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Minotauro: entrevista exclusiva com o (também) campeão do business

Nos últimos anos, a figura do MMA nacional e até mundial sempre esteve conectada à de um grande atleta brasileiro: Antônio Rodrigo Nogueira, o Minotauro. Com seu também vitorioso irmão Antônio Rogério Nogueira, o Minotouro, conduziu atleticamente muito bem sua carreira no universo das lutas. Tantos outros atletas também o fizeram, campeões ou não, do UFC e outras organizações. Mas os irmãos Nogueira sempre tiveram um olhar absolutamente diferenciado para […] Leia mais

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Vinicius Lordello — Esporte Executivo

Publicado em 12 de agosto de 2015 às, 13h12.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 07h57.

Nos últimos anos, a figura do MMA nacional e até mundial sempre esteve conectada à de um grande atleta brasileiro: Antônio Rodrigo Nogueira, o Minotauro. Com seu também vitorioso irmão Antônio Rogério Nogueira, o Minotouro, conduziu atleticamente muito bem sua carreira no universo das lutas. Tantos outros atletas também o fizeram, campeões ou não, do UFC e outras organizações. Mas os irmãos Nogueira sempre tiveram um olhar absolutamente diferenciado para a condução de suas carreiras além das lutas.

Agora, conforme se aproximam do fim de suas carreiras dentro do octógono, fazem uma transição muito positiva e equilibrada para o ramo empresarial. Atentos à boa reputação dentro e fora do ambiente das competições, estão alicerçados em uma história sempre concentrada nos benefícios do esporte de alto rendimento. Hoje, através do Team Nogueira Holding, possuem vários ramos de atuação, se desmembrando em várias frentes de negócios, como rede de academias, palestras motivacionais e produtos licenciados.

O Esporte Executivo teve a satisfação de bater um papo com Rodrigo Minotauro, justamente para entender como foi feita a condução de sua careira e o que o levou a cuidar tão bem do universo além das lutas. Falou sobre o estágio do Brasil no MMA, a gestão da carreira dos atletas, suas inspirações e sobre seu futuro no UFC.

Esporte Executivo: No mundo das lutas, são poucos atletas que conseguem ter esse olhar empreendedor. Como foi para você e seu irmão essa construção paralela? Como nasceu a Team Nogueira?

Rodrigo Minotauro Nogueira: Meu pai era contador. E eu precisava ajudar as vezes indo até a Junta Comercial da cidade. Ouvia muito aquele raciocínio de contador dele. Já minha mãe tinha uma academia de ginástica. Crescemos por lá e ficávamos naquele ambiente quase que o tempo inteiro. Com pouco mais de 18 anos, meio que a contragosto do meu pai, comecei a competir no jiu-jítsu e tinha um excelente desempenho, ganhando campeonatos. Ali já abri algumas academias. Fui morar nos EUA, comecei a treinar o MMA com 21 anos e no ano seguinte abri uma academia por lá. Ou seja, ao longo de toda minha carreira, sempre fiz questão de ter e cuidar das minhas academias.

Mas mesmo para conduzir esse negócio precisa de expertise…

Sim. Por isso já naquela época busquei o MMA Millionaire. Eles têm pessoas especializadas em tudo o que cerca o ambiente dos negócios das lutas. Foram reuniões e palestras fundamentais. Isso me ajudou a criar uma metodologia específica para a Team Nogueira e norteia nosso trabalho até hoje.

A Team Nogueira hoje já é uma franquia. Como está a expansão deste negócio?

É maior rede de academias de artes marciais do mundo. Temos 33 unidades abertas, sendo uma nos Emirados Árabes, uma nos EUA e as demais no Brasil. Já temos quase 11 mil alunos, mas, honestamente, poderíamos ter mais. O momento da economia atual do país impede o crescimento da rede como ela estava pronta para ter. Isso porque em um momento de aperto a família brasileira precisa abrir mão do supérfluo e, ir a uma academia, neste cenário, entra nessa categoria do supérfluo, infelizmente. Mas ainda assim continuamos a crescer. Abrimos a Team Nogueira para franquia três anos atrás e já viemos imediatamente para São Paulo. Estamos na capital e no interior… a Team vai bem.

A rede Team Nogueira permite um treinamento tanto para amadores como para profissionais, certo? E vocês também gerenciam a carreira de vários atletas…

Exato. Gerenciamos a carreira de cerca de 60 atletas profissionais, dos maiores eventos de MMA do mundo, como UFC, WSOF e Bellator. Mas nossa equipe tem uma preocupação muito mais ampla que apenas a parte técnica. Além de contar com ringue e octógono profissionais, área de tatames, sacos e espaço para treinamento físico, a equipe também possui estrutura com sala de fisioterapia, marketing, assessoria de imprensa, refeitório e alojamento. A estrutura lembra grandes clubes de futebol.

E vocês tiveram esse acompanhamento no início da carreira? Como aperfeiçoaram preocupações tão além da parte técnica?

Meu pai era contador. Alucinado demais com os números e insistia nesse ponto com a gente (risos). Mas na época no Pride tive uma manager japonesa muito boa, a Motu Koshida. Aprendi com ela coisas importantes, como comportamento com a imprensa, as coisas certas a falar publicamente ou não, o que dizer após lutar bem e também após lutar mal. Muito além da parte técnica. Então naturalmente acabei construindo e lapidando, posso assim dizer, essas duas carreiras. Como atleta e fora das lutas.

E são essas dicas e acompanhamento que levam aos atletas da Team Nogueira?

Exatamente. Não à toa campeões do MMA passaram pela nossa academia. Anderson Silva, Júnior Cigano, e Rafael Feijão no UFC, Patrício Freire e Patricky Freire no Bellator são só alguns exemplos.

Já que você citou nomes, como avalia o Brasil no cenário atual do MMA?

O Brasil está em uma entressafra técnica. Tivemos grandes nomes no auge, como o próprio Anderson Silva, Maurício Shogun, Vitor Belfort, Lyoto Machida, Vanderlei Silva e eu… se pensarmos em celebridades de lutas, tirando o José Aldo, precisa vir uma turma mais jovem.

Mas há uma escassez técnica ou falta a preparação mais completa, além do restrito às lutas?

Infelizmente os dois. Temos uma questão técnica, mas também falta orientação a quem já tem essa técnica mais apurada. Precisamos ter equipes com mais estrutura, mas não só de treino técnico. Fisiologista, assessor de imprensa, alimentação.

Você volta a falar de uma estrutura além do octógono. O quanto esse cuidado específico com o atleta para questões que extrapolam a técnica, e que muitos ignoram, é importante para construir um campeão?

Totalmente. Totalmente, sem dúvidas. Se for um monstro da técnica e não tiver o acompanhamento necessário, não chega a lugar algum. O atleta profissional precisa, claro, ter sua vida particular. Mas também precisa saber e lembrar que é um atleta o tempo todo. E lembrar também que tem crianças e jovens que acompanharão sua vida. Precisa sim ser o exemplo para o público. Tivemos um atleta na Team Nogueira que era muito bom tecnicamente, mas que adorava publicar fotos nas redes sociais bebendo, em um ambiente absolutamente contrário ao de um atleta profissional. Falamos com ele. Mais de uma vez. Não entendeu, não pôde ficar conosco. É a imagem também da Team Nogueira, precisamos cuidar.

Ao cuidar desses detalhes, de uma forma geral, vocês também ajudam a “limpar” a imagem que ainda existe para o MMA em algumas regiões.

Para mim, o MMA já alcançou o posto de segundo esporte no Brasil, depois do futebol. Talvez ainda ali disputando com o vôlei. Mas muito mais gente assiste a MMA do que vôlei, por exemplo, na TV aberta. E essa exposição e audiência fazem a diferença. Além do futebol, é o único esporte que vende pay-per-view no Brasil. Agora precisamos de campeões. O brasileiro até gosta de disputar, mas gosta mesmo é de ver campeão. Foi com o Senna na F1, com o Guga no Tênis…E aí sim, sendo campeão tecnicamente e tendo o cuidado com a imagem, vira ídolo.

Por exemplo, temos o Instituto Irmãos Nogueira, programa social que atende mais de 900 crianças carentes de comunidades do Rio de Janeiro. Evidente que fazemos porque acreditamos na causa. Mas se um atleta não percebe a importância de trabalhar voluntariamente também o lado social, principalmente num país com o nosso, sinal que não está pronto para vencer.

Minotauro
Essa visão de mercado e corporativa te abre muitas portas…

O Team Nogueira tem a Rede de franquias, Licenciamento de produtos, Gestão de carreira de Atletas, Produção de eventos, Linha de roupas, Team Nogueira TV e o Instituto Team Nogueira. Além disso tudo, eu e meu irmão passamos a dar palestras empresariais sobre oportunidades, mas também sobre superação, nossa característica marcante no esporte. Só no primeiro semestre, demos mais de 20 palestras em grandes empresas. (Nota do Blog: Minotauro já passou por mais de cinco cirurgias que poderiam tê-lo aposentado. E superou todas. Além disso, quando tinha apenas 11 anos, foi atropelado por um caminhão e ficou hospitalizado por quase um ano)

Até como comentarista das Organizações Globo tem trabalhado?

Pois é (risos). O pessoal me chamou porque consigo falar sobre a luta com a linguagem do público. Não gosto de usar termos técnicos, porque lembro de quem não conhece muito mas quer assistir e torcer. Tem dado certo.

Por essa tua capacidade de gerenciar responsabilidades diversas, o UFC está de olho em você para trabalhar na parte de relacionamento com os atletas. Vai aceitar?

Para falar a verdade, acabei de vir de uma reunião com eles (a entrevista foi realizada na noite da última 2ª feira, 10/agosto). Vou sim fazer esse trabalho. Não terei responsabilidades na gestão dos atletas contratados pelo UFC. Serei na verdade uma ponte entre atletas e organização e estarei atento às necessidades das duas partes.

Tenho experiência para ajudar novos atletas e, inclusive, descobrir novos talentos. Quero ajudar porque isso é o que sei fazer e me deixa contente. Poxa, olhe tudo o que fiz na minha carreira como atleta…. Não dá pra diminuir a história.

“Fiz”? No passado, Minotauro? Acabou a trajetória como atleta? (Confesso que, como fã, não como entrevistador, me emociono nessa hora ao perguntar)

(A resposta vem após uma pausa ensurdecedora e interminável de uns cinco segundos) Não, na verdade ainda não sei… Quem sabe mais uma luta?

Espero que sim. É um prazer te ver lutar. Sua vitória contra o Brendan Schaub no Rio de Janeiro em 2011 foi épica.

Vamos ver… Mais uma luta? Vamos ver… Tomara que sim.