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Gondwana F&C propõe falar sobre Cultura e aprendizagem via Futebol

Gondwana F&C propõe falar sobre Cultura e aprendizagem via Futebol

 (Documentário Gondwana/Divulgação)
(Documentário Gondwana/Divulgação)

Viajar com uma câmera e uma bola, como uma língua universal de conexão entre as mais diversas pessoas e faixas etárias, captando, vivenciando e compartilhando histórias. Essa é a proposta da Gondwana F&C (Futebol & Cultura) que, segundo seus idealizadores, já alcançou cerca de 50 milhões de pessoas de mais de 45 países diferentes, sendo quase 200 cidades apenas no Brasil.

A história e inspiração veio no Cinefoot (Festival de Cinema de Futebol) no auditório do Museu do Futebol (Estádio do Pacaembu) em 2019. O chileno Sebastián Acevedo, empreendedor formado em Direito e que já foi atleta de futebol de base, futsal e freestyle, foi ver as sessões e levou páginas de jornais com notícias e fotos do jogador Pelé quando visitava Chile. Mônica Saraiva trabalhava já por dez anos no Museu do Futebol, como jornalista e fotógrafa. A conexão pela história do futebol foi natural e começaram a trocar ideias.

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Em novembro de 2020, quando a pandemia deu os primeiros sinais de arrefecimento, roteirizaram uma viagem de 15 dias por cidades da Bahia e Pernambuco, ambos de forte relação com a influência africana no Brasil. De mochilas, com uma bola e uma câmera, seguiram viagem e registraram o futebol e as manifestações culturais populares nos distintos lugares que visitaram.

Durante um ano de estudos e pesquisas, em 2021, esses registros se transformaram em um documentário, montado e editado pelo documentarista brasileiro Cristiano Fukuyama. Chamado “Gondwana, A Bola Conecta” (abolaconecta.com.br), usa o futebol para contribuir no desenvolvimento das ciências, estudando fenômenos geológicos, históricos, sociais e culturais que explicam a relação entre Brasil e África. Em 2022, já com a pandemia amenizando, o documentário começou a ganhar voos presenciais dentro de salas de aula de escolas e universidades. Esteve na UFRJ, Escola Profissional de Lisboa e na Escola de Moçambique, que exibiram o filme em sala para alunos e alunas de diferentes faixas etárias.

O documentário, legendado em espanhol, francês, inglês e português, foi selecionado para participar de 5 festivais de Cinema (Cinema Negro em Ação, Ubuntu, Lisbon Festival Sport, Ibero Americano na sala Itaú de Cinema e no Cinefoot - festival de onde tudo havia começado anos atrás. A partir do documentário, passaram a oferecer a “Metodologia #ABC”, programa de Alfabetização e Desenvolvimento de Habilidades Sociais usando o poder do Audiovisual, da Bola e a Câmera como ferramentas pedagógicas, por meio de oficinas para escolas (crianças e adolescentes) e mundo corporativo, abordando temas como inclusão, combate aos preconceitos, tomada de decisões, trabalho em equipe, pensamento criativo entre outros.

Em 2023 a Metodologia #ABC está em escolas municipais e particulares de São Paulo para abordar o futebol como manifestação cultural popular e como uma maneira de integrar pessoas, histórias e culturas. Museu do Futebol, SENAC e SESCs também já receberam o projeto. O Esporte Executivo conversou com Monica e Sebástian sobre a proposta Gondwana:

Vocês entendem que o esporte é ferramenta para falar da nossa história. Eventualmente, o esporte não pode ser a história em si sendo contada? Temos histórias simbólicas de luta contra o racismo, por exemplo, em Jogos Olímpicos e outros eventos esportivos.

Sebástian: Sempre temos que fazer distinções para pensar os mais diversos contextos. No Memorial pelos Direitos Humanos dentro do Estádio Nacional do Chile, há um dizer "um povo sem memória é um povo sem futuro". A Bola e a Câmera são nossas ferramentas pedagógicas educativas, que preservam a memória e contam histórias. Promovem o desenvolvimento de competências e habilidades que nos acompanham pelas narrativas, que conectamos e contamos.

Monica: Quando o esporte é ensinado para tomar consciência crítica, permite entender também que é um ato político, cultural, histórico, social... Paulo Freire dizia que também pode ser um ato de amor. O amor se expressa nos valores que o esporte promove, e para combater qualquer tipo de preconceito. O objetivo de nosso trabalho é contribuir nos desafios da educação brasileira no contexto da sua posição dentro do sul global. O conhecimento a partir do futebol e a cultura também pode se exportar.

O quanto que essa intersecção é, no Brasil, ainda vista como aleatória? Pra vocês, o Esporte é um recorte da sociedade ou um espaço dela apartado?

Monica: Futebol é o meu objeto de estudo desde 2011, quando iniciei meu trabalho no Museu do Futebol, ficando no acervo histórico e cultural até 2021. O futebol faz e é parte da identidade da sociedade brasileira. Está presente nos mais diversos espaços: ruas, praias, quadras, campos, calçadas, vielas... E esse futebol é a brincadeira, o encontro, o jogar em equipe da forma mais simples possível, de pés descalço, com tênis, chuteira. Sejam com traves de pedras, de chinelos, de paus...

No documentário “Gondwana, A Bola Conecta” mostramos muito bem essa relação em que o futebol aparece nos contextos da cidade, sendo jogado por todas as pessoas, de diferentes faixas etárias. Seja jogando um baba na praia de Salvador, enquanto a cidade inteira se movimenta de um lado para o outro, seja jogando uma pelada no campo de terra de Olinda, em meio a igreja e casas históricas.

Assim, o futebol faz parte de nossa identidade, seja jogando, lendo, pintando, fotografando. Se conecta com a educação, cultura, arte, política, história, acessibilidade e tantos outros temas. A bola é o elemento de brincar e jogar, mais acessível, pois tudo vira bola nos pés dos meninos e meninas por esses Brasis.

Quais as grandes dificuldades do Projeto Gondwana para desenvolver seu trabalho e propósito?

Sebástian: Um dos nossos grandes desafios tem sido mostrar em termos concretos como usar uma bola e uma câmera para trabalhar os processos de Alfabetização, por isso a nossa metodologia registra e constrói memória coletiva. Com o documentário Gondwana abrimos o campo do futebol que vai além das 4 linhas, para debater e dialogar sobre questões do cotidiano. Mostramos conteúdos para as pessoas refletirem, e terem seu processo de ensino e aprendizagem.

Monica: O principal desafio é quem invista na nossa metodologia, que une um time onde cada jogador (a) veste a camisa da história, geologia, educação, cultura, cinema, fotografia e futebol. Tudo isso conectando também a identidade afrolatinoamericana.