Economia: nem bonita que abisme, nem feia que faça medo
Nesta altura do campeonato está relativamente claro que o folguedo pós-impeachment foi precipitado. É preciso, no entanto, evitar uma perversidade associada às grandes baixadas de bola: o risco de exageros para o outro lado. Sigo bastante preocupado com os diversos buracos no casco do barco, com as condições meteorológicas hostis e com as caranguejadas da […]
Da Redação
Publicado em 12 de dezembro de 2016 às 11h05.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h59.
Nesta altura do campeonato está relativamente claro que o folguedo pós-impeachment foi precipitado. É preciso, no entanto, evitar uma perversidade associada às grandes baixadas de bola: o risco de exageros para o outro lado.
Sigo bastante preocupado com os diversos buracos no casco do barco, com as condições meteorológicas hostis e com as caranguejadas da tripulação. Apesar disso, parece cedo para vaticinar que teremos o destino do Titanic.
Em uma coluna do início de novembro, escrevi que havia chance de 75% do PIB ter encolhido mais do que 0,6% no trimestre passado. Partindo conservadoramente dessa estimativa e supondo que o crescimento se aceleraria de forma linear até chegar a um ritmo robusto de 4% ao ano, o PIB de 2017 deveria praticamente ficar estagnado em relação ao de 2016.
Após anos apanhando com o ofício de fazer previsões aprendi que é de bom alvitre evitar opiniões categóricas nesta lavrada. Ainda assim, o tropeço no terceiro trimestre e a existência de condições adversas indicando uma recuperação lenta e irregular à frente tornavam duvidosos os palpites de crescimento de 2% ou mais no ano que vem e 4% em 2018. Uma decepção estava encomendada.
O PIB acabou caindo 0,8% no terceiro trimestre. Com as informações disponíveis, chego a uma projeção de crescimento de apenas 0,7% em 2017 supondo estabilidade no quarto trimestre, além da premissa um tanto otimista de aceleração linear do crescimento para um ritmo de 4% no réveillon de 2018. O juízo recomenda, portanto, estar preparado para a eventualidade de a economia não crescer ou até mesmo encolher novamente no ano que vem.
Quer dizer então que a vaca está indo para o brejo? Talvez, mas não necessariamente. É da natureza humana interpretar frustrações como indício de que as coisas estão piorando. No entanto, elas podem simplesmente significar que havia excesso de otimismo no começo da história. Cantou-se vitória cedo demais, mas isso não quer dizer que o jogo esteja perdido.
Há duas razões para manter um fiozinho de esperança.
Primeiro, o governo Temer tem conseguido aprovar com margem folgada projetos importantes, que fazem diferença no longo prazo. Segundo, há amplo espaço para reduções do juro básico capazes de dar uma animada na economia no curto prazo.
A paz no Planalto Central continuará sendo perturbada pelo fato de que o atual governo e a base que o sustenta estão abrigados por um telhado de vidro bem fininho. Para complicar, contrariando o que se imaginava há um tempo, o tal profissionalismo político tem deixado a desejar.
Ainda assim, é possível discernir avanços. O governo está tão entranhado em maracutaias como o anterior, mas tem emplacado com alguma facilidade mudanças importantes que requerem quórum qualificado, como a aprovação da DRU ampliada e o avanço da PEC que estipula um teto de gastos. Não é pouca coisa.
A proposta de Reforma da Previdência implica poupança da ordem de R$ 700 bilhões em dez anos. Evidentemente ela será “desidratada” pelo Congresso. Ainda assim, o conteúdo ambicioso e a tramitação rápida até o momento sugerem que a carruagem, entre chuvas e trovoadas, continua avançando na direção correta.
Além disso, a Petrobras tem sido gerida com competência. Os bancos públicos não são mais poços sem fundo. Apesar das enormes barreiras para avançar os projetos de infraestrutura, o governo tem a noção de que é impossível predeterminar todas as condições de um leilão.
O Banco Central, por sua vez, poderá ajudar a dar uma animada no curto prazo. O estado lastimável da economia tende a empurrar a inflação para baixo em um contexto em que as expectativas de inflação de médio prazo encontram-se relativamente ancoradas. O caráter fortemente inercial da inflação brasileira pode atrapalhar um pouco, mas não deve impedir o juro de cair significativamente no futuro – mais do que se espera.
A redução do juro aliviará parte do estresse do mercado de crédito, abrindo espaço para estabilização da economia e, depois de um tempo, recuperação do crescimento. Esta previsão baseia-se no fato de que o encolhimento do crédito não é uma anomalia grave e com vida própria como a que se observa em países desenvolvidos. No Brasil, falta dinheiro simplesmente porque o preço está caro. Quando ele cair, as coisas devem se normalizar.
O Cristo Redentor só decolará consistentemente se o ímpeto reformista do atual governo for sancionado pelas urnas em 2018. É muito cedo para afirmar que isso ocorrerá e, até lá, contamos com uma igara precária para cruzar o oceano – perspectiva que recomenda sobriedade e nervos de aço. Mas, em meio às lambanças, o governo tem remado na direção certa.
Nesta altura do campeonato está relativamente claro que o folguedo pós-impeachment foi precipitado. É preciso, no entanto, evitar uma perversidade associada às grandes baixadas de bola: o risco de exageros para o outro lado.
Sigo bastante preocupado com os diversos buracos no casco do barco, com as condições meteorológicas hostis e com as caranguejadas da tripulação. Apesar disso, parece cedo para vaticinar que teremos o destino do Titanic.
Em uma coluna do início de novembro, escrevi que havia chance de 75% do PIB ter encolhido mais do que 0,6% no trimestre passado. Partindo conservadoramente dessa estimativa e supondo que o crescimento se aceleraria de forma linear até chegar a um ritmo robusto de 4% ao ano, o PIB de 2017 deveria praticamente ficar estagnado em relação ao de 2016.
Após anos apanhando com o ofício de fazer previsões aprendi que é de bom alvitre evitar opiniões categóricas nesta lavrada. Ainda assim, o tropeço no terceiro trimestre e a existência de condições adversas indicando uma recuperação lenta e irregular à frente tornavam duvidosos os palpites de crescimento de 2% ou mais no ano que vem e 4% em 2018. Uma decepção estava encomendada.
O PIB acabou caindo 0,8% no terceiro trimestre. Com as informações disponíveis, chego a uma projeção de crescimento de apenas 0,7% em 2017 supondo estabilidade no quarto trimestre, além da premissa um tanto otimista de aceleração linear do crescimento para um ritmo de 4% no réveillon de 2018. O juízo recomenda, portanto, estar preparado para a eventualidade de a economia não crescer ou até mesmo encolher novamente no ano que vem.
Quer dizer então que a vaca está indo para o brejo? Talvez, mas não necessariamente. É da natureza humana interpretar frustrações como indício de que as coisas estão piorando. No entanto, elas podem simplesmente significar que havia excesso de otimismo no começo da história. Cantou-se vitória cedo demais, mas isso não quer dizer que o jogo esteja perdido.
Há duas razões para manter um fiozinho de esperança.
Primeiro, o governo Temer tem conseguido aprovar com margem folgada projetos importantes, que fazem diferença no longo prazo. Segundo, há amplo espaço para reduções do juro básico capazes de dar uma animada na economia no curto prazo.
A paz no Planalto Central continuará sendo perturbada pelo fato de que o atual governo e a base que o sustenta estão abrigados por um telhado de vidro bem fininho. Para complicar, contrariando o que se imaginava há um tempo, o tal profissionalismo político tem deixado a desejar.
Ainda assim, é possível discernir avanços. O governo está tão entranhado em maracutaias como o anterior, mas tem emplacado com alguma facilidade mudanças importantes que requerem quórum qualificado, como a aprovação da DRU ampliada e o avanço da PEC que estipula um teto de gastos. Não é pouca coisa.
A proposta de Reforma da Previdência implica poupança da ordem de R$ 700 bilhões em dez anos. Evidentemente ela será “desidratada” pelo Congresso. Ainda assim, o conteúdo ambicioso e a tramitação rápida até o momento sugerem que a carruagem, entre chuvas e trovoadas, continua avançando na direção correta.
Além disso, a Petrobras tem sido gerida com competência. Os bancos públicos não são mais poços sem fundo. Apesar das enormes barreiras para avançar os projetos de infraestrutura, o governo tem a noção de que é impossível predeterminar todas as condições de um leilão.
O Banco Central, por sua vez, poderá ajudar a dar uma animada no curto prazo. O estado lastimável da economia tende a empurrar a inflação para baixo em um contexto em que as expectativas de inflação de médio prazo encontram-se relativamente ancoradas. O caráter fortemente inercial da inflação brasileira pode atrapalhar um pouco, mas não deve impedir o juro de cair significativamente no futuro – mais do que se espera.
A redução do juro aliviará parte do estresse do mercado de crédito, abrindo espaço para estabilização da economia e, depois de um tempo, recuperação do crescimento. Esta previsão baseia-se no fato de que o encolhimento do crédito não é uma anomalia grave e com vida própria como a que se observa em países desenvolvidos. No Brasil, falta dinheiro simplesmente porque o preço está caro. Quando ele cair, as coisas devem se normalizar.
O Cristo Redentor só decolará consistentemente se o ímpeto reformista do atual governo for sancionado pelas urnas em 2018. É muito cedo para afirmar que isso ocorrerá e, até lá, contamos com uma igara precária para cruzar o oceano – perspectiva que recomenda sobriedade e nervos de aço. Mas, em meio às lambanças, o governo tem remado na direção certa.