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Mercado por elas: pesquisa revela relação entre ambientes machistas e burnout em mulheres

O burnout é um fenômeno multifatorial e a pesquisa conseguiu comprovar a relação direta entre causa e efeito

Mercado de trabalho: 7 em cada 10 mulheres afirmaram já terem sofrido assédio moral no trabalho em 2022 (Getty Images/Reprodução)
Mercado de trabalho: 7 em cada 10 mulheres afirmaram já terem sofrido assédio moral no trabalho em 2022 (Getty Images/Reprodução)

*Elisa Rosenthal  

O Índice Regional de Assimetrias foi criado em 2022 pro IPEFEM (Instituto de Pesquisas & Estudos do Feminino) com o objetivo de investigar a relação entre ambientes machistas e o surgimento do burnout em mulheres. Com 139 participantes na primeira edição de 2022, o resultado da pesquisa confirmou a hipótese: mulheres que trabalham em ambientes assimétricos em relação a gênero possuem até 67% mais chances de apresentarem quadros relacionados ao burnout do que mulheres que trabalham em ambientes mais equânimes.

O burnout é um fenômeno multifatorial e a pesquisa conseguiu comprovar a relação direta entre causa e efeito. Além disso, os depoimentos das 587 mulheres que participaram da pesquisa na segunda edição,em 2023, confirmaram que 9 em cada 10 já afirmaram terem sofrido comportamentos machistas pelo menos uma vez na vida, sendo "manterrupting" e "mansplaining" as atitudes mais comuns. A edição deste ano teve 67% das respondentes atuantes no setor imobiliário.

O dia 2 de maio foi instituído como o Dia de Combate ao Assédio Moral no Trabalho no Estado de São Paulo, e a pesquisa apontou que 7 em cada 10 mulheres afirmaram já terem sofrido assédio moral no trabalho em 2022, número que aumentou para quase 8 mulheres em 10 em 2023, considerando uma amostra quase 4 vezes maior.

O resultado endossa os dados que o Instituto Mulheres do Imobiliário apurou anteriormente, alertando para o altíssimo índice de assédio neste setor.

As motivações para o assédio vão desde a percepção pura e simples do gênero até questões estéticas e raciais.

Em 2023, a pesquisa apontou que 43% das mulheres sentem angústia em trabalhar o dia todo pelo menos uma vez ao mês. Para 62% das mulheres, a afirmação "o trabalho me deixa acabada" é uma realidade ao menos uma vez ao mês, sendo que para 31% essa sensação acontece pelo menos uma vez por semana. Além disso, 17% afirmam que foram perdendo o entusiasmo com o trabalho e relatam sentir isso todos os dias.

Embora a autoconfiança esteja em alta, com 54% das mulheres afirmando acreditar que são boas no que fazem, 72% afirmam que só querem trabalhar sem ninguém incomodando e os depoimentos relatam principalmente as atitudes de liderança relacionadas a cobranças indevidas e pedidos fora de contexto.

Liderança e saúde mental

Em relação à liderança, 42% das mulheres acredita que os líderes têm "alguma capacidade" de lidar com questões de saúde mental, 21% afirmam que os líderes têm "pouca capacidade" e 17% classificam a liderança com "nenhuma capacidade" para lidar com o tema, totalizando 80% que não confia plenamente no preparo das pessoas que estão à frente das organizações.

Segundo Ana Tomazelli, fundadora do Instituto de Pesquisa e Estudos Feministas (Ipefem), é necessário colocar dinheiro na mesa para impedir que a violência continue. Ela ressalta que, mesmo a OMS (Organização Mundial da Saúde) produzindo conhecimento para ajudar as empresas na atuação integrada com outros atores sociais, é necessário que o mercado privado assuma a responsabilidade nesse contexto.

Os depoimentos das participantes apontam que faltam mais mulheres na liderança com capacidade de decisão, investimentos em programas de formação de líderes.

Nesse sentido, a criação de grupos de apoio e de iniciativas para promover a equidade de gênero dentro das empresas pode ser um passo importante para combater o burnout e promover a saúde mental das trabalhadoras.

No entanto, ainda há muito a ser feito para garantir um ambiente de trabalho saudável e livre de assédio e violência. É preciso que as empresas assumam sua responsabilidade nessa questão e invistam em programas de formação de líderes, na promoção da equidade de gênero e na criação de políticas efetivas de prevenção e combate ao assédio moral e sexual.

Somente assim será possível criar um ambiente de trabalho mais justo, saudável e produtivo para todas as trabalhadoras, combatendo o burnout e promovendo a saúde mental e o bem-estar no ambiente de trabalho.

O tema será abordado no evento anual do Instituto Mulheres do Imobiliário que acontece neste mês nos dias 16 e 17 de maio. Saiba mais em www.mulheresdoimobiliario.com.br.

*Elisa Rosenthal  é idealizadora e diretora presidente do Instituto Mulheres do Imobiliário, com ampla experiência executiva no setor. LinkedIn Top Voices e TEDx Speaker. Autora dos livros: Proprietárias: a ascensão da liderança feminina no setor imobiliário e Degrau Quebrado: A jornada da autoliderança para mulheres em ascensão. Vencedora do prêmio A Voz Feminina do Mercado Imobiliário.