Morcego vampiro: ele desenvolveu suas ferramentas para compensar o baixo valor nutritivo do sangue (Uwe Schmidt/Wikimedia Commons)
AFP
Publicado em 21 de fevereiro de 2018 às 12h43.
Última atualização em 21 de fevereiro de 2018 às 12h44.
O "vampiro comum", um morcego de nome evocativo, desenvolveu suas próprias ferramentas para compensar o baixo valor nutritivo do sangue e as muitas doenças que transporta, integrando, assim, a pequena família de mamíferos amantes de sangue, segundo um estudo publicado nesta segunda-feira.
"Os vampiros comuns têm um regime alimentar extremo, e nesse sentido precisam de muitas adaptações no organismo", explica à AFP Tom Gilbert, da Universidade de Copenhague, co-autor do estudo.
Com sua impressionante mandíbula, seus dois grandes dentes incisivos, e gosto pelo sangue, o vampiro comum (Desmodus rotundus) construiu uma reputação um tanto assustadora.
Ainda mais porque se nutrir exclusivamente de hemoglobina é muito raro no reino animal. O sangue é pobre em nutrientes, em glicídios e em vitaminas. Além disso, transporta muitas doenças.
Apenas duas outras espécies de mamífero se contentam com esse tipo de dieta, ambas de morcegos: os "vampiros de patas peludas" e os "vampiros de asas brancas".
Para descobrir o que permite ao animal viver apenas de sangue, Marie Zepeda Mendoza, da Universidade de Copenhague, e seus colegas sequenciaram o genoma do animal e estudou os micro-organismos (bactérias, leveduras, fungos, vírus) que abriga.
Segundo o estudo publicado nesta segunda-feira na Nature Ecology & Evolution, o genoma do vampiro compreende duas vez mais variantes genéticas do que os demais morcegos, que consomem frutas, néctar ou insetos.
Uma descoberta que revela as muitas mudanças genéticas ligadas a esse modo de alimentação.
"A evolução certamente aconteceu de forma gradual. Os vampiros começando a comer insetos que se alimentam de sangue e depois atacando o próprio sangue", diz Tom Gilbert.
Os pesquisadores também estudaram as fezes dos vampiros, descobrindo a presença no corpo do animal de mais de 280 bactérias conhecidas por causar doenças em outros mamíferos.
Para o pesquisador, essa capacidade de viver apenas de sangue, uma abundante mercadoria para a qual existem poucos concorrentes, representa "uma grande vitória evolutiva".