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"A hierarquia é uma estrutura humana horrível", diz Patch Adams

Em entrevista a EXAME, o médico da terapia do riso fala sobre as condições trabalhistas atuais e como elas afetam a saúde mental das pessoas

Patch Adams: fundador do Instituto Gesundheit fala sobre saúde mental no trabalho (Maria Eduarda Cury/EXAME/Reprodução)
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Maria Eduarda Cury

Publicado em 21 de agosto de 2019 às 05h55.

Última atualização em 21 de agosto de 2019 às 06h10.

São Paulo - Patch Adams é um médico famoso por seus métodos não convencionais de tratar pessoas com deficiências mentais. Adams é fundador da organização sem fins lucrativos InstitutoGesundheit. Ele funciona como um espaço para tratar pacientes por meio da chamada "terapia do riso", que consiste apenas em fazer as pessoas darem risadas e se sentirem bem. O médico foi o pioneiro em realizar visitas vestido de palhaço em hospitais, ação que virou sua marca registrada, e influenciou outras unidades a fazer o mesmo.Adams veio ao Brasil neste mês para discutir a questão humanitária nos ambientes de trabalho, em um congresso corporativo, e falou sobre a insalubridade de escritórios – além de criticar a atuação de profissionais de saúde.

O médico diz não utilizar o dinheiro para benefício próprio. Guarda para si apenas o necessário para sobreviver. Todo o restante é doado para caridade. Além disso, ele também não possui itens pessoais que considera fúteis, como carro, celular - que diz nunca ter tido ou utilizado um - e outros pertences que um cidadão geralmente almeja comprar.

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Adams, que foi interpretado por Robin Williams no filme "Patch Adams: O Amor é Contagioso" (1998), falou sobre a morte do ator, que cometeu suicídio em 2014. "Williams não me disse, mas eu tenho certeza de que ele pensou: 'eu não posso terminar como esses pacientes que vi com doenças neurológicas'. Ele era um introvertido extremo. Quando morei na sua casa por 12 dias para ele se preparar para me interpretar no cinema, ele se escondia no quarto com seu computador. Então, eu acredito que ele tomou uma decisão inteligente sobre a hora de partir. Eu mesmo já ajudei pessoas a morrer", afirmou Adams, durante o Congresso Nacional sobre Gestão de Pessoas, promovido pela Associação Brasileira de RH. O médico afirmou ainda que o filme, da Universal Pictures, não lhe rendeu dinheiro algum.

Com o objetivo de levantar a questão da saúde mental em ambientes corporativos, Adams acredita que indivíduos que se encontram submetidos em espaços de trabalho negativos devem se colocar sempre em primeiro lugar. Confira, abaixo, a entrevista que o médico deu para a EXAME, onde fala sobre como aprimorar as configurações de trabalho atuais.

EXAME: Durante toda a sua vida, você alcançou uma posição respeitável tanto nas áreas médicas quanto humanitárias. Você acredita que o seu trabalho mudou a forma como os cuidados médicos são feitos nos Estados Unidos?

Patch Adams: Eu tenho 3.000 mil cartas, e metade delas são de médicos convencionais dizendo que nosso trabalho mudou suas vidas. A outra metade são de pacientes dizendo a mesma coisa. Portanto, sim, eu sinto que meu trabalho mudou a medicina. Agora, há grupos de palhaços indo para hospitais em cerca de 140 países - algo que não existia antes.

Trazendo sua filosofia e estilo de trabalho em espaços corporativos, como você imagina um ambiente seguro e respeitoso para pessoas que trabalham sob muita pressão?

Para ser honesto, eu diria para os indivíduos mudarem o seu espaço de trabalho ou trocarem de emprego. Se o ambiente não puder ser amigável e a pessoa for um ativista pelas mudanças sociais, ela deveria descobrir como mudar o espaço, caso não se sinta como alguém que pertence àquele ambiente.

Os ambientes de trabalho podem se adaptar a mudanças em prol do bem-estar dos indivíduos?

Não tenho nada de bom para dizer sobre o capitalismo. A hierarquia é uma estrutura humana horrível. "Eu sou o chefe, faça o que eu digo", é assim que funciona. Em nosso hospital, não existem patrões. No mundo dos chefes, existe o acúmulo de poder contínuo sobre as pessoas e eu acho que, dessa maneira, é muito complicado criar um ambiente realmente saudável.

Você já se deparou com alguma equipe que existe sob uma filosofia de apoio e amor entre os colegas?

Sim, as mulheres são boas nisso. E alguns homens. Eu espero que o que as pessoas entendam é que qualquer indivíduo pode ser exatamente quem ele decide ser, e se ele optar por não decidir, a sociedade e o mercado de trabalho o transformarão em uma pessoa que se encaixa em uma ideia pré-concebida dentro de uma hierarquia.

Na sua opinião, é melhor ter ajuda profissional – como psiquiatras e psicólogos – sempre disponível para pessoas que trabalham em escritórios estressantes ou é mais eficiente construir um ambiente baseado em apoio, respeito e compreensão?

Psiquiatras e psicólogos estão desperdiçando suas habilidades. As drogas que eles prescrevem são horríveis e visão que eles têm sobre o que é a saúde mental é muito pequena. Não acredito em nenhum dos seus diagnósticos. Estou interessado em um mundo de vibração, de vida. No Instituto Gesundheit, acreditamos que a amizade é a força mais forte na comunidade humana. O amor é contagioso. Se nós escolhêssemos viver de maneira "tribal" com um grupo de amigos, tudo ficaria mais barato. O ambiente seria muito mais saudável e você não colocaria todas as suas necessidades sob a responsabilidade do seu parceiro - ou, neste caso, no seu escritório.

Aqui no Brasil, por exemplo, temos algumas empresas que valorizam o bem-estar dos funcionários, proporcionando atividades de intervalo e um ambiente colorido, além de momentos de incentivo entre os colegas. Você vê alguma mudança nos próximos cinco anos, como um aumento desses tipos de espaços? Ou ainda será um conceito subutilizado?

Eu espero que continue. Espero que isso infecte outros espaços de trabalho. Porque, alegria, - e isso é algo que eu tenho sentimentos muito fortes sobre, tanto como um palhaço ou como médico -, é contagiante. Em empresas, podemos ter algo parecido com o Ku Klux Klan, que é mortal e faz com que as pessoas se atinjam negativamente como uma forma coletiva de influência, ou a experiência que citei de palhaços em hospitais. Como exemplo, hoje eu estava em um hospital para crianças com câncer e o médico chefe deixou que eu colocasse meu dedo em seu nariz e meu frango de plástico em sua cabeça, e começou a brincar com os pacientes. Normalmente, esse tipo de doutor é sério e impenetrável. É esse o poder de influência do amor em uma comunidade. Eu quero que as pessoas me ouçam, faço minhas próprias escolhas, decido quem eu quero ser e vou ser essa pessoa independentemente do que estiver acontecendo na minha vida.

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