Bolsonaro: Minha maneira sempre foi unir e não desunir o país
Em entrevista, presidente da República comenta indicação de filho para embaixada, a indicação para a PGR e diz que continua o mesmo de antes das eleições
Estadão Conteúdo
Publicado em 6 de agosto de 2019 às 12h27.
Última atualização em 6 de agosto de 2019 às 13h03.
Sobradinho — O presidente Jair Bolsonaro disse em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo, que não há diferença entre o que ele pensa agora e o que pensava durante a campanha. Além disso, o presidente disse que buscar honrar o que prometeu, ao contrário de ex-presidentes do Brasil.
Em seu entendimento, governadores do Nordeste agem para "dividir o país", enquanto ele trabalharia para unir. Bolsonaro deu uma carona para a reportagem enquanto se deslocava em Sobradinho, na Bahia, na sua segunda viagem ao estado em menos de um mês após controvérsia com políticos da região.
Sobre as polêmicas causadas por declarações recentes, o presidente disse que tenta ser um pouco mais polido, mas que o seu estilo é o mesmo da época da campanha. Aos que o criticam, afirmou: "Paciência. Já sabiam que eu era assim. A gente procura se polir um pouco mais, mas acontece". Leia os principais trechos da entrevista:
O sr. fez hoje (ontem) um discurso inflamado dizendo que o Brasil não pode se dividir. Pode explicar melhor?
O PT lançou a divisão entre nós. E nós temos de nos unir. Agora mesmo estão tendo indícios de que, se não todos, a maioria dos nove governadores do Nordeste quer começar a implementar a divisão do Nordeste contra o resto do Brasil.
A sua vinda ao Nordeste é para sinalizar algo à população?
Não é para isso. Minha maneira de ser sempre foi essa. Unir este país, não desunir.
Boa parte do seu eleitorado diz que gosta do chamado "Bolsonaro raiz". O sr. está voltando a ser "Bolsonaro raiz" depois das eleições de outubro?
Não há diferença do que eu pensava na campanha e do que eu penso agora. Eu quero implementar o que eu falei em campanha. Pela primeira vez na história do Brasil um presidente está buscando honrar aquilo que prometeu durante a campanha. Agora, palavrão sai de vez em quando, isso é natural, pô.
Agora, alguns falam que isso não é linguajar para um presidente. Paciência. Já sabiam que eu era assim. A gente procura se polir um pouco mais, mas acontece. Mas isso não vai me aborrecer, essas conotações que dão, quando a gente fala um pouco mais com o coração do que com razão.
O sr. participou da inauguração de uma usina de energia em Sobradinho (BA). Foi a segunda viagem ao Nordeste desde o início do seu mandato.
Essa obra efetivamente começou a andar no governo do (ex-presidente) Michel Temer. Então, não é obra minha, para não achar que estou querendo pegar obra de ninguém. Agora, também, a obra é feita com dinheiro público.
Não tem pai da criança. Todo o povo brasileiro é que é pai da criança. Estou rodando o Brasil todo, para mostrar, ter espaço, junto à imprensa e dizer que nossa união pode realmente fazer um Brasil melhor.
Como o sr. avalia as críticas em relação ao seu filho, o deputadoEduardo Bolsonaro, ser embaixador nos Estados Unidos?
Num primeiro momento, por ser filho meu, foi bombardeado. O (Donald) Trump mesmo, semana passada, falou que acompanha meu trabalho, me chamou de "Trump dos Trópicos". E citou meu filho Eduardo Bolsonaro como uma pessoa que ele conhece. E quer melhor referência do que essa? Impossível? Agora, obviamente (a indicação) passa pelo Senado, por comissão no Senado.
Com relação àAmazônia, o sr. acha que existe interesse estrangeiro por trás dos dados que mostram aumento de 40% no desmatamento da região?
Tinham interesse por essa área antes mesmo de o Brasil ser descoberto. E aí, é uma loucura minha? 1492. Descobriram a América. O que aconteceu em 1494, dois anos depois? Tratado de Tordesilhas. 1500, descobriram o Brasil. Por coincidência ou não essa área não seria nossa.
O espírito aventureiro do brasileiro do português, é que fez com que esse tratado não fosse respeitado e fosse revogado. Então, a conquista vem daí. Agora, (a Amazônia) é a área mais rica do mundo.
Está sentado à sua esquerda aqui a pessoa que já comandou o Comando Militar da Amazônia e conhece muito bem, melhor do que eu (aponta para o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno Ribeiro).
É a área mais rica do mundo, sem comentários. São incalculáveis as riquezas minerais que têm por ali, a biodiversidade.
Na avaliação do sr., a divulgação desses dados é feita por algum tipo de interesse?
A esquerda usa as minorias para atingir seu objetivo. Ela pega as minorias e usa. Procura um afrodescendente com a cabeça no lugar. Por que ele foi beneficiado com as políticas de cotas do passado? Benefício nenhum, zero.
A questão das comunidades indígenas, a mesma coisa. Usam o índio, usam o negro, usam a comunidade LGBT para atingir seus objetivos. Usam o povo do Nordeste muitas vezes.
O sr. faz críticas à imprensa, mas ao mesmo tempo tem atendido jornalistas com frequência. Como está essa relação?
Uma coisa é você que está na ponta da linha, o cara que opera uma câmera. A outra é lá em cima, o editor e o dono do jornal. Eu gostaria que o que eu vou falar aqui não fosse verdade, e essas palavras aqui não são minhas, mas eu assino embaixo: "Quem não lê jornal, não está informado. Quem lê, está desinformado". Eu queria que essa máxima deixasse de existir. (Nesse momento, o presidente abre sites de notícias no celular e passa a comentar notícias.)
E a relação do sr. com os demais Poderes da República?
Toffoli (ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal), por exemplo, como ele está sob ataques, o pessoal (da imprensa) quer dizer que eu seria um Toffoli do Executivo. O que eu penso do Toffoli: ele é o chefe do Poder Judiciário. E tem de ter respeito e consideração por parte do chefe do Executivo. E vou tratá-lo com todo respeito e consideração, não interessa o que seja discutido lá dentro do Supremo.
O que por ventura eu não goste, sou obrigado democraticamente a aceitar. E ponto final.
Sobre a sucessão na Procuradoria-Geral da República, o senhor vem sendo muito sondado?
Têm ministros e autoridades de vários Poderes (sondando). Essa decisão passa pela minha caneta Bic, pô. E é uma função que a responsabilidade vai ser minha. O que eu quero do futuro chefe da Procuradoria-Geral da República? Que queira ajudar o Brasil com suas ações. Não um cara que fique lá só preocupado de forma xiita com questão ambiental ou de minoria.
Quero uma pessoa que vá ao Parlamento e converse comigo, converse contigo da imprensa e ajude a tirar o Brasil dessa situação.
E como está a relação com o Congresso?
Continua com muito amor e carinho (risos). (Nesse momento, o presidente vê pessoas paradas na pista e pede que o motorista pare para tirar fotos. Antes, quer saber se tem muita gente. O motorista diz "médio". Mas ele decide parar.
O ministro Augusto Heleno, do GSI, diz que "ele gosta muito disso". Minutos depois, volta ao carro e retoma a entrevista.)
Como o senhor se informa todos os dias? Recebe muitas coisas dos ministros?
Olha, eu tenho uma rede de "zap" (WhatsApp) que você está vendo aqui, olha (mostra o telefone). No momento eu tenho 64 pessoas para responder.
Logicamente que não dá para atender a todo mundo. Mas, de acordo com o grau de amizade e de responsabilidade e confiança, a gente prioriza as pessoas para ouvir e que tenha notícias por aqui.
Eu não preciso procurar o site O Estado de S. Paulo, por exemplo, para saber se tem uma boa ou má notícia lá. Alguém vai passar para mim.
Mas o senhor acessa diretamente os sites também?
Sim, inclusive O Estado de S. Paulo está entre os meus prioritários aqui (abre no celular no site do Estado e comenta as notícias do dia). É só botar o "E" e já vem (o endereço do site) O Estado de S. Paulo aqui, ó (mostra o buscador no aplicativo do celular.
Na sequência, relembra que colaborou com o Estado quando era adolescente. Bolsonaro teve 21 palavras cruzadas de sua autoria publicadas no jornal entre 1971 e 1976. O presidente também trabalhou como entregador de jornal).
No caso dos hackers e do vazamento de mensagens de procuradores, o sr. saiu em defesa do ministroSérgio Moro. Por quê?
É fazer justiça, não é proteção. Quer ver uma coisa, é um crime invadir o celular dos outros. Assim com é um crime roubar um carro. Agora, se alguém rouba um carro e vende o carro, quem recebe está praticando crime de receptação. Eu entendo da mesma maneira. Quem recebe algo que foi recebido de forma criminosa, como os dados dos telefones, está praticando receptação também, mais nada.
Quanto ao acordo da União Europeia com oMercosul, o senhor acredita ser a maior conquista do seu governo até aqui?
Olha, está há 20 anos no papel, não é? O governo (Michel) Temer deu um passo muito bom nesse sentido. E nós simplesmente fechamos. Tinha pequenos acertos para serem feitos, como a questão do vinho, a questão do leite. E nós conversamos com os vinicultores, com o pessoal produtor de leite também. Foi feito um acordo entre nós, como reduzir imposto por parte deles para não perder competitividade. E esse acordo abre espaço enorme para o comércio com a Europa.
Os países do Mercosul e Europa têm um mercado de quase 800 milhões de pessoas. Um mercado consumidor enorme. E temos aí 25% do PIB pela frente. Tanto é que o Japão e a Coreia do Sul vão acelerar o acordo conosco. O Donald Trump (presidente dos Estados Unidos) quer conversar e já está conversando conosco nesse sentido. Então, o Brasil ganha.