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Leia bate-papo com Klecius Borges, terapeuta de homossexuais

Leia a íntegra do bate-papo com o terapeuta de homssexuais Klecius Borges. Psicólogo, ex-executivo de bancos de investimento como o JP Morgan, Klecius abriu seu consultório há dois anos para atender homossexuais, principalmente executivos, que sofrem muita discriminação para assumir sua orientação sexual nas grandes corporações. (19:04:54) Selecionador EXAME: Boa noite. A revista EXAME recebe […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h34.

Leia a íntegra do bate-papo com o terapeuta de homssexuais Klecius Borges. Psicólogo, ex-executivo de bancos de investimento como o JP Morgan, Klecius abriu seu consultório há dois anos para atender homossexuais, principalmente executivos, que sofrem muita discriminação para assumir sua orientação sexual nas grandes corporações.

(19:04:54) Selecionador EXAME: Boa noite. A revista EXAME recebe nesta quinta-feira o terapeuta e consultor Klecius Borges, ex-executivo, que é especializado no público gay. A homossexualidade no mundo corporativo foi tema de reportagem da revista EXAME nesta quinzena.

(19:05:42) Selecionador EXAME: Boa noite, Klecius, é um prazer recebê-lo aqui.

(19:06:17) Klecius Borges: Boa noite, é um prazer estar aqui. Espero dar informações que sejam úteis e interessantes sobre o assunto.

(19:06:22) G@tinho15 fala para Klecius Borges: Tenho curiosidade em saber como é seu trabalho com eles (os homossexuais), e como eles são aceitos no mercado de trabalho hoje em dia?

(19:07:24) Klecius Borges: O meu trabalho acontece no consultório atendendo a executivos que queiram falar sobre quaisquer assuntos relacionados a sua carreira e a sua orientação sexual ou nas organizações dando assessoria a respeito de políticos e programas para esse público. De maneira geral, o grau de discriminação tem diminuído muito, mas varia bastante dependendo do segmento de negócios, do tipo de organização e também da origem da empresa.

(19:08:42) GABRIEL fala para Klecius Borges: Por que as empresas abrem espaço para este tipo de trabalho? É muito interessantes, pois geralmente elas estão muito preocupadas com a produtividade.

(19:10:31) Klecius Borges: As organizações mais modernas percebem que quanto mais diversificada for sua população de funcionários, maior a sua chance de competir no mercado. Normalmente, os programas não são específicos para homossexuais, mas são programas de diversidade. Ou seja, onde a organização procura aproveitar da melhor maneira possível toda a diversidade que existe. Com isso, o que conta, na verdade, são os talentos independentemente de sexo, raça, religião e orientação sexual. Como conseqüência, também se sentem melhor e, portanto, torna-se mais produtivo.

(19:11:16) Baurete fala para Klecius Borges: Qual o maior problema enfrentado hoje dentro de uma empresa por um homossexual?

(19:12:42) Klecius Borges: O principal conflito que os homossexuais encontram refere-se "assumir ou não?" dentro da organização. Isso porque as pessoas têm medo do tipo de reação que tal revelação pode causar. Essas reações podem, em alguns casos, ir desde simples brincadeiras e piadinhas até demissão. Porém, é importante entender que hoje já existem leis que protegem os homossexuais da discriminação.

(19:13:00) GABRIEL fala para Klecius Borges: Mas você, então, exerce um trabalho mais para o aspecto organizacional ou clínico?

(19:13:39) Klecius Borges: Trabalho tanto como psicólogo clínico no meu consultório, atendendo indivíduos e fazendo grupos, como também como consultor organizacional.

(19:14:12) H/46 fala para Klecius Borges: É verdade que tem empresas que preferem (sem demonstrar) trabalhadores gays?

(19:14:48) Klecius Borges: Não que eu saiba. As empresas mais avançadas preferem talentos, independentemente de sua orientação sexual.

(19:15:03) Baurete fala para Klecius Borges: E quanto às mulheres homossexuais, quais os maiores problemas?

(19:15:53) Klecius Borges: Os problemas são os mesmos, porém as mulheres, de maneira geral, costumam ter menor visibilidade. Portanto, sofrem menos preconceito evidente. Mas as dificuldades são as mesmas.

(19:16:13) lia fala para Klecius Borges: Qual a sua orientação para o profissional? Ele deve assumir ou esconder sua orientação?

(19:17:26) Klecius Borges: Não há uma fórmula. É preciso levar em consideração vários fatores ao tomar essa decisão. Por exemplo, que tipo de organização você trabalha, os riscos reais e não reais, e fatores mais pessoais. A decisão é sempre muito pessoal e deve ser tomada com cuidado.

(19:18:47) lia fala para Klecius Borges: Quando você era executivo, quais as principais dificuldades que encontrou por ser homossexual?

(19:20:19) Klecius Borges: Pessoalmente, eu não encontrei muita dificuldade, pois eu pude escolher trabalhar em organizações com perfil mais liberal. Mas, de qualquer maneira, assim como a maior parte dos gays no Brasil, a minha postura era assumir seletivamente, ou seja, contar para algumas pessoas, como meu chefe, alguns subordinados e pessoas próximas, com quem eu tinha relações mais constantes e que me serviam de apoio.

(19:20:59) G@tinho15 fala para Klecius Borges: Existe algum tipo de cargo que os homossexuais são excluídos ou em uma empresa ele é aceito por inteiro?

(19:22:48) Klecius Borges: De maneira geral, os homossexuais assumidos são melhores aceitos em posições menos graduadas. Porém, o que acontece na boa parte das vezes é que se o homossexual não se assume e não possui algumas das características consideradas típicas de um homossexual, ele ou ela acaba tendo menos dificuldade. Normalmente, o que as empresas não gostam são de homossexuais que possuem um comportamento mais estereotipado.

(19:23:17) Kako fala para Klecius Borges: Borges, boa noite! Sou gay, 40 anos, e funcionário de uma empresa estatal federal. Não sou assumido para todos os colegas. Apesar de imaginar que todos desconfiam. Gostaria que você comentasse sobre os direitos dos gays nestas instituições.

(19:25:07) Klecius Borges: Não há uma legislação federal específica. Em São Paulo, por exemplo, foi aprovada há pouco uma lei anti-discriminação. Normalmente, cada empresa tem a sua própria política (explícita ou implícita) para lidar com a questão. As empresas de origem norte-americana são as que mais avançaram em políticas específicas anti-discriminação.

(19:25:46) Andréa SP fala para Klecius Borges: Tenho um amigo que namorava meu primo, só que ele vivia falando sobre a necessidade que sente de ser pai. Hoje eles não estão mais juntos e ele está namorando uma garota. Você acredita que ele pode ser feliz assim? Eu poderia fazer alguma coisa por ele?

(19:26:34) Klecius Borges: A felicidade é uma coisa muito pessoal. Há pessoas que conseguem se realizar afetiva e sexualmente com ambos os sexos. Portanto, seria importante você perguntar para o seu primo se ele está feliz.

(19:27:54) Kako fala para Klecius Borges: como você vê o atual projeto de parceria civil?

(19:28:27) Klecius Borges: Acho muito importante. É preciso que haja um reconhecimento público e legal das uniões estáveis entre homossexuais.

(19:28:38) lia fala para Klecius Borges: Você sempre assumiu sua orientação sexual?

(19:29:44) Klecius Borges: Sempre me assumi seletivamente. Isso significa que sempre assumi a minha orientação sexual para as pessoas mais próximas e com quem estabeleço relações significativas. De dois anos para cá, depois que iniciei meu trabalho especificamente com homossexuais, assumi inclusive publicamente.

(19:30:08) Selecionador EXAME: Onde é mais difícil assumir a homossexualidade: em casa, no trabalho ou entre os amigos?

(19:31:02) Klecius Borges: Normalmente, no trabalho. Porque na família, por mais difícil que seja, há sempre a possibilidade do amor e da aceitação incondicional. No trabalho os riscos podem ser muito grandes, como por exemplo, a perda do emprego.

(19:31:32) Marcos/SP fala para Klecius Borges: Sou gay, profissional de informática e trabalho em uma equipe de 6 pessoas. Sinto que elas imaginam alguma coisa, mas ao mesmo tempo preferem não saber. Qual o motivo deste tipo de comportamento? Apenas preconceito?

(19:33:22) Klecius Borges: Às vezes, não é preconceito, mas falta de informação e dificuldade em se relacionar com alguém que é diferente. Os próprios homossexuais, por medo, acabam tendo uma visibilidade muito pequena. E, com isso, deixam às vezes de demonstrar que são pessoas como quaisquer outras. Normalmente, dependendo do ambiente, as reações são sempre mais positivas do que negativas. De certa maneira, é como se houvesse um alívio de parte a parte.

(19:33:53) amoremio fala para Klecius Borges: Tem cura a homossexualidade?

(19:34:21) Klecius Borges: Não, porque homossexualidade não é uma doença. É uma manifestação espontânea da sexualidade humana.

(19:39:07) passivo fala para Klecius Borges: Tenho 28 anos, sou advogado, trabalho na Assessoria Jurídica de um Órgão Público do Estado, em casa tenho a maior dificuldade de expor minha inclinação sexual, apesar de sentir que todos já sabem, mas não comento nada sobre o assunto, tenho alguns amigos gays e no meu trabalho as pessoas me tratam com o maior respeito apesar de saberem, que postura devo adotar na minha casa?

(19:41:01) Klecius Borges: Não tem uma resposta única. Se você sente a necessidade de se abrir para sua família e com isso poder ter uma relação mais verdadeira e autêntica, sugiro que você procure uma forma para fazê-lo. Não é fácil, mas, de maneira geral, as reações são muito positivas e as relações familiares se tornam muito mais satisfatórias.

(19:44:13) G@tinho15 fala para Klecius Borges: Existe algum tipo de preconceito em relação à remuneração de um profissional homossexual?

(19:44:23) Klecius Borges2: Não necessariamente.

(19:44:40) amoremio fala para Klecius Borges: A homossexualidade seria uma frustração? Ou trauma de infância?

(19:45:45) Klecius Borges2: As causas da homossexualidade não são ainda claramente conhecidas, mas, o que se sabe hoje, é que a homossexualidade é resultado de uma interação complexa de fatores genéticos e sociais.

(19:46:01) MARCOS fala para Klecius Borges: Acho que fui mandado embora pelo fato de ser gay. Não sei o motivo direito, mas eles alegaram corte na empresa. Mas, na verdade, a empresa está com anúncios em todos os jornais contratando vários profissionais para toda a rede. O que eu faço? Mudo a minha postura?

(19:46:54) Klecius Borges2: Acho que você deve procurar um dos órgãos de defesa dos direitos dos homossexuais e discutir o seu caso. Você pode encontrar uma relação desses órgãos nos sites http://www.mixbrasil.com.br e http://www.gonline.com.br

(19:47:30) Janoca pergunta para Klecius Borges: Você acredita na recuperação de um homossexual, isto é, deixar de sê-lo?

(19:48:40) Klecius Borges2: Não é possível se alterar a orientação sexual. O que é possível é fazer com que alguém, por razões religiosas ou por pressão, deixe de ter uma vida homossexual. Mas não é possível mudar a orientação, ou seja, o desejo sexual e amoroso por pessoas do mesmo sexo.

(19:49:37) lia fala para Klecius Borges: os homens no trabalho costumam serem mais preconceituosos que as mulheres quando percebem que há um homossexual do lado?

(19:51:17) Klecius Borges2: Depende. De maneira geral, as mulheres aceitam homossexuais masculinos com mais facilidade. Os homens, às vezes, não necessariamente por preconceito têm mais dificuldade em lidar com alguém que é diferente sexualmente. Com relação às mulheres, existem algumas diferenças e, normalmente, acham até excitante as mulheres que se relaciona com outras mulheres. Mas tudo isso é muito genérico e depende de uma série de fatores.

(19:52:35) LIBRIANO 27a fala para Klecius Borges: Trabalho numa equipe muito grande junto a uma multinacional. É incrível como as pessoas têm dúvidas sobre nossa opção sexual. Seria legal eles pesquisarem mais sobre o assunto. Mas o que magoa mesmo é quando as pessoas dão oportunidades para os heteros da equipe.

(19:55:28) Klecius Borges2: Primeiro, é importante ressaltar que não se trata de uma opção. A opção que as pessoas têm é de viver ou não a sua homossexualidade. O desejo amoroso e sexual por pessoas do mesmo sexo é espontâneo, não é uma escolha. É possível que em algumas organizações se discrimine claramente o homossexual. Porém, o que se vê com maior freqüência é que se o homossexual é competente e não assumido as empresas tendem a tolerar a diferença. Depende muito da empresa, mas também da postura do indivíduo.

(19:56:00) IranFlorianópolis fala para Klecius Borges2: você é gay?

(19:56:08) Klecius Borges2: Sim, sou gay.

(19:56:52) Paulo20anos fala para Klecius Borges: Tenho dificuldade em aceitar um tratamento porque aí teria de assumir para o profissional e não sei se estou preparado para isso. É um problema psicológico?

(19:57:50) Klecius Borges2: Muitas pessoas têm dificuldade de falar sobre sua orientação sexual até mesmo com os psicólogos. Por isso é importante ao procurar ajuda profissional identificar o terapeuta que seja aberto, não preconceituoso e preparado para lidar com as questões relativas à orientação sexual.

(19:58:43) Selecionador EXAME: A revista EXAME agradece a participação do terapeuta Klecius Borges, que há dois anos deixou a vida de executivo no JP Morgan, para ser analista de homossexuais. Klecius foi um prazer recebê-lo aqui.

(19:58:56) Klecius Borges2: Agradeço a oportunidade e boa noite a todos.

(19:59:23) Klecius Borges2: Quem tiver interesse pode ler minhas colunas no site da revista G magazine.

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