Como levantar capital para sua empresa, por Cris Junqueira, do Nubank
Cofundadora do Nubank explica quais são os pontos mais importantes a serem considerados ao buscar investimento para tirar o seu negócio do papel
Publicado em 13 de abril de 2021 às, 15h00.
Última atualização em 13 de abril de 2021 às, 16h40.
Empreender é um sonho para muita gente, mas não é apenas com boas ideias que se começa o próprio negócio. Sem capital para estruturar a empresa, é muito difícil tirar os planos do papel. E é nessa hora que um investimento externo pode ser um verdadeiro divisor de águas para fazer o seu empreendimento deslanchar.
Em sua coluna em vídeo para a EXAME desta quinzena, Cristina Junqueira fala um pouco sobre o que é capital semente e dá dicas valiosas para que você consiga levantar meios de investir no seu sonho.
Começando a empreender
Não poderia começar a falar sobre empreendedorismo sem reforçar a coisa mais importante sobre criar o próprio negócio: você precisa entender quem é o seu público, quem é o seu cliente, e garantir que você esteja resolvendo um problema que seja grande o suficiente para essas pessoas - um problema que doa bastante.
Ter a solução para esse problema é o que vai trazer sucesso para o seu negócio. Esse é o primeiro passo.
Mas, só isso não basta. Você pode até começar sem capital, testando algumas possibilidades, mas chega uma hora em que é preciso investimento para conseguir colocar o negócio de pé. E é aí que surge o capital semente.
O que é capital semente?
Capital semente, ou investimento semente, é o primeiro investimento recebido por uma startup ou por uma empresa, num estágio muito inicial do seu desenvolvimento.
Essa empresa, muitas vezes, tem só um protótipo do seu produto, não tem nem equipe formada. Ou, às vezes, já tem até os primeiros clientes, mas precisa de capital para validar o produto com um público maior. É nesse momento que acontece essa primeira injeção de capital. Um empurrão para conseguir colocar a ideia na rua e chegar a um público maior.
No mundo das startups, o investimento semente geralmente é feito por fundos de investimento. Alguns, inclusive, se especializam nesse tipo de etapa, chamada de "early stage", ou "etapa inicial", em que as empresas ainda são bem pequenas e embrionárias.
O investimento também pode ser feito por outros tipos de empresas ou instituições. Recentemente, por exemplo, o Nubank lançou o seu próprio fundo de capital semente chamado "Semente Preta", focado em startups lideradas ou fundadas por empreendedores negros. Um estudo da BlackRocks mostrou que apenas 30% das startups fundadas por pessoas negras receberam algum tipo de investimento. É uma realidade de acesso a capital que ainda é bastante difícil, e o Nubank tem a intenção de impulsionar toda uma nova geração de empreendedores com esse fundo. O valor destinado a essa iniciativa é de R$ 1 milhão e a expectativa é a de ajudar várias startups nesse estágio inicial.
Como conseguir investimento?
Falamos bastante sobre investimento semente e fundos de investimento mas, na prática, essa não é a única forma de conseguir levantar capital. Existem várias outras maneiras de levantar fundos quando se está começando um negócio.
Para isso, você pode usar o seu próprio capital, encontrar um sócio que consiga fazer um aporte, levantar dinheiro com familiares, amigos ou com "investidores anjo" e até mesmo pegar um empréstimo. Se você tem um modelo de negócios mais claro, e conseguir abrir uma conta num banco, levantar algum ativo que você possa dar como garantia também pode ser uma boa opção.
Não importa qual é o caminho que você vai escolher para levantar a sua rodada de investimentos, você vai precisar fazer um "pitch". O pitch é uma apresentação. É a maneira como você vai apresentar a sua empresa, a ideia que você está trabalhando, quem são os seus clientes, como é o seu time e o seu produto - é o momento em que você fala tudo o que pode convencer os investidores a aplicar no seu negócio.
Como fazer um pitch de sucesso?
O pitch é uma maneira clara, objetiva, concisa, direta, de você apresentar a sua empresa para um potencial investidor. Nos estágios mais iniciais, o pitch é usado inclusive para o recrutamento, já que a empresa muitas vezes ainda não existe e você precisa conseguir explicar para as pessoas que você está contratando qual a proposta do negócio.
E, para fazer uma boa apresentação, existem alguns pontos que você precisa garantir que está cobrindo.
- Qual é o problema?
Seja específico. Se conseguir, quantifique. Quantas pessoas são afetadas por esse problema? Qual o tamanho dele? Quanto dinheiro está sendo gasto hoje para tentar resolvê-lo?
Ilustre. Conte uma história. Tenha um personagem. É uma situação que você viveu? Um problema que você ou alguém da sua família tenha passado? Explique como foi que você se despertou para essa oportunidade.
- Qual é a solução?
Mais importante que identificar o problema é explicar como você pretende solucioná-lo. Que abordagem você vai ter? Que ferramentas vai utilizar? Como isso se compara com o que já existe no mercado?
Se você já tiver um protótipo, leve-o. Se for um produto de tecnologia, um aplicativo, coloque imagens das telas que demonstrem como os clientes farão para utilizá-lo. Apresente tudo o que você precisar para tangibilizar a solução que está propondo.
- Quais são os seus diferenciais?
Nessa hora, é importante mostrar também quais são os diferenciais do seu negócio com relação à concorrência. Afinal, podem existir outras pessoas propondo uma solução para aquele mesmo problema e o investidor precisa entender porque deve investir em você e não em outra empresa similar.
O que faz a sua abordagem ser melhor? Por que o seu produto é superior? Quais são as vantagens competitivas que você traz?
- Qual o momento do seu negócio?
Também é essencial conseguir deixar claro para os potenciais investidores qual o momento que a sua empresa vive, quão "inicial" é o estágio em que você se encontra.
O produto já foi criado? Ele já foi testado com clientes? Já existe o "MVP" (Minimum Viable Product), ou seja, o mínimo produto viável que você conseguiria colocar na frente de um cliente para que ele teste e utilize de alguma maneira funcional?
A empresa já tem clientes? Algum faturamento? Já conseguiu validar alguma das premissas de negócio propostas?
A empresa já deu lucro alguma vez? E, nesse caso, veja bem, tudo bem se ainda não - muitas startups demoram anos até começarem a dar lucro porque seguem investindo em crescer seus negócios.
É importante deixar muito claro para os investidores qual é o momento que sua empresa vive e qual a viabilidade do seu negócio no curto, médio e longo prazo.
- Qual a proposta?
Essa é, talvez, a parte mais importante. Qual a sua proposta? De quanto capital você precisa? Quanto valor você está dando para a empresa? Quantos % aquele investidor estaria comprando do seu negócio com o aporte? Qual seria a participação dele?
E, é claro, o que você pretende fazer com o dinheiro? Os investidores precisam saber se o capital será usado para contratar mais pessoas, desenvolver melhor o produto, fazer marketing, ou crescer a base de clientes, por exemplo. Tudo isso precisa estar no seu pitch.
Por fim, como dica final: não economize energia e tempo para aprimorar o seu pitch. Pratique. Apresente para outras pessoas. Se coloque no lugar da sua audiência. Pense no que aquelas pessoas gostariam de saber sobre a sua empresa. Garanta que você esteja colocando a sua melhor versão ali.
Os investidores sentem isso - quão comprometido você está com o negócio, o quanto você acredita nele, sua determinação, quão disposto você está a fazer sacrifícios para levar o projeto para frente - e querem ver a sua segurança e assertividade ao defender suas ideias.
Esse é o momento também em que será julgada a sua capacidade de inspirar as pessoas. Quanto mais cedo na vida da sua empresa, mais importante isso vai ser. As pessoas estão investindo em você empreendedor e, não necessariamente, na sua empresa. Muitas das premissas que você apresentar talvez não se provem ou tenham que ser ajustadas no meio do caminho, mas os investidores querem ver que por trás daquela empresa existe alguém com o bom senso e a disposição para fazer o que é preciso para levar o negócio adiante.