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Guedes fica até 2022 “desde que consiga fazer reformas”. Nada muda no BC

Ministro da Economia conversou com a coluna na tarde deste domingo e falou sobre os planos para a segunda metade do governo

Ministro da Economia, Paulo Guedes (Marcos Corrêa/PR/Divulgação)
Ministro da Economia, Paulo Guedes (Marcos Corrêa/PR/Divulgação)
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Coriolano Gatto

Publicado em 21 de dezembro de 2020 às, 13h18.

Última atualização em 21 de dezembro de 2020 às, 15h11.

Ao pisar no acelerador das mudanças necessárias que darão consistência ao ciclo pós-pandemia, em que a política fiscal terá relevância -- os famosos gastos públicos para os pobres e paupérrimos --, o Ministério da Economia sabe que é preciso agir com celeridade nas reformas tributária, administrativa e na PEC Emergencial. Isso é para não correr o risco de repetir um notório político inglês, no início do século XX, Sir Edward Grey, cuja síntese do seu pensamento é citada por A.G. Gardiner, editor do influente Daily News, no clássico “O Horror da Guerra”, de Niall Fergusson, sobre a Primeira Guerra Mundial. Eis a análise do arguto editor a respeito das indecisões de Grey:

“A inflexibilidade de sua mente, desprovida de grande conhecimento de uma rápida compreensão dos fatos ou de uma intensão paixão pela humanidade, constitui um perigo ao futuro. Seus objetivos são elevados; sua honra, imaculada; mas a lentidão de seu pensamento e sua fé inabalável na honestidade daqueles em quem precisa confiar o arrastam facilmente para rumos que um senso mais imaginativo e um instinto mais aguçado o levariam a questionar e a repudiar.”

Esse pensamento é o oposto ao de um Brasil que engendra reformas para garantir o futuro de novas gerações. Isso não significa que o governo terá capacidade de promover tantas mudanças em um ano que antecede as disputas para presidente da República, governadores, senadores e deputados. Depende, claro, de muitas negociações com o Congresso Nacional.

À coluna, no fim de tarde ensolarado no Rio, domingo, o ministro, economista e maestro da política econômica, Paulo Guedes, que tem fama de não levar desaforo para casa nem deixar de acompanhar o seu time, o Flamengo, conversou por quase uma hora, pelo celular com o signatário, a quem ele conheceu pouco antes do Plano Cruzado, em 1986. 

Além dos números já divulgados, Guedes, com fala mansa e o ainda discreto sotaque mineiro, foi direto no ponto:

“O Brasil vai encerrar o ano com 45 milhões de empregos formais, entre 33 milhões no setor privado e o restante na área pública. É o mesmo número de 2019. Mesmo com a pandemia, conseguimos manter a formalidade em razão dos estímulos à economia” (é evidente que a taxa de desemprego entre os informais e os jovens é alta);

“Mesmo com a expansão da dívida pública, indicador esperado em razão da pandemia, o Brasil está muito seguro”;

“A reforma tributária em curso criará um IVA (Imposto Sobre Valor Agregado), que extinguirá o atual PIS/Cofins, dando maior liberdade aos estados, o que reduzirá carga tributária. Não haverá aumento de imposto”;

“Passaporte tributário. O Brasil tem um contencioso tributário da ordem de R$ 3,5 trilhões (o maior do mundo e quase a metade do PIB). Como esses números são muito elevados, o governo planeja fazer propostas competitivas para os grandes grupos empresariais com vistas a reduzir o contencioso superlativo e, sobretudo, o tempo da disputa”;

Como um ex-banker, Guedes sabe também que é indefensável a tributação de dividendos sem a devida contrapartida e, para amenizar o impacto sobre as companhias, é necessário o recuo do IRPJ de 25% para 20%;

E os famosos profissionais liberais ou pequenos negócios com uma tributação de dividendos de 20%? Guedes, mais com jeito de consultor do que como ministro de Estado, disse o que alguns já sabiam: corra para o Simples. É evidente que o tributo sobre os dividendos pode recuar para 15% em razão de negociação com o Congresso, mas jamais cairia muito como propõem os lobbies das organizações de profissionais liberais.

“Na reforma administrativa, estão garantidos os direitos dos atuais servidores. Não vamos mexer nisso. A regra valerá somente para os novos funcionários”

“Eu fico até o fim do governo desde que consiga fazer as reformas e tenha a confiança do presidente Bolsonaro. Da mesma forma, tenho enorme confiança no Roberto Campos Neto, que conduz o Banco Central aqui e lá fora. É competente e age com eficiência”;

Apesar da agenda apertada, às vésperas de férias, cujo local ele ainda prefere omitir, ele esbanja uma saúde – tem 71 anos _ e avisa aos seus detratores que a nação será um nada caso não seja preparada e organizada hoje para as futuras gerações. Ou, de forma triunfal, dito pelo ex-primeiro ministro inglês Winston Churchill, em 1943:

“Não se preocupe, não importa se eu morrer agora; os planos da vitória foram estabelecidos, é apenas uma questão de tempo.”

Coriolano Gatto é jornalista e colunista da EXAME