O sucesso de uma pequena ou média empresa é a implementação constante do óbvio
Marcus Marques, fundador do Grupo Acelerador e do Giants, é o entrevistado de hoje
Publicado em 8 de fevereiro de 2024 às, 12h13.
Este Papo de Tubarões traz uma pessoa especial. Eu conheci seu negócio bem pequenininho e vi “explodir”. Marcus Marques é hoje um dos maiores players do mercado em que atua, tem o maior número de alunos de empreendedorismo e ensina a mim e a um monte de gente, criando caminhos novos, ideias novas e impactando a vida das pessoas. Ele é fundador do Grupo Acelerador e do Giants, que têm como propósito ajudar empresas a colaborar com o Brasil, gerar mais empregos e renda.
Para começar, quem é o Marcus Marques?
Sou muito abençoado por Deus, pelos pais que tive, que me deram caráter, integridade e muitos dos atributos e talentos que tenho hoje. Também sou agradecido pela esposa que tenho, que é uma grande parceira de vida, e pelo lugar onde nasci, no interior de Goiás, que me deu valores e minha raízes.
Por isso consegui construir um ecossistema como o grupo Acelerador Empresarial, que é um grupo de educação para as pequenas e médias empresas, que representam 70% dos empregos formais do País. Sou sócio de oito empresas, das quais a principal é o grupo Acelerador Educação, que tem 150 funcionários e faturou R$ 125 milhões em 2023, com uma margem líquida próxima dos 50%. Sou conselheiro e sócio investidor de outras sete empresas que surgiram pelo Acelerador e que também vendem para o público de pequenas e médias empresas. Na verdade, levanto a bandeira das milhões de pequenas e médias empresas.
Eu sou diretora da Fiesp para micro, pequenas e médias empresas, bem no setor em que você atua, onde estão registradas 7 milhões de empresas só em São Paulo. É um mundo de pessoas precisando de ajuda e apoio para escalarem seus negócios.
Exatamente. Essa é uma parcela muito relevante da Economia, de tudo o que é gerado em empregos, impostos, bons produtos, embora a ciência da administração de empresas tenha renegado um pouco esse público. Fiz dois MBAs em escolas de negócios renomadas, cursos em grandes instituições e consultorias e, até alguns anos atrás, antes de existir o Grupo Acelerador, muitos dos conteúdos eram focados somente para grandes empresas, ou para as micro, que são bem atendidas pelo Sebrae.
Mas o pequeno e o médio ficavam meio soltos e, daí, surgiu o Grupo Acelerador para ajudar na estruturação, gestão e aceleração do pequeno e médio empresário, que é alguém que consegue implementar práticas de gestão, desde que não sejam muito complexas, muito caras ou muito robustas, porque não tem caixa ou equipe para fazer algo que seja muito sofisticado ou complicado.
Muito do meu trabalho foi simplificar algumas ferramentas clássicas de gestão para que essa pequena e média empresa possa implantar uma melhor gestão de pessoas, de finanças, fazer a melhoria do próprio processo comercial e promover reuniões produtivas com a equipe. Temos, por exemplo, o famoso e clássico 5W2H, que estabelece a definição de sete coisas para cada ação na elaboração de um plano. Isso é muita coisa para uma empresa pequena que sempre tem equipe reduzida. Então transformei o 5W2H em 3Qs – quem, que, quando. Quem monta um plano de ação define o que vai fazer, quem e quando e simplifica o processo para o empreendedor, que precisa também ser gestor no dia a dia.
O simples, o básico, nunca sai de moda. É sempre o mais fácil. Tudo que é básico e simples sempre funciona e é mais fácil de guardar.
Eu costumo dizer que a complexidade muitas vezes atrapalha a execução; então, quando se simplifica, o gestor aplica e o time aplica. Adoro coisas assim. Sou o cara do arroz com feijão total. O sucesso de uma pequena ou média empresa é a implementação constante do óbvio, das coisas simples. É tratar bem o colaborador, estar centrado no cliente, cuidar dos números do financeiro com qualidade e, principalmente no caso das empresas de serviços, pensar no pós-venda, valorizando esse fator para o conceito de sucesso e experiência do cliente.
O tradicional pós venda é bom quando a pessoa cuida do consumidor após a venda. Mas sucesso com o cliente não só oferecer atendimento após a compra, é oferecer sucesso com meu produto ou serviço, é cuidar para que o cliente tenha resultado de fato com o produto. A empresa tem que entender que o pós-venda é um pré-venda da nova venda. Isso tem que ser entendido como um aumento de receita e não como um custo, porque vai fidelizar os clientes, que irão comprar mais.
Depois do primeiro curso com o Acelerador, você tem um segundo, que é o Giants. Como funciona?
O Acelerador Empresarial é uma imersão de três dias, como que um substituto de uma pós graduação ou MBA sobre gestão, pois passa por todos os conceitos e fundamentos importantes para gerir uma empresa. Começamos neste formato quando eu ainda era sócio do meu pai, no grupo IBC Coaching. Agora estamos na turma 53.
Não trabalhamos conteúdos por setor, mas sim aqueles que se aplicam para todos os setores, porque ter uma empresa é ter uma profissão, que depende de muito estudo e investimento para a pessoa se destacar no mercado. Geralmente os empreendedores começam na cara e na coragem, sem estudo e muitos não têm o hábito ou a cultura de se capacitar constantemente. A empresa, então, dá certo até determinado ponto e não cresce mais, ou se cresce, é um crescimento relativo.
É quando tem que entrar a competência, porque a tendência do empreendedor é manter o que o levou até ali, que certamente não é o que o levará para um nível cinco, dez vezes maior. O Acelerador é uma profissionalização desse empresário, que sai do amadorismo e vai para o profissionalismo.
Se você não se capacitar ou se não tiver um mentor que acompanhe, vai perder dinheiro.
Geralmente o dinheiro que a gente não faz é gerado por um conhecimento ou uma competência que a gente não tem. No Acelerador os empresários fazem uma imersão, aprendem a lidar com números, com processos e têm oportunidade de entrar no Giants, que é um mix de mentoria, consultoria e master mind, sempre em grupo. Hoje temos 500 empresários membros do programa Giants, que oferece um ano de entregas, durante o qual o acelerador vai para dentro da empresa, acompanha o negócio, faz treinamentos presenciais ou on line ao vivo, para capacitar toda as equipes de todos os setores.
O Giants é inovador porque foi posicionado como um programa de desenvolvimento empresarial, no qual os membros fazem parte de uma mentoria de master mind e que tem, agora, uma universidade corporativa que treina todos os colaboradores. Para muitas empresas, não vale a pena ter uma área de treinamento interna e com o Giants o custo-benefício é ótimo: o empresário paga uma coisa e leva oito. Por isso é um sucesso: temos a maior comunidade de empresários em um programa de alto valor no Brasil.
Quando as empresas erram nas metas, a mais ou a menos, se frustram de um lado ou do outro. A meta não pode ser menos e nem mais, porque se a empresa tem uma meta muito alta, as equipes se desmotivam e se tem uma meta muito baixa, acabam achando muito fácil e não fazem muita força.
Meta é muito importante. Não tem tubarão sem mar, não tem pássaro sem céu e não tem gestão sem meta. A meta é a espinha dorsal do negócio e por isso é muito importante calibrar bem, pensar no ponto ótimo, porque quanto mais se estica o número para cima, melhor, mas não adianta ter uma meta que nem o empresário nem o time acreditam que irão alcançar. A meta tem que ser crível, ao mesmo tempo em que precisa tirar a zona de conforto, porque se for muito confortável não é meta. A pessoa tem que entregar tudo, desde que seja capaz de entregar.
É importante transformar metas maiores em metas menores e estas, em micro metas. Daí a importância do nosso cérebro acreditar, e é muito fácil acreditar em metas menores. Isso também traz a questão da consistência, que traz excelência para qualquer coisa. Consistência é tudo.
Essa inquietude, essa vontade de fazer mais, é muito bom. Por exemplo, as mudanças do seu escritório: quantas vezes você mudou?
Nos últimos quatro anos estamos mudando pela quarta vez, agora para um prédio de 5 mil metros quadrados. Essa inquietude faz parte do genoma empreendedor. O dinheiro entra como uma consequência embora pese mais no começo. O dinheiro e a ambição são a primeira marcha do carro, precisamos dela para engatar as outras. Ela é muito forte, mas nunca vai dar o máximo de velocidade possível do carro. Depois dessa primeira marcha, da ambição, da luta pelo dinheiro, precisam vir outros componentes, que são as próximas marchas, como o propósito, a aspiração de ter um mundo melhor, querer ter uma conduta exemplar no dia a dia, ser líder para impactar a vida das pessoas e dos clientes.
Fazer algo que perpetue. Vejo muita gente criar negócios que desaparecem depois de dois anos. Isso é uma pena, porque acredito que negócios e empresas têm que perpetuar.
Eu chamo isso de empresa perecível. Empresas mais perenes fazem muita diferença na sociedade e é muito gratificante para nós, que estamos empreendendo, colocar algo mais sólido de pé. Se empreendedorismo fosse atletismo, não seria uma corrida de 100 metros: seria uma maratona de infinitos quilômetros. É um jogo de décadas.