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O líder mais humano, colaborativo e acessível

Ingressei em uma área longe de ser a da minha preferência

Quando uma mulher ocupa um cargo de liderança, ela tem o papel de incentivar outras a crescerem e outras tantas a entrarem no mercado de trabalho (Giovana/Divulgação)
Quando uma mulher ocupa um cargo de liderança, ela tem o papel de incentivar outras a crescerem e outras tantas a entrarem no mercado de trabalho (Giovana/Divulgação)
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Histórias de sucesso

Publicado em 6 de novembro de 2021 às, 09h00.

Por:  Fabiana Monteiro

Giovana Pacini - Country Manager Brasil Merz Aesthetics Brasil

A carreira como executiva de marketing no setor de empresas farmacêuticas me acompanhou desde os meus primeiros passos: dentro de casa, contemplando a jornada atribulada e passional de meu pai, assim como a de minha mãe, responsável por tomar conta de uma grande família. Caçula de cinco irmãos, a única mulher entre eles, pude observar de perto a rotina de todos, algo que proporcionou aprendizados essenciais para alcançar as metas vislumbradas por mim ainda bastante jovem.

Paulistana, me amparei no ofício do meu pai Sérgio Pacini com olhos no futuro. Ele trabalhava com a indústria farmacêutica, no laboratório Grupo Billi, que se tornaria a renomada Eurofarma. O saudoso Galliano Billi estendeu os seus conhecimentos aos filhos e atualmente a companhia é comandada por um de seus herdeiros.

Desta época gosto de ressaltar como intensa era a vida de meu pai e como ficava surpresa com sua desenvoltura nos negócios. Era muito disposto, responsável por importações e exportações da Empresa. Eu ficava encantada em como ele pegava um avião pela manhã, tinha algum compromisso e voltava à noite. Na minha imaginação, ele deveria ser alguém muito importante e especial para poder fazer isso. Evidentemente, o mesmo não acontecia quando precisava se deslocar até a Europa, mas tal fato somente aguçava o meu desejo de explorar os seus desafios. Cresci ouvindo sobre nomes de insumos, medicamentos, matérias-primas, portanto, ainda criança, me encontrava inserida no ambiente.

Em meados da década de 1990, optei por prestar vestibular para Administração de Empresas e a instituição escolhida foi a PUC-SP, na qual vivenciei momentos marcantes, principalmente esboçando o início como profissional de marketing. Para tal, completei a minha formação em uma das faculdades mais conceituadas no campo, a ESPM, concluindo com sucesso o MBA. Muito em função dos contatos, estagiei na própria Eurofarma antes de ingressar na pós-graduação. Todavia, eu estava alocada no setor de importação e exportação, enquanto já tinha outras ambições em termos de carreira em mente.

O marketing farmacêutico como meta

Com mais maturidade, retornei ao Brasil decidida a trabalhar com marketing dentro do nicho farmacêutico. Ao mesmo tempo, eu queria entrar em um programa de trainee, pois sabia dos amplos investimentos, além da alta possibilidade de edificar uma carreira com padrões garantidos, através das grandes empresas com esses programas. Porém, me deparei somente com dois processos abertos, sendo um da Arthur Andersen e outro da Ericsson.

Ingressei em uma área longe de ser a da minha preferência. Na última etapa, precisávamos apresentar um case, e na plateia, estavam os heads dos diversos setores da companhia, que escolhiam quem ia trabalhar com eles. Fui recrutada por um head de tecnologia e informação. Nunca foi algo que estudei ou me identifiquei. Tratou-se de uma surpresa. Depois, ele me explicou que gostaria de humanizar esse setor da Ericsson, trabalhando com endomarketing, com pessoas. Durante um ano e meio me dediquei e foi muito bom, com investimento, treinamento e aprendizados. Após ser efetivada na empresa, migrei para outros campos da Ericsson.

Depois de um tempo percebi que minha predileção pelo mundo farmacêutico, no marketing, necessitava ser atendida e comecei a procurar por oportunidades. Foi um período muito desafiador e difícil, já que não possuía background. Normalmente, nesse setor, as instituições contratam pessoas experientes.

Perseverei e a primeira oportunidade surgiu na Farmalab Chiesi. O diretor perguntou sobre experiência e eu não tinha trabalhado com marketing farmacêutico. Simplesmente resolvi demonstrar força de vontade e de aprender. Bastou para ser contratada como assistente de marketing, passando depois ao posto de analista, promovida para a inteligência de mercado, para adquirir know-how analítico, dando suporte para três linhas de negócios: cardiovascular, respiratório e músculo esquelética. Nessa empresa, tive a certeza de que tinha me encontrado profissionalmente: realmente gostava do marketing em farmacêutica.

Como NÃO fazer gestão

Após pouco mais de quatro anos na Farmalab Chiesi, recebi uma oferta do laboratório Neo Química. Eles estavam começando uma nova unidade de negócio, com prescrições médicas e uma linha de beautycare, trazendo para o país uma marca francesa. Entrei para lançar essa linha de dermocosméticos e me deparei com uma série de obstáculos. Especialmente o “lado errado de gestão”. Eu estava subordinada a um gestor muito difícil – uma boa pessoa –, mas com um jeito bem particular; sofri muito na mão dele. Aprendi muito como o que não fazer com a equipe; um período muito importante para mim.

Tais fases de frustrações foram determinantes para o meu crescimento. A minha entrada no mercado farmacêutico demorou demais, justamente por não ter experiência no marketing desse setor, mas sempre pensei que ia conseguir. Era mais jovem, tinha outras ideias e achei que conseguiria com mais facilidade. Precisei insistir, sem desistir. E sempre procurei enxergar as coisas por um prisma mais positivo.

Esse gestor possuía problemas e passava isso para o time. Eu tinha muito medo, ficava acuada com as agressões verbais. Não tinha maturidade na época, não sabia ainda como contornar e me serviu muito de exemplo de como não fazer. Muitos anos depois, ele ficou doente e mandei recados desejando melhoras. Ele me respondeu e me pediu perdão por tudo o que havia feito.

Mesmo com as adversidades, me mantive firme e trabalhei nessa empresa com um dos primeiros produtos de beleza injetável. Estava começando esse movimento no Brasil, com a utilização do ácido hialurônico para preenchimento de rugas e marcas de expressão. Foi o meu primeiro cargo de gerência, uma conquista gigantesca – conseguir a vaga no marketing, virar gerente de produto, responsável pelo lançamento, vendas, contatos com os médicos.

Ascensão profissional e os desafios da Pandemia

Após aproximadamente dois anos na Neo Química, migrei para o laboratório Cristália, onde permaneci por quase três anos, também para trabalhar com produtos de beleza injetáveis. Foi outra escola. Entretanto, mirei nas multinacionais e assim fui contratada pela Galderma, para atuar no mesmo segmento. Durante cinco anos, exerci as funções de gerente de produtos, depois assumi a gerência de marketing, desenvolvendo e lançando novos produtos, trazendo muito inovação para esse mercado e, principalmente, aprendi a trabalhar com pessoas, lidando com erros e acertos.

Nesta fase, atravessei por uma mudança brusca de âmbito pessoal, pois enfim concretizei o sonho de engravidar e, ainda por cima, de gêmeos, um casal. Retornei ao trabalho como mãe, depois de um breve período dedicado somente à maternidade. Contudo, cerca de seis meses depois, em agosto de 2016, recebi uma proposta da Merz Aesthetics Brasil, para ser a Diretora de Marketing, um salto enorme.

Procurei compreender quais eram os valores da companhia e gostei muito da cultura, das oportunidades que vislumbrei e, principalmente, do que poderia realizar na empresa. Há cinco anos estou na Merz Aesthetics Brasil e nesse ínterim fui galgando colocações, como Diretora Latam, até assumir a filial do Brasil. Sou a responsável pela companhia, um enorme desafio, pois é o maior mercado da companhia aqui na América Latina, por conseguinte, o maior faturamento, em torno de 50%. Tudo se reflete em um processo de responsabilidade e realização – o que estamos conseguindo construir com as pessoas, os erros e acertos do dia a dia.

Os Estados Unidos representam 50% da Merz Aesthetics Brasil no mercado global, é o principal, um país com um nível de consumo incomparável. O Brasil está no top 5 de todos os nossos produtos. Estamos muito bem-posicionados no ranking. Durante a pandemia essa tendência se intensificou de forma exponencial em todos os países, mas o país passou por uma aceleração ainda maior. Nesses últimos meses nos tornamos ainda mais relevantes.

A pandemia, evidentemente, marca uma fase de extrema reflexão em toda a humanidade. Eu havia assumido o posto em janeiro de 2020, para ser a responsável pela empresa no Brasil, por todo o negócio. Quando comecei a entender um pouco mais das outras áreas, das dinâmicas, a crise sanitária chegou. Tive de tomar decisões rápidas, assertivas, o cuidado com as pessoas, o trabalho em casa, e o meu lado pessoal também influenciando. Meus filhos ficaram em homeschooling e ao mesmo tempo eu lidava com várias reuniões providenciais. Fora o medo com a família. Foi um momento de muita incerteza, com questões pertinentes à companhia, me adaptando ainda com essa nova função.

A importância do otimismo e da resiliência

Sempre falo para todo mundo aqui da empresa: É muito triste o que aconteceu e ainda está ocorrendo, a quantidade de pessoas que morreram, famílias que perderam entes queridos, amigos. Além disso, o cenário com a economia devastada; estamos sentindo os efeitos dessa situação sem precedentes.

Ao mesmo tempo, procuro olhar o copo meio cheio e nesse um ano e meio em que passei aqui crescemos muito em relação a comportamentos, atitudes. Compreendemos a importância das pessoas. Podemos ter os melhores planejamentos, estratégias e serviços, mas se os indivíduos não estiverem comprometidos – realmente engajados – entendendo o que tem de ser feito, felizes, conscientes de sua importância dentro de seus respectivos papéis na organização, não conseguimos gerenciar situações como a pandemia.

Além disso, ficou extremamente clara a importância da comunicação, da transparência. Por isso fiz questão de me manter muito próxima de todos, munindo-os de informações verdadeiras e pertinentes, procurando manter o melhor clima na empresa. E dividi o meu cotidiano particular nesse período.

Tenho o meu momento de ser somente mãe – adoro estar com as crianças – e gosto muito do meu escritório, de pensar o que vamos fazer de diferente, para surpreender os nossos clientes. Ser mãe e executiva não são funções fáceis; não são apenas coisas boas ou ruins. Existem percalços e desafios. Filho é uma preocupação para o resto da vida, ao mesmo tempo que é a melhor coisa do mundo. No trabalho vejo por esse mesmo prisma; se você faz o que gosta, o transforma em algo igualmente recompensador. O segredo é gostar do que se faz. Não é penoso para mim viajar a trabalho, da mesma forma que não me desgasta fazer a lição de casa com os meus filhos. É estar feliz com o que se está realizando.

Demorei muito para ter filhos, pensava que precisava primeiro me estabelecer na carreira. Quando decidi ainda quando estava na Galderma, e foi complicado. Havia o fator idade, estresse, etc. Quando engravidei, não tive medo de prejudicar a minha carreira, pois queria muito. Quando os gêmeos chegaram, passei por momento em que fiquei assustada em relação ao trabalho. Quando retornei, a empresa estava passando por uma reestruturação e fui para outro posto. Era um trabalho diferente e tive de me fortalecer.

Um pouco antes da pandemia, logo que eu assumi a presidência da Merz Aesthetics Brasil, eu tinha a ideia de realizar reuniões a cada três meses. E aí veio a crise e, para não desistir dessa iniciativa, passamos a fazer virtualmente. Chamávamos pessoas que haviam se destacado com suas atitudes e de acordo com os nossos valores. Me lembro que na primeira reunião meus filhos entraram na sala e eu não os escondi. Eu dividia tudo o que estava acontecendo na minha casa. Eu também atravessava momentos de medo e de incertezas, de ser tão humana quanto os outros. E o retorno era ótimo, pois as pessoas me viam como ser humano realmente igual a eles; com isso se sentiam cada vez mais a vontade de falar, dividir suas alegrias e medos e nossos laços de confiança só se fortaleceram. Até hoje, esses encontros acontecem e são sempre mágicos!

O líder mais humano e participativo

Embasada em tudo o que mencionei, vislumbro perspectivas alternativas no universo corporativo. O líder atual é uma pessoa ligada às pessoas. Óbvio que qualquer líder tem de entender do negócio, como vai entregar números, o resultado. Todavia, o líder que não se importa, não se coloca no lugar do outro, não conversa, não escuta; esse definitivamente não tem mais espaço. O gestor que coloca barreiras, que acredita ser autossuficiente, não serve mais. Na verdade, já é assim.

Esse momento de mudança, carente de flexibilidade, muitas vezes é compreendido com pessoas bem mais novas e que, portanto, estão em cargos abaixo de executivos. Muitos insights surgem quando observo os analistas daqui, quando eles colocam algum questionamento. Eles têm uma outra captação, efetivamente um outro olhar. Algo, não raro, imperceptível para os veteranos. Líderes que ainda pensam muito em hierarquia, em sempre fazer do mesmo jeito, não servem, perdeu o sentido contar com essa espécie de cooperação.

Essa é uma lição e missão para quem está começando. Os jovens devem sonhar alto, pensar grande. É muito mais prazeroso quando a gente tem um objetivo claro, quando sabemos o que queremos, e passamos a mobilizar toda a nossa energia, nosso esforço para alcançar aquilo. Cada conquista que temos nessa jornada é algo bastante positivo; a sensação de empoderamento é única, de realização, de que somos capazes, conseguimos passar por todos desafios e adversidades.

Quando se tem o foco claro do que se quer atingir e se trabalha firme para isso, com muito amor e perseverança, o resultado é certo e prazeroso. Há pouco tempo, aprendi o conceito de Insatisfação Positiva, que achei perfeito; me define muito e se eu pudesse dar um conselho seria esse: sejam insatisfeitos positivos. Claro que temos de celebrar as conquistas que temos e, ao mesmo tempo, nunca achar que já atingimos a perfeição ou que não precisamos buscar aperfeiçoar aquilo que já fazemos bem!

Promover a equidade de gênero no mercado de trabalho

Acredito que exemplos são peças-chaves nessa mudança que tanto precisamos. As mulheres precisam estar muito mais conectadas entre si e ter um mesmo objetivo em comum: diminuir a distância que ainda temos dos homens no mercado de trabalho e ter muita mais equidade nas condições profissionais.

Quando uma mulher ocupa um cargo de liderança, ela tem o papel de incentivar outras a crescerem e outras tantas a entrarem no mercado de trabalho. A educação é essencial nesse movimento. Quanto mais acesso à educação, mais consciente nos tornamos e mais iremos buscar nosso lugar, que deve ser disputado de igual para igual junto com os homens.

Eu procuro sempre encorajar a todas as mulheres a se dedicarem a algo, a ser independente financeiramente, e ao mesmo tempo, a ter uma família, filhos e se dedicarem a eles também. Podemos ser o que quisermos e é totalmente possível desempenharmos duas, três ou mais funções na nossa vida: basta termos a consciência da nossa capacidade e do nosso querer; exigir respeito por nossas escolhas e nos cercarmos de pessoas que comunguem desse mesmo pensamento. Quanto as que não concordam, não desistamos de convencê-las de que o gênero jamais deve ser fator decisivo na escolha de qualquer oportunidade profissional.

Autoconhecimento e equilíbrio

Durante toda a minha carreira até aqui, nunca tive um mentor formal, mas conto com duas pessoas que foram e são muito importantes para mim. Uma delas é o Frank Brandt Pollmann, meu antigo gestor aqui do Brasil.   Ele que me contratou; na época era o gerente geral da empresa e sempre teve uma postura muito aberta, franca, de falar o que considerava o que estava bom, ruim, no que poderia melhorar. Diretamente, sem melindres, às vezes com feedbacks duros, sem avisos prévios. Sempre para o meu desenvolvimento.

Hoje, vários de seus conselhos me inspiram a fazer igual. Procuro também falar de maneira espontânea. Muitas vezes podem ser coisas que as pessoas não querem escutar. E é importante ter esse direcionamento de alguém. Também fiz coaching com a Denise Lovisaro, também muito importante na minha jornada. Ela me ajudou a entender algumas dinâmicas que para mim eram um pouco difíceis de aceitar ou de assimilar.

Algumas outras iniciativas contribuíram para que me aprimorasse em prol de melhorias nos aspectos pessoais e profissionais. Comecei a praticar ioga durante a pandemia, três vezes por semana e amo! Me ajuda a manter a cabeça sã, equilibrada. Nos outros dois dias, eu me exercito com ginástica. Essas atividades são importantíssimas. Ginástica não é algo que eu ame fazer, mas no momento que termina sinto que fico melhor, mais energizada.

Além disso, outra maneira de auxiliar no crescimento e de relaxar é abrir espaço na agenda para a cultura. Estou lendo “Becoming (Minha História)”, da Michelle Obama e vou começar a reler o “Comece pelo porquê”, do Simon Sinek. Estamos montando um clube do livro aqui na Merz e essa foi a obra escolhida pelos gestores. Para arrematar, assisto séries para desestressar e descansar.

Gostaria de agradecer imensamente à minha família, pois sem eles jamais chegaria tão longe. Dedico esse relato aos meus pais Sérgio Pacini e Maria Angela Pacini, aos meus filhos Eduardo Pacini Bianco e Carolina Pacini Bianco, e ao meu marido Ricardo Faccioli Bianco.