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Para Renan, quanto pior, melhor

Líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros é um dos principais opositores ao presidente Michel Temer dentro do partido

RENAN CALHEIROS: o líder do PMDB no Senado escancara as divisões do partido de Michel Temer  / Moreira Mariz /Ag. Senado (Moreira Mariz/Agência Senado)

RENAN CALHEIROS: o líder do PMDB no Senado escancara as divisões do partido de Michel Temer / Moreira Mariz /Ag. Senado (Moreira Mariz/Agência Senado)

GK

Gian Kojikovski

Publicado em 24 de maio de 2017 às 16h23.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h11.

Brasília - O senador Renan Calheiros (PMDB-AL), líder do PMDB, virou o símbolo maior da indefinição política que tomou conta de Brasília. Ele o presidente Michel Temer nunca foram amigos — pelo contrário, são adversários históricos dentro do partido –, mas a situação entre ambos atingiu um nível crítico. Com a crise que colocou Temer na beira do abismo após a delação de executivas do grupo J&F, Calheiros é um dos primeiros a tentar fazer o presidente dar um passo à frente. É a maior mostra de que o PMDB, o partido do governo, está rachado.

Na manhã desta quarta, o presidente se reuniu com os senadores do partido. Dos 22 representantes que o PMDB tem na casa, 17 compareceram. Não estavam presentes, justamente, os mais próximos a Renan. A reunião tinha como pauta a reforma trabalhista, mas a discussão, por óbvio, tratou da rebeldia de Renan. O alagoano cogita mudar os integrantes do partido na Comissão de Assuntos Econômicos para tentar barrar a reforma trabalhista.

Parte dos peemedebista da contrários a Temer encontrou-se com senadores da oposição na noite de terça, na casa da senadora Kátia Abreu (TO) outra dissidente do partido. A pauta foi a sucessão presidencial.

Desde que as denúncias eclodiram, Renan foi para o ataque. Pediu a renúncia de Temer, dizendo, inclusive, que o presidente pode “ajudar a encontrar uma saída para a crise que o país se encontra”. Por afinidade histórica ou por oposição ao presidente, outros senadores se juntaram: Kátia Abreu, Eduardo Braga (AM) e Roberto Requião (PR) são os mais ativos, mas há ao menos outros dois que reservadamente fazem parte do grupo. Em comum, todos defendem a saída de Temer e a convocação de eleições diretas, as mesmas pautas da oposição.

“Esse grupo de senadores está bem unido pela saída do presidente”, diz um integrante do partido. Cada um tem seus motivos. Renan tenta aumentar sua popularidade, já que disputa eleições novamente em 2018 e aparece mau nas pesquisas eleitorais. Já Eduardo Braga deve disputar novas eleições ao governo no Amazonas ainda neste ano, já que o governador José Melo foi cassado pela justiça. Braga ficou em segundo lugar na eleição de 2014 e tenta compor com outros partidos sua chapa. Kátia Abreu foi fiel escudeira de Dilma Rousseff e ainda não engoliu a saída da presidente petista.

A retaliação , claro, veio. Temer exonerou, nesta quarta, a superintendente da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus) a ex-deputada Rebecca Garcia (PP), que era indicada de Braga ao cargo. Garcia também foi candidata a vice-governadora na chapa do senador nas eleições de 2014. Novas exonerações devem vir, principalmente de cargos indicados por Renan Calheiros.

Analistas costumam dizer que o PMDB é uma grande estrutura partidária dividida entre muitos caciques. Cada um faz o que lhe convém com seus liderados de forma que, quando se juntam, conseguem mostrar a força de uma máquina pública enorme. Esse conceito permite também que esses caciques se aliem com quem for mais conveniente para o momento.

Nesse contexto, Renan Calheiros era esperado para discursar durante a marcha das centrais sindicais, que tomou conta das ruas de Brasília ao longo desta quarta-feira. O senador furou, mas a postura anti-reformas e contra Temer não impediu que ele fosse saudado pelos manifestantes. Em dado momento, de cima do caminho da Força Sindical, um integrante puxou em tom de chacota o canto “Renan, guerreiro, do povo Brasileiro”. Quem estava protestando riu, entendendo a piada.

Renan, político experiente, sabe que, por mais que o governo sobreviva, ficar ao lado da baixa popularidade de Temer só lhe traria prejuízos eleitorais. Ele também nunca gostou da ideia de ter seu adversário interno no mais alto posto do país. Assim, parte para a oposição e torce para que isso traga louros. Sua guinada pode ser fatal para o governo.

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