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Edtechs abrem portas para profissionais do futuro

Enquanto as discussões sobre Inteligência Artificial, Web 5.0 e Metaverso amadurecem, o futuro e o presente da educação precisam ser construídos agora

 (Depositphotos/Divulgação)
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Crescer em Rede

Publicado em 13 de fevereiro de 2023 às, 20h38.

Por Luciana Allan* e Bárbara Szuparits**

Se a história da Educação a Distância no Brasil teve muitas fases ao longo das décadas, com cursos por correspondência, pelo rádio, pela TV, chegando à era da conectividade, hoje podemos dizer que vivemos em um cenário que vai muito além do que a sigla EAD pode significar. Enquanto as discussões sobre Inteligência Artificial, Web 5.0 e Metaverso amadurecem, o futuro e o presente do processo de ensino e aprendizagem precisam ser construídos agora!

Não é à toa que as edtechs, startups que aliam tecnologia e educação, têm apresentado taxas de crescimento tão impressionantes nos últimos anos. Ainda que sem o glamour e visibilidade das fintechs, essas empresas crescem e carecem não apenas de mão de obra especializada, mas de uma equipe multidisciplinar para atuar na área.

Não é novidade para ninguém que, com a pandemia de Covid-19 e o isolamento social, o ato de aprender e de ensinar atravessou (e ainda atravessa) uma verdadeira prova de fogo. De um dia para o outro, as aulas precisaram ser remanejadas, repensadas e adaptadas para acontecer de forma híbrida ou totalmente a distância, utilizando as tecnologias digitais disponíveis e por meio da organização de ambientes virtuais de aprendizagem.

Foram muitos os recursos criados a partir de então e acompanhamos um salto na área de tecnologia educacional. Já parou para pensar quais são as empresas que estão liderando esse mercado? E quem são os profissionais envolvidos no processo, qual seu perfil e competências?

Passados três anos do fechamento das escolas para prevenir a disseminação do vírus, muitas das mudanças adotadas no calor da hora se consolidaram e agora são as edtechs e os  profissionais mergulhados no dia a dia que transformam os aprendizados em oportunidades de criação e desenvolvimento de novos produtos para área de educação.

Em uma breve reflexão, é difícil elencar os recursos disponíveis para apoio ao processo de ensino e aprendizagem. Há uma infinidade, tais como os jogos educacionais, as plataformas para gerenciamento do processo de aprendizagem e personalização do ensino, as que melhoram processos de ensino e processos administrativos para aprimorar a gestão escolar, as que oferecem recursos para apoiar a programação, as que oferecem componentes transversais de ensino e focam em educação socioemocional, educação financeira e outras áreas, as que apoiam a formação continuada de professores e várias outras. Muitos destes recursos são, inclusive, apoiados pela inteligência artificial.

O ChatGPT, por exemplo, é capaz de construir uma redação do ENEM em 50 segundos. A Letrus, uma edtech brasileira que já despertou o interesse do prestigiado Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT, e foi reconhecida pela ONU como uma das melhores tecnologias educacionais do mundo, se apresenta como "uma plataforma de desenvolvimento da capacidade da escrita que utiliza tecnologia educacional e inteligência artificial para evolução da escrita dos estudantes".

Quando estudar longe da sala de aula não é mais algo restrito aos cursos a distância, muitas possibilidades se abrem para estudantes e professores, empresários e governantes. Por mais que as desigualdades de acesso à internet e aos recursos digitais ainda persistam na realidade educacional de muitas famílias, é seguro imaginar que, em breve, o cenário se torne mais inclusivo e conectado. E as empresas, claro, estão de olho.

A Faber-Castell, fabricante de materiais escolares com mais de 260 anos de existência, por exemplo, agora investe em edtechs voltadas à gamificação e inteligência artificial. Ao formar parceria com a Jovens Gênios, a empresa conhecida por seus clássicos lápis de cor não quer ficar de fora da transformação digital. A fabricante também fez um grande investimento na Layers Education, um superapp de educação, e na Essia, uma plataforma digital de aprendizado interativo que gera dados sobre o engajamento e performance dos alunos. Será que em algumas décadas deixaremos as canetas e as borrachas para trás?

Por meio de soluções integradas, as edtechs atuam em diversos segmentos, desde a educação infantil até a educação corporativa. Mas quais as características comuns das que mais se destacam no mercado? O desejo de inovar e contribuir para proporcionar momentos de aprendizagem significativa aos estudantes!

Características que deveriam ser princípios elementares no desenvolvimento de qualquer solução educacional no mercado de edtechs nem sempre se confirmam. É muito importante entender o que cada Edtech tem a oferecer para não comprar gato por lebre. Aos gestores escolares, aconselhamos olhar cada recurso com muita criticidade e desconfie sempre daquele representante que diz ter a solução para todos os seus problemas.

Há muitas edtechs aventureiras desenvolvendo soluções de fundo de quintal e que com um belo make up são capazes de envolver e levar a liderança escolar a fazer um investimento alto. Muitas dessas edtechs, por não terem profissionais da educação envolvidos no processo criativo, desenvolvem produtos que não dialogam com o público-alvo, não respondem a desafios reais enfrentados pelas instituições, apresentam metodologia ultrapassada ou mesmo erros conceituais.

E, se para termos bons produtos é necessário envolver uma equipe multidisciplinar com conhecimento da área educacional, quem são esses profissionais? Enquanto no passado licenciados e pedagogos eram, ao lado de designers e revisores, os principais arquitetos das estruturas montadas para construir materiais didáticos e recursos educacionais, agora o leque é bem mais amplo.

Além desses que continuam sendo fundamentais, há outros. Programadores, designers de games, designers instrucionais, gestores de plataforma e cientistas de dados são alguns exemplos de profissionais que também são envolvidos no processo de desenvolvimento de soluções digitais para área de Educação.

Conheça um pouco mais sobre cada um desses profissionais:

  • Designer de Games: é responsável pelas etapas sensíveis na criação de um game educacional, como roteirizar, desenhar e programar atividades e jogos digitais, tendo como principal objetivo otimizar os resultados de aprendizagem dos alunos.
  • Designer Instrucional: tem sido um dos profissionais mais buscados por edtechs por ser responsável pelo planejamento da experiência de aprendizagem como um todo, interagindo com outros profissionais como conteudistas e designers. É quem cria a estratégia de uma experiência de aprendizagem, desde a etapa de descoberta do projeto até a implementação e avaliação.
  • Gestor de Plataforma Virtual de Aprendizagem: os ambientes virtuais de aprendizagem têm sido uma importante ferramenta para educação a distância e ensino híbrido em diversos contextos educacionais. O gestor de plataforma é responsável por configurar esses ambientes e mantê-los sempre ativos e atualizados, promovendo as melhores experiências de navegação aos usuários.
  • Cientistas de Dados: são os profissionais responsáveis pelas estratégias de coleta e análise de dados que subsidiam as melhores tomadas de decisão em educação ou que auxiliem a prever evasão, por exemplo, e acompanhar métricas de engajamento e desempenho dos alunos.

Não é interessante? Vale aqui mencionar que além da escassez dessa mão de obra, há poucos cursos e especializações voltados ao setor e muitas empresas acabam desenvolvendo seus próprios talentos.

A Repensar Educacional, edtech que fornece uma série de soluções para o setor, se destaca no ramo por também possuir uma agenda de formação para profissionais que desejam atuar neste mercado. Ou seja, a grande demanda por educação pede, justamente, mais formação!

No país, o número de edtechs cresceu 26% apenas durante a pandemia de Covid-19. O levantamento realizado pelo CIEB (Centro de Inovação para a Educação Brasileira) em parceria com a Abstartups (Associação Brasileira de Startups do Brasil), que considera dados coletados entre 2019 e 2021, revela que há pelo menos 566 edtechs ativas no mercado de educação do país. Essas empresas representam 5,7% das startups de maior destaque no Brasil, as chamadas Emerging Giants (Gigantes Emergentes), segundo análise realizada pela Distrito e KPMG.

Já de acordo com outro levantamento da plataforma de inovação Distrito, relativo aos investimentos em startups no ano de 2021, as edtechs receberam aportes totalizando US$ 553 milhões (cerca de R$ 2,8 bilhões).

No exterior, a tendência é também evidente e chamam a atenção a plataforma Coursera, de capital aberto, e o Duolingo, popular entre os amantes de idiomas. Um dos fenômenos do início desta década está no aprendizado por lazer, que motivou tantos adultos a buscarem um curso enquanto estavam isolados em suas casas.

Apostar em tecnologia e em educação é o que move muitos investidores, principalmente aqueles que desejam promover impacto social e estão de olho nas agendas globais de desenvolvimento. Ao que parece, a já batida frase “é preciso investir em educação!” nunca foi tão atual.

(*) Luciana Allan é Doutora em Educação pela USP e diretora técnica do Instituto Crescer, onde há mais de 20 anos lidera projetos nacionais e internacionais na área de educação.

(**) Bárbara Szuparits é Mestre em Linguística Aplicada, co-fundadora e diretora de Educação na Repensar Educacional.