Certificações verdes não bastam para que o mercado imobiliário seja ESG
Na América Latina, Brasil e México lideram em número de edifícios certificados - mais de 1.500 e de 1.200 respectivamente
Redação Exame
Publicado em 29 de junho de 2023 às 14h07.
*por Luciana Arouca
Enquanto os conceitos de ESG avançam globalmente, mais mercados se desafiam a rever suas práticas para se alinharem a novos critérios. É o caso do mercado imobiliário. Centro de críticas por concentrar um alto volume de emissões de carbono na atmosfera, o real estate tem se movimentado, nos últimos anos, em direção a iniciativas que o tornem mais verde. Nesse sentido, as certificações de edifícios corporativos têm ganhado cada vez mais espaço por serem validadoras do compromisso de proprietários e investidores com a sustentabilidade.
Presente em mais de 160 países, o selo LEED (sigla do inglês Leadership in Energy and Environmental Design, isto é, Liderança em Energia e Design Ambiental) é um dos mais reconhecidos no segmento. Focada em avaliar itens como iluminação, ventilação, climatização, fontes de energia e aproveitamento da água, a certificação criada em 1993 pelo United States Green Building Council ampliou a sua relevância na validação de aspectos de sustentabilidade de um empreendimento. Na América Latina, Brasil e México lideram em número de edifícios certificados - mais de 1.500 e de 1.200 respectivamente.
Em paralelo, aumenta também o anseio pela certificação WELL, que tem como diferencial incluir critérios ligados à saúde, ao bem-estar e ao desempenho dos inquilinos dos edifícios, concentrando-se em como a ocupação e a rotina das pessoas se dão. Criado em 2014, o selo tem mais de 102 características descritivas e de desempenho a serem avaliadas. No Brasil, de acordo com dados do International WELL Building Institute (IWBI), há apenas 8 edifícios com essa chancela. Porém, atualmente, são mais de 70 empreendimentos aguardando auditoria para conquistarem o selo.
O crescente interesse nas certificações mostra que a sustentabilidade traz retornos de negócios. A transparência na divulgação dos dados das centenas de critérios avaliados dá segurança a proprietários e investidores na hora de atrair empresas que possuem políticas definidas de ocupação - muitas delas são multinacionais que contam com uma diretriz global. Isso vai diretamente ao encontro de questões relacionadas à governança - para ilustrar, a JLL tem como determinação interna que deverá ocupar somente edifícios LEED e WELL até o final de 2030 em todo o mundo.
Porém, por mais rigorosas que as certificações sejam, não são suficientes para abarcar de forma contundente o ESG. São parte do processo, mas, por si só, não bastam. É preciso um olhar holístico para as complexidades intrínsecas aos empreendimentos.
É comum que o pilar ambiental tenha mais notoriedade e que a governança seja beneficiada pelo atendimento às legislações e às regulações locais. Entretanto, se as organizações puderem abordar o 'S' (Social) ao lado do 'E' (Ambiental), haverá uma oportunidade única de fornecer retornos sustentáveis de longo prazo e ativos à prova de futuro, ao mesmo tempo em que produzem mudanças positivas duradouras para comunidades e cidades. O 'S' está ficando para trás do 'E' e a lacuna precisa ser fechada. Para a JLL, falar sobre valor social é falar sobre a criação de um impacto social positivo e duradouro ao longo do ciclo de vida do imóvel para cada parte interessada que interage com e dentro dos espaços.
As instalações corporativas são a representação física da marca e como as organizações interagem com as comunidades locais. Como você seleciona locais para priorizar o acesso a espaços verdes, natureza e biodiversidade? O bairro é acessível e de fácil acesso para os funcionários? Como você faz parceria com os proprietários para incorporar as prioridades ESG nos contratos de locação? Como as locações verdes podem apoiar as metas ESG? Como você pode melhorar a cultura e a inclusão em seu espaço de trabalho físico? Quais aprendizados locais e oportunidades de treinamento você pode oferecer para promover um maior envolvimento da comunidade? Qual papel o setor imobiliário pode desempenhar no apoio aos negócios locais e na promoção do desenvolvimento econômico da comunidade vizinha?
Em mercados mais maduros como o europeu e o asiático, as certificações verdes atingiram um patamar standard quanto à busca por espaços corporativos, deixando de ser um critério “premium”. Isto é, os projetos imobiliários já partem desses critérios avaliados e o estoque construído de alto padrão está majoritariamente adaptado. Agora, essas regiões caminham para a consolidação de cláusulas verdes descritas nos contratos, indo para além dos aspectos ambientais de maneira a garantir que as questões sociais também sejam consideradas pelos empreendimentos.
No Brasil, a iniciativa de ter em contrato as obrigações de sustentabilidade já chegou, mas ainda de forma tímida. Estamos evoluindo na percepção de que esses critérios não são “perfumaria”, mas sim essenciais para a manutenção de nossos negócios, nossos mercados diretos e da nossa sociedade como um todo.
Uma ideia que pode surgir a partir da conquista das certificações é a de que, uma vez que os objetivos foram atingidos, não é mais preciso olhar para o assunto, o que seria um equívoco. Novamente, conquistar um selo de desempenho sustentável é um enorme passo, porém deve-se permanecer alerta e em constante evolução em busca de inovações. É por isso, também, que essas validações não bastam para o ESG. O mercado imobiliário precisa não só responder como acompanhar os avanços velozes da sociedade e refletir em seus empreendimentos as mudanças comportamentais e tecnológicas para não ficar obsoleto.
Costumo dizer que esta é uma corrida sem linha de chegada. Proprietários, investidores e empresas nunca poderão deixar de olhar para o ESG de forma apreciativa, investigativa e objetiva. A busca pela melhoria contínua é o nome do jogo, em prol de negócios mais sustentáveis e, consequentemente, de uma sociedade mais justa.
*Luciana Arouca é diretora de Sustentabilidade da JLL
*por Luciana Arouca
Enquanto os conceitos de ESG avançam globalmente, mais mercados se desafiam a rever suas práticas para se alinharem a novos critérios. É o caso do mercado imobiliário. Centro de críticas por concentrar um alto volume de emissões de carbono na atmosfera, o real estate tem se movimentado, nos últimos anos, em direção a iniciativas que o tornem mais verde. Nesse sentido, as certificações de edifícios corporativos têm ganhado cada vez mais espaço por serem validadoras do compromisso de proprietários e investidores com a sustentabilidade.
Presente em mais de 160 países, o selo LEED (sigla do inglês Leadership in Energy and Environmental Design, isto é, Liderança em Energia e Design Ambiental) é um dos mais reconhecidos no segmento. Focada em avaliar itens como iluminação, ventilação, climatização, fontes de energia e aproveitamento da água, a certificação criada em 1993 pelo United States Green Building Council ampliou a sua relevância na validação de aspectos de sustentabilidade de um empreendimento. Na América Latina, Brasil e México lideram em número de edifícios certificados - mais de 1.500 e de 1.200 respectivamente.
Em paralelo, aumenta também o anseio pela certificação WELL, que tem como diferencial incluir critérios ligados à saúde, ao bem-estar e ao desempenho dos inquilinos dos edifícios, concentrando-se em como a ocupação e a rotina das pessoas se dão. Criado em 2014, o selo tem mais de 102 características descritivas e de desempenho a serem avaliadas. No Brasil, de acordo com dados do International WELL Building Institute (IWBI), há apenas 8 edifícios com essa chancela. Porém, atualmente, são mais de 70 empreendimentos aguardando auditoria para conquistarem o selo.
O crescente interesse nas certificações mostra que a sustentabilidade traz retornos de negócios. A transparência na divulgação dos dados das centenas de critérios avaliados dá segurança a proprietários e investidores na hora de atrair empresas que possuem políticas definidas de ocupação - muitas delas são multinacionais que contam com uma diretriz global. Isso vai diretamente ao encontro de questões relacionadas à governança - para ilustrar, a JLL tem como determinação interna que deverá ocupar somente edifícios LEED e WELL até o final de 2030 em todo o mundo.
Porém, por mais rigorosas que as certificações sejam, não são suficientes para abarcar de forma contundente o ESG. São parte do processo, mas, por si só, não bastam. É preciso um olhar holístico para as complexidades intrínsecas aos empreendimentos.
É comum que o pilar ambiental tenha mais notoriedade e que a governança seja beneficiada pelo atendimento às legislações e às regulações locais. Entretanto, se as organizações puderem abordar o 'S' (Social) ao lado do 'E' (Ambiental), haverá uma oportunidade única de fornecer retornos sustentáveis de longo prazo e ativos à prova de futuro, ao mesmo tempo em que produzem mudanças positivas duradouras para comunidades e cidades. O 'S' está ficando para trás do 'E' e a lacuna precisa ser fechada. Para a JLL, falar sobre valor social é falar sobre a criação de um impacto social positivo e duradouro ao longo do ciclo de vida do imóvel para cada parte interessada que interage com e dentro dos espaços.
As instalações corporativas são a representação física da marca e como as organizações interagem com as comunidades locais. Como você seleciona locais para priorizar o acesso a espaços verdes, natureza e biodiversidade? O bairro é acessível e de fácil acesso para os funcionários? Como você faz parceria com os proprietários para incorporar as prioridades ESG nos contratos de locação? Como as locações verdes podem apoiar as metas ESG? Como você pode melhorar a cultura e a inclusão em seu espaço de trabalho físico? Quais aprendizados locais e oportunidades de treinamento você pode oferecer para promover um maior envolvimento da comunidade? Qual papel o setor imobiliário pode desempenhar no apoio aos negócios locais e na promoção do desenvolvimento econômico da comunidade vizinha?
Em mercados mais maduros como o europeu e o asiático, as certificações verdes atingiram um patamar standard quanto à busca por espaços corporativos, deixando de ser um critério “premium”. Isto é, os projetos imobiliários já partem desses critérios avaliados e o estoque construído de alto padrão está majoritariamente adaptado. Agora, essas regiões caminham para a consolidação de cláusulas verdes descritas nos contratos, indo para além dos aspectos ambientais de maneira a garantir que as questões sociais também sejam consideradas pelos empreendimentos.
No Brasil, a iniciativa de ter em contrato as obrigações de sustentabilidade já chegou, mas ainda de forma tímida. Estamos evoluindo na percepção de que esses critérios não são “perfumaria”, mas sim essenciais para a manutenção de nossos negócios, nossos mercados diretos e da nossa sociedade como um todo.
Uma ideia que pode surgir a partir da conquista das certificações é a de que, uma vez que os objetivos foram atingidos, não é mais preciso olhar para o assunto, o que seria um equívoco. Novamente, conquistar um selo de desempenho sustentável é um enorme passo, porém deve-se permanecer alerta e em constante evolução em busca de inovações. É por isso, também, que essas validações não bastam para o ESG. O mercado imobiliário precisa não só responder como acompanhar os avanços velozes da sociedade e refletir em seus empreendimentos as mudanças comportamentais e tecnológicas para não ficar obsoleto.
Costumo dizer que esta é uma corrida sem linha de chegada. Proprietários, investidores e empresas nunca poderão deixar de olhar para o ESG de forma apreciativa, investigativa e objetiva. A busca pela melhoria contínua é o nome do jogo, em prol de negócios mais sustentáveis e, consequentemente, de uma sociedade mais justa.
*Luciana Arouca é diretora de Sustentabilidade da JLL