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No meu tempo… Jamie Dimon e os jovens no ambiente de trabalho

Transformação do ambiente de trabalho e da comunicação ao longo das décadas levanta questionamentos sobre foco e produtividade

Jamie Dimon, CEO do J.P. Morgan (Chris Ratcliffe/Bloomberg/Getty Images)

Jamie Dimon, CEO do J.P. Morgan (Chris Ratcliffe/Bloomberg/Getty Images)

Publicado em 24 de fevereiro de 2025 às 11h33.

No meu tempo, enviavam-se cartas e cartões postais.

No meu tempo, era preciso ir até a biblioteca para fazer uma pesquisa.

No meu tempo, as fotos eram reveladas, e cada clique precisava ser bem pensado.

No meu tempo, as viagens de carro eram acompanhadas por mapas de papel.

No meu tempo, as notícias chegavam pelo jornal impresso.

No meu tempo, guardávamos números de telefone na memória.

No meu tempo, a comunicação nas empresas se dava por bilhetes e memorandos.

Falando em empresas, os escritórios hoje em dia são muito diferentes. No meu tempo, as pessoas tinham salas; hoje, elas têm baias. As empresas modernas dispõem de múltiplas salas de reuniões, de todos os tamanhos e devidamente envidraçadas. Vê-se tudo, mas não se escuta nada.

Quando percorro os corredores do escritório, observo os jovens em reunião – a idade média deve ser de uns 30 anos, no máximo. Todos postados ao redor de mesas enormes, com um olho na discussão em pauta e o outro no seu próprio notebook. O que exatamente fazem com seus notebooks? Confesso que não sei. Só sei que tudo é muito diferente do meu tempo.

Falando em telas, impossível não falar das videoconferências, que já eram uma tendência, mas que se disseminaram mesmo com a pandemia. Sou um verdadeiro fã das videoconferências. A possibilidade de reduzir os deslocamentos, especialmente as viagens, é um verdadeiro bálsamo não apenas para os executivos, mas também para advogados, médicos, professores e muitos outros profissionais.

Porém, sou cético em relação ao home office, especialmente para os jovens. Imagine iniciar uma carreira sem estar fisicamente próximo dos colegas e dos superiores. Como absorver novos conhecimentos e trocar experiências? A hora do cafezinho é, muitas vezes, o momento em que as ideias são testadas e debatidas entre os pares. Entendo a tendência, mas a vejo com bastante ceticismo. Na minha humilde opinião, um dia por semana deveria ser o limite – e olhe lá.

Encerro este texto com a polêmica fala de Jamie Dimon para um grupo de funcionários. Dimon é nada menos que o presidente do JPMorgan, um dos cinco maiores bancos do mundo:

“Vocês sabem que estou certo. Muitos de vocês passam boa parte do tempo na m@#%a do Zoom e fazem o seguinte: olham seus e-mails, enviam mensagens de texto uns para os outros… não prestam atenção, não leem suas coisas. E vocês acham que isso não diminui a eficiência e a criatividade? Ninguém faz isso nas minhas malditas reuniões. Se você vai se encontrar comigo, terá toda a minha atenção, o meu foco. Eu não trago o meu maldito celular, não vou ficar enviando mensagens de texto para as pessoas. Simplesmente não funciona! Não funciona para a criatividade e retarda a tomada de decisões.

E não me venha com essa m@#%a de que trabalhar em casa na sexta-feira funciona. Eu ligo para um monte de gente nas sextas-feiras e não consigo falar com ninguém. As gerações mais novas (funcionários jovens) estão sendo prejudicadas por isso. Estão sendo deixadas para trás socialmente, nas ideias, nos encontros com as pessoas. Não é assim que se toca uma boa companhia. Não chegamos até aqui fazendo isso.”

Você pode não simpatizar ou até mesmo não concordar com as opiniões, normalmente duras, de Dimon. Porém, neste quesito, entendo que ele está correto. A falta de foco decorrente da disseminação do uso das tecnologias, e o afastamento físico em função do trabalho remoto, são problemas reais que precisarão ser ajustados. Problemas estes que não existiam no meu tempo…

Fernando Goldsztein
Fundador The Medulloblastoma Initiative
Conselheiro da Children’s National Foundation
MBA, MIT Sloan School of Management

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