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JANGUIÊ DINIZ: Um inconformado compulsivo que dá lições de superação de adversidades

Janguiê Diniz figura na lista da Forbes como empreendedor, é mestre e doutor em Direito e fundador do grupo Ser Educacional

Janguiê Diniz (Divulgação/Divulgação)
Janguiê Diniz (Divulgação/Divulgação)

Com uma visão extraordinária sobre o ensino no Brasil, o entrevistado desta semana é  “O” Tubarão que transforma a vida de muita gente e está sempre  fazendo coisas incríveis. Janguiê Diniz, o nosso tubarão, figura na lista da Forbes como empreendedor, é mestre e doutor em Direito e fundador do grupo Ser Educacional, o maior do setor no Norte e Nordeste, com cerca de 14 mil colaboradores diretos, que já impulsionaram a vida de cerca de 500 mil pessoas.

Quem é o Janguiê?

Sou um inconformado compulsivo. Gosto de criar coisas não só para mim ou minha família, mas para a sociedade onde estou inserido.  Sou um sertanejo nascido no Sul da Paraíba,  filho de pais que não tiveram a oportunidade de estudar e que, fugindo da seca, se mudaram para o Mato Grosso quando eu tinha seis anos. Sempre estudei em escola pública e  como não tinha como ir com meus colegas à matinê aos sábados, aos oito anos resolvi mudar aquela situação e criei meu primeiro empreendimento: uma caixa de engraxate, com a qual trabalhava nas ruas para ganhar meu dinheirinho da matinê e ainda levava um pouco para casa.

Sou um inconformado compulsivo, como disse, porque estou sempre querendo criar coisas . Aos 10 anos fui com meus pais para Rondônia, onde morei até os 14 anos, trabalhei como garçom, office boy, vendedor de roupas e até como locutor infantil de um programa chamado O Ouvinte é Quem Manda. Aos 14 anos terminei o primeiro grau, mas na minha cidade não havia escolas de segundo grau. Meu queria que eu virasse peão de fazenda, mas eu já tinha uma mentalidade de querer vencer na vida e sabia que a única chave era a Educação, o conhecimento. Foi assim que peguei minha mala e fui para a casa de um tio, no Nordeste. Graças a um curso de Datilografia feito na minha cidade, consegui meu primeiro emprego formal com esse tio, que mal me conhecia e mudou minha vida. Aluguei um quarto, entrei numa escola pública e fui estudar. O interessante é que esse mesmo curso de Datilografia  me proporcionou o cargo de juiz federal,  porque em 1992 o concurso incluía um teste de Datilografia. Eu havia me formado em Direito, montei uma empresa que não deu certo e decidi ser juiz federal em Recife. Esse curso mudou minha vida, minha história e meu destino.

Sou um sonhador realizador, sou uma pessoa que transforma o sonho num propósito, num projeto de vida e quando isso acontece, traço metas. Não adianta ter sonhos se não traçarmos metas e não adianta traçar metas sem criar métodos, ter muita disciplina e trabalhar muito para tornar o sonho em realidade. E quando realizo um sonho, começo a sonhar outro. Já fiz muita coisa na vida, fui juiz federal, fiz mestrado, doutorado, escrevi 31 livros, sendo um deles é o primeiro de uma série de cinco autobiográficos. Minha história será contada em cinco livros: publiquei o primeiro aos 50 anos, contando minha história desde que saí da Paraíba, até a abertura de capital da minha empresa, o Grupo Ser Educacional, na Bolsa de Valores. Vou lançar o segundo aos 60, o terceiro aos 70, o quarto aos 80 e o quinto, se Deus permitir, aos 90.

O mais recente tem o título “Seja um Fodido Obstinado” e, nele, mostro que ou você é um guerreiro e não fica se vitimizando, ou está fora do jogo do sucesso, da prosperidade e da riqueza financeira. A pessoa tem que empreender na vida antes de empreender empresarialmente, desenvolver suas habilidades socioemocionais, acreditar em si, desenvolver auto confiança,  dizer eu posso, eu quero, eu vou, não interessa de onde venho. Eu vim do nada e não paro por nada. Já fiz um grupo bilionário, o Ser Educacional, mas um dos meus propósitos, entre os muitos que tenho, é participar de mais dez negócios bilionários.

Você é um exemplo. Com a trajetória que teve, deve ter sido um juiz maravilhoso. Principalmente por ter conhecimento do que é carregar o piano do empreendedorismo no Brasil, com todos os desafios que você conhece tão bem quanto eu.

Antes de qualquer coisa, é preciso entender que empreender não é só criar empresas ou ter um CNPJ. É preciso empreender na vida, mesmo sem empresa, como profissional liberal, no setor público, ser empreendedor  social, empreender no CNPJ dos outros, que é o intra empreendedorismo. Empreendedorismo é atitude, ação, estado de espírito, ter mentalidade empreendedora, estar sempre fazendo acontecer, como digo no meu livro “A Arte de Empreender”, transformar pensamentos em ações, e sonhos em realidade. Antes de empreender empresarialmente, procurei empreender na minha vida, primeiro como advogado e, depois, montei uma empresa de cobranças, que infelizmente não deu certo por conta das crises econômicas do país.

Daí resolvi ser juiz federal: tracei uma meta de estudar seis horas por dia durante três anos. Em dois consegui rever o programa do curso três vezes. Mesmo tendo sido reprovado em diversos concursos, não me abati, porque acredito que na garupa do sucesso cavalga sempre o fracasso. Com o tempo consegui passar em vários concursos e assumi o cargo de juiz federal. Já tinha passado por experiências como empreendedor profissional liberal e empreendedor empresarial, que me ajudaram bastante como juiz, especialmente na justiça do trabalho, que normalmente protege muito o empregado, quando na realidade tem que proteger quem tem razão.

Antes achavam que o empreendedor queria se aproveitar dos outros. Hoje já se percebe que o Brasil é o que é, por conta de tantos empreendedores que acreditam no país, investem seu tempo, seu dinheiro e sua vida para construir coisas que geram empregos e renda.

O empreendedor, especialmente o empresarial, gera riqueza/renda, trabalhabilidade e empregabilidade. Os leigos neófitos acham que quem gera riqueza é o governo mas não, só come a riqueza  criada por nós, empreendedores empresariais, de um setor produtivo que paga impostos para o governo pega que, muitas vezes nem os usa como deveria usar. As pessoas precisam mudar a mentalidade de que o empreendedor empresarial é nefasto, explorador. Ao contrário: ele gera riqueza, faz com que o país cresça. Empreendedores de sucesso estão virando personalidade públicas, porque as pessoas estão se inspirando neles. Eu, por exemplo, tenho chegado em diversos lugares e as pessoas pedem para tirar foto comigo. Além de ter criado muitas coisas, empresas, tenho procurado inspirar as pessoas e sempre falo pelas minhas redes sociais que é possível sonhar, empreender e transformar sonhos em realidade, sonhar uma empresa, criá-la, desde que se  observe os  princípios transcendentais para uma vida humana digna, se faça as coisas com honestidade, transparência, integridade. Apesar de difícil, o Brasil é um país cheio de oportunidades, onde as pessoas que vieram de baixo podem  chegar ao ápice.

Muita gente me pergunta qual é o atalho, qual o segredo, qual o milagre que me fez crescer. Você tem algum?

Não existe milagre, nem atalho. Sorte é o apelido que se dá ao preparo, ao trabalho, à luta extenuante. Sucesso  e prosperidade são a conjugação de uma série de coisas. O que é sorte? É a conjugação de habilidade, competência, conhecimento, determinação, disciplina, foco, persistência, perseverança, dedicação, compromisso, modelagem, networking, otimismo, positividade e, sobretudo, iluminação divina. Não falo de religião, mas de fé. Mas só fé em Deus não basta, porque Deus vai fazer tudo por você, só não a sua parte.  Deus dá saúde, jovialidade, inteligência e  cabe a você usar. Iluminação divina é ter fé em Deus com proatividade e em si próprio. Não adianta se vitimizar.  Tem que procurar fazer a coisa certa, se pautar pelos valores de Deus, sem passar por cima das pessoas, com gratidão, humildade, que fazem parte de um princípio maior que é fazer a coisa certa.

Muita gente procura esse atalho sem fazer a coisa certa, acha que conseguiu, mas não se sustenta.

Atalho é modelar as pessoas que já fizeram o que você quer fazer, que já chegaram onde você quer chegar. É atalho porque você vai  evitar cometer os mesmos erros, os mesmos fracassos que a pessoa cometeu e fica mais fácil, ganha tempo. Isso inclui a mentoria. Mas essa é apenas uma chave. É importante usar os códigos da riqueza e do sucesso sistematicamente e não isoladamente. Não adianta modelar se for uma pessoa negativa, não souber fazer networking, não sentir merecimento para alcançar o que quer, se não tem uma programação mental de prosperidade. As chaves que coloco no livro “O Código Secreto da Riqueza” têm que ser utilizadas sistematicamente. Não adianta nada se a pessoa não se preparar, não adquirir conhecimento. Algumas pessoas não têm riqueza financeira por conta do conhecimento que ainda não adquiriram e não aplicaram.

A vida é feita de altos e baixos, já ganhei dinheiro, já perdi, ganhei de novo, tem coisa que dá certo, que dá errado. A vida não é uma curva ascendente tranquila. Sempre tem alguma coisa ali na frente, temos que estar sempre preparados para o que pode acontecer. Concorda?

Como a vida é feita de altos e baixos, todos os dias vão aparecer obstáculos, adversidades, daí a importância  de utilizar a chave da resiliência, de aprender a ser tolerante, flexível, aprender com os erros e fracassos, com as dificuldades, a tirar lições deles. Essa é uma chave de extrema importância na vida do ser humano.

Quantas empresas você tem hoje?

Não sei, acho que vou ter que fazer esse levantamento.  Só o Grupo Ser Educacional tem mais de 500 CNPJs. Também tenho o Family Office, que investe em diversas empresas. Sou um dos controladores do Bossa Nova, que tem mais de 1.700 empresas associadas. Realmente não sei o total. Investimos todos os dias em empresas novas, temos alguns exits, fica difícil saber em quantas empresas a gente participa. Por exemplo, participo como presidente ou vice-presidente de mais de 10 Conselhos de Administração das empresas mais importantes do grupo. Fora as empresas em que investimos e não participamos de conselho, só nos baseando em relatórios mensais para ver se estão desempenhando.

Quais são os desafios de contratar uma equipe boa, competente?

O maior problema do empreendedor empresarial, hoje, é fazer times. Além de ser uma virtude, é muito difícil. Mas precisamos estar sempre buscando, procurando pessoas boas,  oferecendo não só atrativos financeiros, mas outros como partnership, dar stock op, para ter a pessoa do nosso lado, porque o maior ativo das empresas são as pessoas. Estamos sempre atrás de gente boa, quanto mais investimos mais precisamos.  Quanto melhor os times, mais posso investir. O maior atrativo para contratar uma pessoa é ela ter necessidade, precisar, querer, porque habilidade técnica pode ser ampliada, treinada, mas antes de tudo é preciso ter caráter, lealdade.

De todo esse trabalho do Grupo Ser, o que mais te impacta, o que você mais gosta?

Além de empreender empresarialmente e cuidar das empresas com fins lucrativos, gosto muito dos meus projetos sociais. Um exemplo é o Instituto Janguiê Diniz, que criei na minha cidade para dar bolsas de estudos para todos os jovens que terminam o segundo grau e não podem ir para uma  universidade. Mudei de Recife para São Paulo porque é a terra do empreendedor e também porque queria  fazer um projeto social coletivo para jovens de escolas públicas. Consegui reunir 34 empresários  e criamos o Instituto Êxodo de Empreendedorismo com o objetivo de mudar a mentalidade dos jovens de escolas públicas. Hoje temos quase mil associados empreendedores e já passaram pela nossa plataforma mais de 100 mil jovens. Nós fazemos vídeos sobre empreendedorismo e levamos de graça para escolas públicas.  Recentemente fizemos um convênio com a Unesco e criamos um Sistema de Ensino sobre Empreendedorismo, que estamos levando para outros municípios com o objetivo de ajudar os jovens a desenvolverem habilidades sócio emocionais e técnicas sobre empreendedorismo.  Acredito que cursar uma universidade que tenha bons cursos é essencial para quem quer aprender e ajuda muito a empreender. Você pode adquirir conhecimento fora da Universidade, mas o ideal é juntar as duas coisas.

E como começar um negócio?

Pela paixão. As pessoas me dizem que querem empreender, mas não sabem nem por onde começar. Eu digo: descubra os seus dons, os seus talentos, porque é mais fácil empreender naquilo que você é bom. Mas nada impede de começar um negócio com coisas que você não gosta, embora seja mais difícil. Como alguém pode começar algo em que não tenha habilidades? Adquira ou contrate pessoas que tenham habilidade para montar aquilo que você não tem, chamadas master minds. Ou seja, não tem desculpa. Só não faz quem não quer. Todo mundo  pode, mas tem que empreender na vida, acreditar que pode. Estude, leia livros autobiográficos de pessoas que vieram do zero e que fizeram acontecer. A vida é feita de escolhas e renúncias. A pessoa tem que renunciar à cervejinha,  novela, trocar por estudo, trabalho, coisas que vão ajudá-la a crescer e a construir.

Qual foi seu pulo do gato, que momento foi esse além do famoso curso de Datilografia?

São vários pulos,  a vida é feita de escolhas, decisões. O primeiro foi quando decidi ser engraxate, foi ressignificação de vid. A grande virada foi aos 14 anos, quando meu pai queria que eu fosse trabalhar como peão, fiz minha mala e me mandei. Outro foi quando decidi ser magistrado e, depois, quando resolvi  pedir exoneração para ser empreendedor. Quando resolvi montar um cursinho para concursos, quando montei minha primeira faculdade contra tudo e contra todos, quando levei ao grupo um fundo de investimentos mesmo tendo dinheiro em caixa. Uma enorme virada foi quando abri capital na Bolsa de Valores.

Então, não existe um só pulo. A prosperidade é a conjugação de muitos pulos do gato, de muitos elementos. Pulo de gato é virada de chave, ressignificação de vida, turn around. Mas repito: já virei  a chave muitas vezes e ainda vou virar muitas daqui para a frente. Muita gente me questiona por que saí de Recife, da beira do mar, para São Paulo. Porque eu queria mudar, estar em algo mais movimentado, num ecossistema de empreendedorismo mais ativo. Virar a chave, estar sempre mudando, é fundamental para a vida das pessoas. Estou sempre criando coisas para mudar a mentalidade das pessoas, para adquirir mentalidade de construção.

Você também tem um programa incrível de TV.

Na verdade, ele se divide em três. A primeira temporada é Start Up – A Arte de Inovar e foi gravada no primeiro semestre deste ano. Agora  vamos começar A Batalha das Start Ups e depois vai ter A Batalha dos Investidores. Tudo na Record News. Temos tido muita audiência e aparecem muitas empresas interessantes. Tivemos mil inscritos, selecionamos 100, depois 72, depois 32 para participar. Aceleramos essas empresas e os investidores podem investir além da aceleração.

E sonho, tem mais algum?

Muitos. Tenho sonhos empresariais, pessoais, sociais. Empresariais, além de investir em muitas empresas, sonho em participar em sociedade com 10 empresas que faturem na casa do bilhão. Pessoais, já escrevi 31 livros, mas quero escrever mais um, que seja best seller mundial.  Sociais, quero levar o Instituto Êxodo para todas as cidades do Brasil, depois para a América Latina. Tenho sonhos também de lazer, todos os anos viajo de moto pelo mundo. Este ano vou sair do Acre para Machu Pichu com 10 amigos motociclistas.

E qual a mensagem que você deixa para nossos tubarões?

Tanto o sucesso como o fracasso cobram um preço. O sucesso cobra antes, que é virar a chave, angariar  conhecimento, estudar, trabalhar, lutar com disciplina e determinação, acordar cedo,  para usufruir depois. O fracasso cobra depois. Talvez você esteja pagando o preço hoje, porque não pagou antes.  A glória, o ápice, o apogeu, têm um preço e só chega lá quem paga esse preço.  Mas eu digo: procure pagar agora para usufruir depois e não ter que pagar depois.