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Já pensou em ações dos clubes brasileiros na Bolsa? Parece que os clubes não…

Respeitados executivos e grupos de investidores têm optado por administrar grandes clubes do futebol mundial. Isso em países considerados a elite do esporte, como Inglaterra, Itália, Turquia e Portugal. Os administradores estipulam diversas metas para valorizar seus clubes, que obviamente incluem títulos, mas que não ficam restritas a eles. Utilizam-se de métricas, teóricas e práticas, como instrumento de planejamento nos negócios, de forma a maximizar a performance de suas atividades. […] Leia mais

DR

Da Redação

Publicado em 12 de setembro de 2013 às 10h46.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 08h51.

Respeitados executivos e grupos de investidores têm optado por administrar grandes clubes do futebol mundial. Isso em países considerados a elite do esporte, como Inglaterra, Itália, Turquia e Portugal. Os administradores estipulam diversas metas para valorizar seus clubes, que obviamente incluem títulos, mas que não ficam restritas a eles. Utilizam-se de métricas, teóricas e práticas, como instrumento de planejamento nos negócios, de forma a maximizar a performance de suas atividades. Parte deles, inclusive, lista ações do clube nas Bolsas de Valores de seus respectivos países.

Quando uma empresa entra no mercado acionário, busca, entre outras coisas, novas fontes de captação de recurso e valorização. Para esse novo universo é fundamental a transparência na gestão, que deve ser meritocrática, além de uma governança claramente estabelecida. Além disso, há de se ter um foco constante na relação com seus investidores. Para o universo esportivo as regras são as mesmas e podem elevar os clubes a um novo e melhor patamar.

Futebol brasileiro na BolsaO Manchester United, da Inglaterra, reabriu seu capital nos Estados Unidos no ano de 2012, após quase uma década fora desse mercado. Seu compatriota Arsenal também mantém ações listadas na Bolsa e leva tão a sério esse fato, que seus torcedores reclamam que ultimamente os administradores estão mais preocupados com a saúde financeira do clube do que com a conquista de novos títulos. Na Alemanha, o atual vice-campeão alemão e europeu Borussia Dortmund, justamente em função da excelente temporada, pagou dividendos aos investidores, fato inédito em sua história. Já as ações do clube português Benfica registrou queda de 11% após três vice-campeonatos consecutivos.

Com tantas experiências no exterior, por qual motivo no Brasil ainda não encontramos nada semelhante? A abertura de capital de entidades esportivas no Brasil passa, minimamente, por um profissionalismo que ainda é raro no país. “Toda empresa quando abre capital tem um poder menos absoluto nas decisões financeiras. Os controladores dos clubes estão dispostos a perder isso?” aponta Eduardo Borges, sócio da Cypress, butique financeira especializada em assessoria na realização de operações estruturadas de fusão e aquisição. “Pensando no médio prazo, os clubes perceberiam que a diminuição do poder seria recompensada pela maior capacidade de levantamento de recursos“, complementa. “Além disso, os clubes de futebol passam quase que todos os dias por eventos de divulgação de marca. E não parece que sejam norteados por uma transparência fundamental para sua movimentação na Bolsa de Valores”, completa o executivo.

Escassez de negócios não seria um grande problema. Não é difícil imaginar que a cada sequência de jogos ganhos, por exemplo, haveria um aumento na expectativa de conquista de um campeonato e, por conseguinte, um aumento na demanda das ações deste clube. Da mesma forma, derrotas sequenciais poderiam levar à venda de ações. E isso influenciaria a movimentação das ações do clube. Mas não só isso. Mudanças de técnico e negociações de jogadores, para citar apenas mais dois exemplos, são circunstâncias que também interfeririam de forma direta no desempenho da ação. Mas parte considerável de nossos clubes ainda é gerida de forma passional. E os profissionais esperados para esse movimento não agem norteados pela paixão. Claramente ainda falta ao futebol nacional um mínimo de governança, fundamentada em uma gestão profissional.

É essa instabilidade na gestão que afugenta investidores sérios. É claro que apareceriam investidores igualmente passionais, que seriam os primeiros a decidir pelo investimento no clube. O modelo, contudo, não se sustentaria. A organização da Bolsa exige um mecanismo de médio e longo prazo. É justamente nesse ponto que o futebol brasileiro peca. Não há uma continuidade técnica. A paixão, tantas vezes heroína, vira vilã. Porque o esporte é baseado em paixão. Mas a administração dele não pode ser.

Siga-nos no Twitter: @viniciuslord e/ou @EXAME_EsporteEx

Esporte Executivo

Respeitados executivos e grupos de investidores têm optado por administrar grandes clubes do futebol mundial. Isso em países considerados a elite do esporte, como Inglaterra, Itália, Turquia e Portugal. Os administradores estipulam diversas metas para valorizar seus clubes, que obviamente incluem títulos, mas que não ficam restritas a eles. Utilizam-se de métricas, teóricas e práticas, como instrumento de planejamento nos negócios, de forma a maximizar a performance de suas atividades. Parte deles, inclusive, lista ações do clube nas Bolsas de Valores de seus respectivos países.

Quando uma empresa entra no mercado acionário, busca, entre outras coisas, novas fontes de captação de recurso e valorização. Para esse novo universo é fundamental a transparência na gestão, que deve ser meritocrática, além de uma governança claramente estabelecida. Além disso, há de se ter um foco constante na relação com seus investidores. Para o universo esportivo as regras são as mesmas e podem elevar os clubes a um novo e melhor patamar.

Futebol brasileiro na BolsaO Manchester United, da Inglaterra, reabriu seu capital nos Estados Unidos no ano de 2012, após quase uma década fora desse mercado. Seu compatriota Arsenal também mantém ações listadas na Bolsa e leva tão a sério esse fato, que seus torcedores reclamam que ultimamente os administradores estão mais preocupados com a saúde financeira do clube do que com a conquista de novos títulos. Na Alemanha, o atual vice-campeão alemão e europeu Borussia Dortmund, justamente em função da excelente temporada, pagou dividendos aos investidores, fato inédito em sua história. Já as ações do clube português Benfica registrou queda de 11% após três vice-campeonatos consecutivos.

Com tantas experiências no exterior, por qual motivo no Brasil ainda não encontramos nada semelhante? A abertura de capital de entidades esportivas no Brasil passa, minimamente, por um profissionalismo que ainda é raro no país. “Toda empresa quando abre capital tem um poder menos absoluto nas decisões financeiras. Os controladores dos clubes estão dispostos a perder isso?” aponta Eduardo Borges, sócio da Cypress, butique financeira especializada em assessoria na realização de operações estruturadas de fusão e aquisição. “Pensando no médio prazo, os clubes perceberiam que a diminuição do poder seria recompensada pela maior capacidade de levantamento de recursos“, complementa. “Além disso, os clubes de futebol passam quase que todos os dias por eventos de divulgação de marca. E não parece que sejam norteados por uma transparência fundamental para sua movimentação na Bolsa de Valores”, completa o executivo.

Escassez de negócios não seria um grande problema. Não é difícil imaginar que a cada sequência de jogos ganhos, por exemplo, haveria um aumento na expectativa de conquista de um campeonato e, por conseguinte, um aumento na demanda das ações deste clube. Da mesma forma, derrotas sequenciais poderiam levar à venda de ações. E isso influenciaria a movimentação das ações do clube. Mas não só isso. Mudanças de técnico e negociações de jogadores, para citar apenas mais dois exemplos, são circunstâncias que também interfeririam de forma direta no desempenho da ação. Mas parte considerável de nossos clubes ainda é gerida de forma passional. E os profissionais esperados para esse movimento não agem norteados pela paixão. Claramente ainda falta ao futebol nacional um mínimo de governança, fundamentada em uma gestão profissional.

É essa instabilidade na gestão que afugenta investidores sérios. É claro que apareceriam investidores igualmente passionais, que seriam os primeiros a decidir pelo investimento no clube. O modelo, contudo, não se sustentaria. A organização da Bolsa exige um mecanismo de médio e longo prazo. É justamente nesse ponto que o futebol brasileiro peca. Não há uma continuidade técnica. A paixão, tantas vezes heroína, vira vilã. Porque o esporte é baseado em paixão. Mas a administração dele não pode ser.

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