da Suzano, seus mercados de atuação, atuais e futuros, concorrentes, parcerias, cadeias de valor etc. Minha formação técnica e experiencia facilitam meu entendimento da silvicultura, tecnologias e inovações desenvolvidas pela área de Pesquisa e Tecnologia da Suzano. Para que eu continue a ser relevante e que contribua de forma efetiva para o conselho e a empresa, trago a minha experiência internacional, de mercado, de desenvolvimento de novos negócios, e o meu aprendizado como gestora e líder de times globais, a minha familiaridade com processos de fabricação, com práticas de segurança, risco etc., para enriquecer diálogo, questionamento, discussão e tomadas de decisão. Além disso é importante como conselheira que eu continue aprendendo, inclusive com os demais colegas do conselho e dos comitês, com executivos e com o mercado.

Há uma correlação entre diversidade e resultados

Partamos do princípio de que diversidade é importante em qualquer fórum. Para empresas e conselhos de modo geral, diversidade tem a ver com inovação. É das múltiplas diferenças que surgem ideias diferentes. Não é à toa que existe uma correlação bastante interessante entre os resultados financeiros e a diversidade nas empresas. De forma geral, diversidade tem que começar no conselho, pois este é o maior órgão de governança. Mas, diversidade não só de gênero, mas de todos os tipos, incluindo raça, background, experiências obviamente. Essa prática traz para dentro das empresas pessoas com vivências diversas, que geralmente resultam em uma posição mais robusta do conselho para enfrentar determinados desafios, promover uma discussão considerando diferentes perspectivas e pontos de vista na tomada de decisão.

A diversidade deve estar no rol de metas da empresa, pois é um imperativo de negócio. É um caminho sem volta. Fui a primeira mulher a graduar em primeiro lugar em Engenharia Agronômica na história da ESALQ, a primeira mulher Engenheira Agrônoma a ser contratada pela DuPont do Brasil, a primeira mulher a assumir a Presidência da DuPont do Brasil, e a primeira mulher no conselho da Suzano. Vejo, hoje, que o progresso tem sido enorme, mas a jornada ainda continua. Ainda temos muito o que avançar. Há uma real oportunidade para a mudança e acho interessantíssimo como a sociedade “acordou”, e realmente está “tomando as rédeas” para encurtar ainda mais esse percurso. Hoje, somos três mulheres no conselho da Suzano, Ana Paula Pessoa, Gabriela Feffer Moll e eu, e ocupamos 33% dos nove assentos do conselho.

Conheça o negócio como um todo

Comecei minha trajetória como conselheira Suzano em um momento muito importante, quando se deu a aquisição da Fibria. Coincidentemente, eu vivia internamente um processo parecido, com a fusão da DuPont com a Dow, então, foi bastante interessante a oportunidade de aprender e ao mesmo tempo oferecer um pouco de minha experiência, no sentido de como trabalhar para formar uma nova cultura de duas culturas diferentes, como definir o novo propósito, a integração de pessoas, entre outros.

Para quem está começando, eu diria que é preciso fazer uma integração ( onboarding ) bem-feita. No meu caso, a Suzano realmente “abriu as portas”. Eu dizia, por exemplo, “gostaria de visitar a fábrica de Limeira, para conhecer a produção de lignina”, ou “gostaria de conhecer o trabalho de inovação na área de biotecnologia da Futuragene em Itapetininga”, e esses pedidos eram atendidos prontamente. Minhas visitas às fabricas, aos laboratórios, ao campo, e às minhas interações com executivos e a organização de forma geral, têm sido extremamente valiosas para mim. Logo que se entra em um conselho, é preciso ter curiosidade, buscar aprender ao máximo sobre a empresa, entender o funcionamento, a cultura, e as diversas áreas da empresa.

É igualmente importante aprender sobre o mercado, os concorrentes, os aspectos geopolíticos que possam impactar sobre a companhia, enfim, conhecer o negócio como um todo. Quanto mais rápido você fizer isso, mais rápido poderá começar a contribuir de forma relevante. Em preparação às reuniões ou durante elas questionar, escutar de executivos, colegas do conselho. Meu aprendizado tem sido contínuo.

Sobre inovação, propósito e ESG

Inovação deve se manifestar através de uma cultura que permeia toda a empresa. Muitas companhias com uma cultura de inovação têm tremenda vantagem em relação àquelas que não têm. Felizmente, eu cresci na DuPont, e vivo, hoje, na Corteva Agriscience, empresas que têm na inovação à sua vantagem competitiva. A inovação não está apenas nas “mãos” de um grupo de cientistas ou de pessoas de P&D. É algo maior. Todo mundo pode inovar em um processo no backoffice, no serviço aos clientes, nas fábricas e nos laboratórios. Mas todos precisamos ter licença para errar, porque das muitas ideias nem todas irão se transformar em produtos e gerar lucro. Mas essa cultura é importante e pode ser manifestada por qualquer um, de qualquer nível, mesmo em empresas que já têm seus negócios estabelecidos. É preciso estar sempre tentando se reinventar e se renovar. Isso requer o que na Suzano chamamos de “ambidestria”, o foco no negócio core e, ao mesmo tempo, trabalhar para diversificar, inovar e transformar o negócio para criação de valor.

Outro ponto importante é o propósito, que é algo maior que uma “frase descolada”. É um entendimento de como atuar e de como contribuir para fazer deste mundo um lugar melhor para todos. Ele tem a função primeira de unificar toda a organização. Cada vez mais, eu diria, colaboradores, stakeholders, clientes e fornecedores querem estar associados a quem tem valores que se identificam com os seus próprios. A cada geração que passa, muitas pessoas escolhem as empresas com base no que ela se dispõe a fazer e o seu papel na sociedade, na comunidade e na melhoria do mundo em diversos aspectos. O propósito dá a direção, e é realmente a razão de existir da empresa.

Agora vivemos a Era do ESG. Caminhamos em uma direção em que as empresas que não aderirem aos critérios ESG, obviamente, serão penalizadas. Aquelas que não estão alinhadas em estabelecer suas metas, em seguir os princípios, provavelmente estarão do lado “errado” da história, e terão seus valores reduzidos no mercado e dificuldade em atrair talentos. “A régua continua subindo”. Um exemplo disso, foi quando algumas empresas começaram a estabelecer metas de carbono zero apenas para 2050 ou 2060. Enquanto outras decidiram encarar a situação de uma forma mais séria e urgente, estipularam metas intermediárias e prazos mais curtos. Ou seja, “elevaram a régua”. Isso é importantíssimo para o planeta, para a sociedade. E, como no caso de diversidade que é um caminho sem volta e extremamente positivo.

Olhem para a diversidade

Para concluir, quero apenas destacar que diversidade gera inovação, robustez de estratégia, melhores resultados. Mais recentemente, nossos conselhos têm percebido que existe um contingente de talentos enorme que ainda não têm representação substancial nestes órgãos. Digo que esse grupo pode oferecer uma contribuição importante em termos de perspectivas, de ideias e de pensamentos diferentes.

Muitas mulheres que conheço adorariam uma oportunidade como essa e elas têm muito a contribuir. Então, eu diria: “Conselhos, abram seus olhos! Abram suas portas!”. Olhem para a diversidade, pois existe muita gente boa, mulheres incríveis, líderes nas mais diversas áreas, com habilidades e capacidade que podem fazer a diferença dentro de um conselho.

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Por Fabiana Monteiro

Nasci na cidade de Araras, região produtora de cana-de-açúcar do interior de São Paulo, sou a primogênita entre três irmãs, e engenheira agrônoma formada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) da Universidade de São Paulo, de Piracicaba. Também me especializei em Gestão Executiva e Liderança Estratégica Global pela Wharton School da Universidade da Pensilvânia. Assim que conclui a faculdade, fui contratada pelo Departamento Agrícola da DuPont do Brasil em São Paulo. Posso dizer que minha carreira tem sido incrível, com oportunidades de crescimento e desafios constantes. Minha trajetória pontuada por experiências diversas como liderança de negócios no Canadá e na América Latina, de times globais em áreas de Estratégia, Pesquisa e Desenvolvimento nos Estados Unidos e América Latina, e projetos de crescimento na China, na Índia, Leste Europeu e Brasil.

Vivo nos Estados Unidos desde 1996, quando me mudei para Wilmington, no estado de Delaware, e atualmente na cidade de Indianópolis (Estado de Indiana), sou casada com Roberto, um ex-colega da faculdade, e tenho um filho, Victor. Atualmente trabalho na Corteva Agriscience, um spin-off da DowDuPont, na área de Estratégia, liderando a equipe global de business development, desenvolvendo novos negócios, e expandindo a atuação da empresa em novos mercados e em segmentos globais.  A Corteva é uma das maiores empresas de inovação em Agricultura, desenvolvendo soluções de proteção de cultivos e sementes, servindo agricultores em mais de 140 países, e contribuindo para produção sustentável de alimentos.

Após desempenhar uma sucessão de papéis de liderança a frente das áreas de Pesquisa e Desenvolvimento, Planejamento, Projetos, nos Estados Unidos, em 2008, fui transferida para o Canadá, assumindo a posição de Diretora de Negócios da DuPont local, em que fiquei por cinco anos. Em 2015, retornei a São Paulo, como Presidente da DuPont Brasil e Vice-Presidente Regional de Negócios de Proteção de Cultivos para a América Latina, quando também comecei minha trajetória como conselheira na Suzano.

De volta aos Estados Unidos, em 2017, assumi, também, os conselhos do International Center, entidade sem fim lucrativo, cuja missão é atrair novos negócios e talentos para a globalização de Indiana e do Inter-American Dialogue, um think tank baseado em Washington, que busca desenvolver soluções para desafios nas áreas de educação, de clima, de governança e estreitar colaboração entre América Latina, Estados Unidos e Canadá.

A chegada ao conselho da Suzano

Eu cheguei à DuPont por causa de um anúncio de jornal, em 1981 e, em 1996, fui transferida para a cidade de Wilmington, no Estado de Delaware (EUA). Depois de ter vindo para cá e a experiência no Canadá, trabalhado em diversas áreas e projetos, em 2015 surgiu uma oportunidade muito especial para mim. O presidente da DuPont no Brasil decidiu se aposentar e recebi um telefonema dizendo: “Gostaríamos que você fosse para o Brasil, para ocupar a Presidência da DuPont local e, ao mesmo tempo, a Vice-Presidência do segmento agrícola” que era o maior negócio do grupo na época.

Voei para São Paulo e, obviamente, na posição em que me encontrava, atuando como líder do negócio agrícola no país e na América Latina, refiz todo o meu network, pois já estava há mais de 20 anos fora do País. Comecei a participar de diversos grupos de CEOs, de empresas americanas, e fui participar do conselho da Câmara Americana de Comércio (Amcham). Lá conheci outras pessoas e, por meio de algumas delas, meu nome chegou até David Feffer que me convidou para me juntar ao conselho desta empresa. Consultei a DuPont, recebi a aprovação, e comecei em 2016. Hoje, estou, também, no Comitê de Estratégia Inovação e no Comitê de Sustentabilidade da Suzano.

Desde que me juntei ao Conselho da Suzano, tenho tido o privilégio de ver de perto uma transformação incrível da empresa. São impressionantes a sua capacidade de expansão, a consolidação da fusão com a Fibria em 2019, e a diversificação além da celulose e do papel, com entrada em novos negócios como bens de consumo, embalagens, bio materiais como lignina, fibras têxteis, bio óleo e muitos outros segmentos, através de produtos produzidos a partir do eucalipto. Além disso, todos podemos sentir e ver o protagonismo e a liderança que a Suzano têm assumido nas áreas sociais, de governança, de clima e meio ambiente, de diversidade, dentre outros.

O lugar para se levantar áreas de vulnerabilidades e de oportunidades

Um dos papéis do conselho é desafiar a estratégia, e assegurar que as escolhas das avenidas estratégicas e de investimentos levem ao crescimento, ao fortalecimento, à lucratividade e o aumento do valor da empresa. Os últimos anos nos mostraram o impacto de cenários como a pandemia, as mudanças climáticas, e a dinâmica geopolítica, por exemplo, que destruíram valor de muitas empresas, e ao mesmo tempo proporcionaram oportunidades de crescimento e de novos negócios para outras. Conselhos compostos por membros de diferentes formações, áreas de negócio e experiências podem ajudar a desenvolver cenários possíveis e assegurar que as estratégias sejam robustas. Trabalhar o dia a dia é o papel do executivo, mas cabe ao conselho ajudar a empresa a levantar áreas de vulnerabilidade ou de oportunidade que precisam ser consideradas.

O conselho também exerce o papel de oversight, assegurando aos acionistas a governança adequada, com gerenciamento e implementação de boas práticas, como o gerenciamento de risco. Como conselheira, meu grande desafio é não ficar só na zona de conforto, e constantemente aprender e expandir meu conhecimento sobre os negócios da Suzano, seus mercados de atuação, atuais e futuros, concorrentes, parcerias, cadeias de valor etc. Minha formação técnica e experiencia facilitam meu entendimento da silvicultura, tecnologias e inovações desenvolvidas pela área de Pesquisa e Tecnologia da Suzano. Para que eu continue a ser relevante e que contribua de forma efetiva para o conselho e a empresa, trago a minha experiência internacional, de mercado, de desenvolvimento de novos negócios, e o meu aprendizado como gestora e líder de times globais, a minha familiaridade com processos de fabricação, com práticas de segurança, risco etc., para enriquecer diálogo, questionamento, discussão e tomadas de decisão. Além disso é importante como conselheira que eu continue aprendendo, inclusive com os demais colegas do conselho e dos comitês, com executivos e com o mercado.

Há uma correlação entre diversidade e resultados

Partamos do princípio de que diversidade é importante em qualquer fórum. Para empresas e conselhos de modo geral, diversidade tem a ver com inovação. É das múltiplas diferenças que surgem ideias diferentes. Não é à toa que existe uma correlação bastante interessante entre os resultados financeiros e a diversidade nas empresas. De forma geral, diversidade tem que começar no conselho, pois este é o maior órgão de governança. Mas, diversidade não só de gênero, mas de todos os tipos, incluindo raça, background, experiências obviamente. Essa prática traz para dentro das empresas pessoas com vivências diversas, que geralmente resultam em uma posição mais robusta do conselho para enfrentar determinados desafios, promover uma discussão considerando diferentes perspectivas e pontos de vista na tomada de decisão.

A diversidade deve estar no rol de metas da empresa, pois é um imperativo de negócio. É um caminho sem volta. Fui a primeira mulher a graduar em primeiro lugar em Engenharia Agronômica na história da ESALQ, a primeira mulher Engenheira Agrônoma a ser contratada pela DuPont do Brasil, a primeira mulher a assumir a Presidência da DuPont do Brasil, e a primeira mulher no conselho da Suzano. Vejo, hoje, que o progresso tem sido enorme, mas a jornada ainda continua. Ainda temos muito o que avançar. Há uma real oportunidade para a mudança e acho interessantíssimo como a sociedade “acordou”, e realmente está “tomando as rédeas” para encurtar ainda mais esse percurso. Hoje, somos três mulheres no conselho da Suzano, Ana Paula Pessoa, Gabriela Feffer Moll e eu, e ocupamos 33% dos nove assentos do conselho.

Conheça o negócio como um todo

Comecei minha trajetória como conselheira Suzano em um momento muito importante, quando se deu a aquisição da Fibria. Coincidentemente, eu vivia internamente um processo parecido, com a fusão da DuPont com a Dow, então, foi bastante interessante a oportunidade de aprender e ao mesmo tempo oferecer um pouco de minha experiência, no sentido de como trabalhar para formar uma nova cultura de duas culturas diferentes, como definir o novo propósito, a integração de pessoas, entre outros.

Para quem está começando, eu diria que é preciso fazer uma integração ( onboarding ) bem-feita. No meu caso, a Suzano realmente “abriu as portas”. Eu dizia, por exemplo, “gostaria de visitar a fábrica de Limeira, para conhecer a produção de lignina”, ou “gostaria de conhecer o trabalho de inovação na área de biotecnologia da Futuragene em Itapetininga”, e esses pedidos eram atendidos prontamente. Minhas visitas às fabricas, aos laboratórios, ao campo, e às minhas interações com executivos e a organização de forma geral, têm sido extremamente valiosas para mim. Logo que se entra em um conselho, é preciso ter curiosidade, buscar aprender ao máximo sobre a empresa, entender o funcionamento, a cultura, e as diversas áreas da empresa.

É igualmente importante aprender sobre o mercado, os concorrentes, os aspectos geopolíticos que possam impactar sobre a companhia, enfim, conhecer o negócio como um todo. Quanto mais rápido você fizer isso, mais rápido poderá começar a contribuir de forma relevante. Em preparação às reuniões ou durante elas questionar, escutar de executivos, colegas do conselho. Meu aprendizado tem sido contínuo.

Sobre inovação, propósito e ESG

Inovação deve se manifestar através de uma cultura que permeia toda a empresa. Muitas companhias com uma cultura de inovação têm tremenda vantagem em relação àquelas que não têm. Felizmente, eu cresci na DuPont, e vivo, hoje, na Corteva Agriscience, empresas que têm na inovação à sua vantagem competitiva. A inovação não está apenas nas “mãos” de um grupo de cientistas ou de pessoas de P&D. É algo maior. Todo mundo pode inovar em um processo no backoffice, no serviço aos clientes, nas fábricas e nos laboratórios. Mas todos precisamos ter licença para errar, porque das muitas ideias nem todas irão se transformar em produtos e gerar lucro. Mas essa cultura é importante e pode ser manifestada por qualquer um, de qualquer nível, mesmo em empresas que já têm seus negócios estabelecidos. É preciso estar sempre tentando se reinventar e se renovar. Isso requer o que na Suzano chamamos de “ambidestria”, o foco no negócio core e, ao mesmo tempo, trabalhar para diversificar, inovar e transformar o negócio para criação de valor.

Outro ponto importante é o propósito, que é algo maior que uma “frase descolada”. É um entendimento de como atuar e de como contribuir para fazer deste mundo um lugar melhor para todos. Ele tem a função primeira de unificar toda a organização. Cada vez mais, eu diria, colaboradores, stakeholders, clientes e fornecedores querem estar associados a quem tem valores que se identificam com os seus próprios. A cada geração que passa, muitas pessoas escolhem as empresas com base no que ela se dispõe a fazer e o seu papel na sociedade, na comunidade e na melhoria do mundo em diversos aspectos. O propósito dá a direção, e é realmente a razão de existir da empresa.

Agora vivemos a Era do ESG. Caminhamos em uma direção em que as empresas que não aderirem aos critérios ESG, obviamente, serão penalizadas. Aquelas que não estão alinhadas em estabelecer suas metas, em seguir os princípios, provavelmente estarão do lado “errado” da história, e terão seus valores reduzidos no mercado e dificuldade em atrair talentos. “A régua continua subindo”. Um exemplo disso, foi quando algumas empresas começaram a estabelecer metas de carbono zero apenas para 2050 ou 2060. Enquanto outras decidiram encarar a situação de uma forma mais séria e urgente, estipularam metas intermediárias e prazos mais curtos. Ou seja, “elevaram a régua”. Isso é importantíssimo para o planeta, para a sociedade. E, como no caso de diversidade que é um caminho sem volta e extremamente positivo.

Olhem para a diversidade

Para concluir, quero apenas destacar que diversidade gera inovação, robustez de estratégia, melhores resultados. Mais recentemente, nossos conselhos têm percebido que existe um contingente de talentos enorme que ainda não têm representação substancial nestes órgãos. Digo que esse grupo pode oferecer uma contribuição importante em termos de perspectivas, de ideias e de pensamentos diferentes.

Muitas mulheres que conheço adorariam uma oportunidade como essa e elas têm muito a contribuir. Então, eu diria: “Conselhos, abram seus olhos! Abram suas portas!”. Olhem para a diversidade, pois existe muita gente boa, mulheres incríveis, líderes nas mais diversas áreas, com habilidades e capacidade que podem fazer a diferença dentro de um conselho.

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