Ciência

O mundo inteiro entra num cheque especial perigoso neste 1º de agosto

O ano nem acabou, mas o consumo de recursos naturais já excedeu a capacidade regenerativa da Terra para 2018. A partir de hoje, operamos no vermelho

Empresas pulverizam capital (5xinc/Thinkstock)

Empresas pulverizam capital (5xinc/Thinkstock)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 1 de agosto de 2018 às 10h25.

São Paulo - Até o final desta quarta-feira (1º), a humanidade terá superado o orçamento do meio ambiente para o ano, passando a operar no vermelho. Em sete meses, esgotamos todos os recursos que a Terra é capaz de oferecer de forma sustentável no período de um ano, desde a filtragem de gás carbônico (CO2) da atmosfera até a produção de matérias-primas para fabricação de bens de consumo.

Mudanças climáticas, poluição do ar, do solo, da terra e da água, desmatamento, perda de biodiversidade, desertificação, eutrofização, sobre-exploração dos recursos naturais...A lista crescente e variada de problemas ambientais tem origem num denominador comum: nossos padrões de produção, consumo e estilo de vida são muito intensivos em energia e materiais, tornando-se assim insustentáveis.

A conta é do Global Footprint Network (GFN), uma organização de pesquisa que mede a pegada ecológica das atividades humanas no mundo. Até o fim 2018, teremos consumido 1,7 planeta Terra, um apetite absolutamente insustentável no longo prazo. Em outras palavras, a humanidade está utilizando a natureza de forma mais rápida do que os ecossistemas do nosso planeta podem se regenerar.

A diferença entre a capacidade de regeneração do planeta e o consumo humano gera um saldo ecológico negativo que vem se acumulando desde a década de 80, também estimulado pelo crescimento populacional — já somos 7 bilhões de habitantes no mundo e até o final do século, seremos 11 bilhões.

Pior, entramos no vermelho cada vez mais cedo. Vinte anos atrás, o “Dia da Sobrecarga da Terra” acontecia em 10 de Outubro. Mas em 1975, era 28 de Novembro. Em 2017, a data foi 2 de agosto; em 2016, foi 8 de agosto. Agora, entramos no vermelho em 1º de agosto, o Dia da Sobrecarga da Terra mais cedo desde a década 1970, quando o mundo começou a esgotar os estoques do planeta antes de acabar o ano.

Os custos desse excesso de gastos ecológicos incluem desmatamento, colapso pesqueiro, escassez de água doce, poluição, erosão do solo, perda de biodiversidade e acúmulo de dióxido de carbono na atmosfera. Tudo isso leva a mudanças climáticas e secas mais severas, incêndios florestais e furacões, destaca a ONG ambientalista WWF, parceira da GFN.

"O Dia da Sobrecarga da Terra pode não apresentar diferenças da noite para o dia - você ainda tem a mesma comida em sua geladeira", disse o CEO da Global Footprint Network, Mathis Wackernagel, em comunicado. "Mas, os incêndios estão ocorrendo no oeste dos Estados Unidos. Do outro lado do mundo, os moradores da Cidade do Cabo tiveram que reduzir pela metade o consumo de água desde 2015. Essas são consequências de estourar o orçamento ecológico do nosso único planeta".

Segundo ele, é como se a humanidade realizasse uma operação fraudulenta de investimento. "Nossas economias estão realizando um esquema Ponzi com nosso planeta. Ou seja, usamos os recursos futuros da Terra para operar no presente e nos aprofundar na dívida ecológica", continuou Wackernagel. "É hora de acabar com esse esquema e alavancar nossa criatividade para criar um futuro próspero, livre de combustíveis fósseis e sem destruição planetária."

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