Bolsonaro 500 dias e o limite da “narrativa” das marcas
Vale tudo nessa disputa? Fábio Wajngarten e sua defesa questionável.
Fabricio Trevisan
Publicado em 24 de maio de 2020 às 16h47.
Última atualização em 24 de maio de 2020 às 17h55.
As “narrativas” estão surradas. O termo, contar histórias, tanto faz se reais ou ficcionais, é quem vem pagando o preço pelo mau uso. O mais justo, talvez, fosse passar a cobrar responsabilidade dos narradores e contratantes, condizente com as posições que ocupam.
Fábio Wajngarten, secretário especial de comunicação da presidência da República, publicou neste domingo (24.05), na Folha de S. Paulo, o artigo: “Em 500 dias ninguém ficou para trás”.
O texto, uma espécie de dialética erística (ou como vencer um debate sem precisar ter razão), poderia ser apenas mais uma peça “quase comovente” de mais um entre tantos assessores pressionados por clientes desconectados com a realidade, porém acende uma luz amarela sobre os limites éticos dos emissores oficiais e limites do vale-tudo da comunicação institucional.
Negar o óbvio é diferente de recriar a realidade. “o governo apresentou suas principais realizações, sem uma única denúncia sequer de corrupção” pontuou logo no primeiro parágrafo.
Seria o mesmo que em um artigo de balanço de governo petista , assessores dissessem que “em 13 anos anos de governo jamais pesaram sobre seus dirigentes qualquer denúncia sequer”.
A própria FW Comunicação (a qual Wajngarten detém 95% das ações), por exemplo, é alvo de suspeitas de repasse de dinheiro de pelo menos duas emissoras de TV (Record e Band) e de três agências de publicidade, contratadas pela sua pasta. Bastaria isso para se repensar o início da redação com maior responsabilidade.
Não seria o caso aqui de pormenorizar outras denúncias contra o governo federal, envolvendo políticos relacionados, familiares e o próprio mandatário, o foco aqui são os limites da comunicação (não censura, bom-senso, mesmo). “Ministério essencialmente técnico” ou “Mesmo lamentando a existência da pandemia orientou para preservar vidas” continuou o assessor.
Param aqui também as referências políticas e contradições. Bastaria uma pesquisa rápida para confrontar versões. Bastaria também ao autor do artigo selecionar as informações com lastro. Esse é um dos componentes perigosos da comunicação de massa, lentamente causar confusão tal, que em determinado momento já não se sabe o que foi realmente que aconteceu.
Elementos narrativos (hipérboles, distorções, omissões, inversões) em anúncios ou comunicação corporativa chegaram mesmo a ser justificados: “Ah, é só propaganda” “Estamos em uma gestão de crise”. Como se já fosse esperado que a defesa irrestrita, sem compromisso com rigor e ônus de apuração, fizesse parte do pacote.
Hoje, esse fenômeno ganha força na proliferação de versões sobre as notícias, que são combustível para as bolhas sociais das redes construírem seus argumentos de pós-realidade com viés favorável, de ambos os lados é bom que se frise.
Não se trata de qual espectro político tem razão, trata-se de examinar compromisso de quem lida com a informação, jornalistas, publicitários, assessores, etc.
Contratar profissionais e agências de PR ou estabelecer o próprio canal de informação não deveria significar: “licença para inventar”. Ao que tudo indica, pessoas, marcas e instituições continuam indo longe demais. Já estamos anestesiados.
As “narrativas” estão surradas. O termo, contar histórias, tanto faz se reais ou ficcionais, é quem vem pagando o preço pelo mau uso. O mais justo, talvez, fosse passar a cobrar responsabilidade dos narradores e contratantes, condizente com as posições que ocupam.
Fábio Wajngarten, secretário especial de comunicação da presidência da República, publicou neste domingo (24.05), na Folha de S. Paulo, o artigo: “Em 500 dias ninguém ficou para trás”.
O texto, uma espécie de dialética erística (ou como vencer um debate sem precisar ter razão), poderia ser apenas mais uma peça “quase comovente” de mais um entre tantos assessores pressionados por clientes desconectados com a realidade, porém acende uma luz amarela sobre os limites éticos dos emissores oficiais e limites do vale-tudo da comunicação institucional.
Negar o óbvio é diferente de recriar a realidade. “o governo apresentou suas principais realizações, sem uma única denúncia sequer de corrupção” pontuou logo no primeiro parágrafo.
Seria o mesmo que em um artigo de balanço de governo petista , assessores dissessem que “em 13 anos anos de governo jamais pesaram sobre seus dirigentes qualquer denúncia sequer”.
A própria FW Comunicação (a qual Wajngarten detém 95% das ações), por exemplo, é alvo de suspeitas de repasse de dinheiro de pelo menos duas emissoras de TV (Record e Band) e de três agências de publicidade, contratadas pela sua pasta. Bastaria isso para se repensar o início da redação com maior responsabilidade.
Não seria o caso aqui de pormenorizar outras denúncias contra o governo federal, envolvendo políticos relacionados, familiares e o próprio mandatário, o foco aqui são os limites da comunicação (não censura, bom-senso, mesmo). “Ministério essencialmente técnico” ou “Mesmo lamentando a existência da pandemia orientou para preservar vidas” continuou o assessor.
Param aqui também as referências políticas e contradições. Bastaria uma pesquisa rápida para confrontar versões. Bastaria também ao autor do artigo selecionar as informações com lastro. Esse é um dos componentes perigosos da comunicação de massa, lentamente causar confusão tal, que em determinado momento já não se sabe o que foi realmente que aconteceu.
Elementos narrativos (hipérboles, distorções, omissões, inversões) em anúncios ou comunicação corporativa chegaram mesmo a ser justificados: “Ah, é só propaganda” “Estamos em uma gestão de crise”. Como se já fosse esperado que a defesa irrestrita, sem compromisso com rigor e ônus de apuração, fizesse parte do pacote.
Hoje, esse fenômeno ganha força na proliferação de versões sobre as notícias, que são combustível para as bolhas sociais das redes construírem seus argumentos de pós-realidade com viés favorável, de ambos os lados é bom que se frise.
Não se trata de qual espectro político tem razão, trata-se de examinar compromisso de quem lida com a informação, jornalistas, publicitários, assessores, etc.
Contratar profissionais e agências de PR ou estabelecer o próprio canal de informação não deveria significar: “licença para inventar”. Ao que tudo indica, pessoas, marcas e instituições continuam indo longe demais. Já estamos anestesiados.