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Do Rio para o Globo

Esse é o case de crescimento do biscoito mais famoso do Brasil

Biscoito Globo: A empresa soube explorar muito bem o cenário local e sua concorrência (Felipe Fittipaldi/Exame)
Biscoito Globo: A empresa soube explorar muito bem o cenário local e sua concorrência (Felipe Fittipaldi/Exame)
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Bora Varejo

Publicado em 13 de janeiro de 2023 às, 20h15.

Por Alfredo Soares

Como todo bom carioca, sou apaixonado pelo Biscoito Globo desde que me entendo por gente. Sua presença nas praias cariocas ao lado dos famosos vendedores de mate se tornou tão famosa que ganhou o título de patrimônio imaterial e cultural da cidade, oficializado pela própria Prefeitura. A história da marca, porém, começa na cidade de São Paulo, quando em 1953 os irmãos espanhóis Milton, Jaime e João Ponce foram morar com seu primo, que tinha uma padaria, e aprenderam a fazer biscoitos de polvilho para venderem na capital paulista.

A virada de chave na vida dos irmãos aconteceu justamente quando decidiram vir ao Rio de Janeiro, em 1955. Nessa viagem, levaram alguns pacotes do produto e venderam muito acima do esperado, o que indicou uma grande oportunidade para levarem sua produção e vendas para a capital fluminense. Com a decisão firmada, instalaram uma fábrica no bairro de Botafogo e começaram a vender seus biscoitos de padaria em padaria, aumentando o awareness do produto ao redor da cidade. 

Em 1963, já com grande popularidade, os irmãos se tornaram sócios de um português especialista em pães, lançando a empresa Panificação Mandarino Ltda, que segue com o mesmo nome até os dias de hoje. Na ocasião, o produto principal dos irmãos Ponce era chamado Biscoitos Felippe, sobrenome dos seus primos. Como o objetivo da sociedade era profissionalizar o negócio e expandir sua atuação, decidiram adaptar para Biscoitos Globo, porém, não alteraram a fórmula, que segue a mesma.

Nessa jornada de adaptação os criadores da marca observaram que existia um lugar no Rio de Janeiro onde todos frequentavam porém as opções de comida eram inexistentes ou extremamente limitadas: as praias. Mais uma vez percebendo a oportunidade diante dos seus olhos, eles aproveitaram para vender os biscoitos a beira-mar, onde a concorrência era baixíssima, criando assim um canal de destaque extremamente lucrativo e eficiente para contato com seu público.

“O Biscoito Globo soube aproveitar muito bem as oportunidades, observando o comportamento de compra dos seus consumidores em diferentes pontos de venda e se adaptando a cada um deles. Em uma época onde não havia a facilidade do digital para viralizar sua marca, a empresa ganhou terreno pouco a pouco e se estabeleceu como uma grande referência em seu nicho até hoje” Lincon Beraldo, especialista em vendas e criador do método 50 em 5.

Com seu ponto de vendas definido, a fábrica passou a vender diretamente para os ambulantes, que se tornaram seus “embaixadores oficiais”. Até hoje, os vendedores fazem fila na porta para comprar as fornadas de biscoitos frescas para vender nas praias, tendo um grande lucro nesse processo (eles são vendidos entre R$ 5,00 e R$ 7,00). Isso deu o alcance e popularidade que o Biscoito Globo precisava para se consolidar de vez como patrimônio do Rio de Janeiro, tudo isso mudando muito pouco sua embalagem, sem abrir franquias ou investir em propagandas de grande impacto em outros canais.

“Na minha opinião, o case de construção do Biscoito Globo é sensacional porque ele é todo baseado na premissa fundamental de qualquer empreendedor: aproveite as oportunidades. A todo momento os criadores da marca adaptaram seu negócio para aquilo que funcionava melhor, sem se acomodar com sua estrutura atual. Não se mantém uma empresa por quase 70 anos sem se movimentar em busca de novas opções de negócios” Bruno Lima, CEO da Caffeine Army.

A empresa soube explorar muito bem o cenário local e sua concorrência, encontrando um canal de vendas extremamente eficiente e lucrativo, mostrando que mesmo um pequeno biscoito de polvilho pode ter seu peso em ouro com a estratégia certa.