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Delatora comprou máquina para contar cédulas recebidas "por fora"

Somando pagamentos no Brasil e no exterior, Monica Moura diz que a campanha de Dilma Rousseff em 2010 teve entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões "por fora"

Monica Moura: a mulher de João Santana disse que recebeu, pessoalmente, em espécie, cerca de R$ 5 milhões da Odebrecht (Youtube/ESTADÃO/Reprodução)

Monica Moura: a mulher de João Santana disse que recebeu, pessoalmente, em espécie, cerca de R$ 5 milhões da Odebrecht (Youtube/ESTADÃO/Reprodução)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 12 de maio de 2017 às 19h14.

Brasília - Para contar os repasses em dinheiro feitos pela Odebrecht à campanha de Dilma Rousseff em 2010, a publicitária Mônica Moura revelou em delação ao Ministério Público Federal que comprou uma máquina contadora de cédulas.

A mulher de João Santana disse que recebeu, pessoalmente, em espécie, cerca de R$ 5 milhões da empreiteira.

O dinheiro foi entregue em hotéis em São Paulo por "motoqueiros", como ela chamava os entregadores pelo fato de eles costumarem usar jaquetas, nas quais guardavam as notas, além de também esconder nas meias.

Somando pagamentos no Brasil e no exterior, Mônica Moura diz que a campanha teve entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões "por fora".

"Eu contava sozinha, e depois o André passou a me ajudar. E foi nessa época que a gente comprou aquela maquinha. Sabe aquela maquinha, que faz 'tchururururu', porque era um volume", disse ela, imitando o barulho feito pelo dinheiro quando passa pelo contador de cédulas. "André comprou a maquininha de dinheiro para facilitar", disse.

"Mas no início era eu sozinha, andava na cidade com mochila, com a minha bolsa. Não é que eu saia com o dinheiro todo que eu recebia, eu saía com o dinheiro que eu ia pagar àquela pessoa", disse ela, explicando que esses R$ 5 milhões eram utilizados para fazer pagamento a fornecedores e prestadores de serviço da campanha.

Segundo Monica Moura, o então ministro do governo Lula Antonio Palocci orientou que o casal procurasse Hilberto Mascarenhas, chefe do departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht, para receber recursos.

Hilberto, por sua vez, haveria destacado Fernando Migliaccio para tratar da operação.

A Odebrecht informava a data dos pagamentos e Mônica viajava para São Paulo informando o hotel onde estaria para receber.

O dinheiro chegava escondido em meias e jaquetas, segundo a delatora, que afirmou trocar de hotéis com frequência para se sentir mais segura nas entregas.

"Às vezes eles vinham com uma maletinha (de dinheiro), às vezes vinham com dinheiro enfiado nas meias e nas jaquetas, por isso que eu falo que eram 'motoqueiros', porque vinham sempre de jaqueta. Às vezes, vinham com dinheiro enfiado na meia. E aí saía tirando os bolos de dinheiro e botavam na mesa. Às vezes vinha com uma bolsinha bem vagabunda e deixavam comigo e eu jogava fora depois", disse Mônica Moura.

A publicitária disse que o custo do primeiro turno da campanha de 2010 foi R$ 54 milhões, sendo R$ 34 milhões em contratos, por dentro, e R$ 20 milhões "por fora", nas palavras da delatora.

"E o segundo turno, realmente, foi 50% desses R$ 54 milhões. E, da mesma forma, teve por dentro e por fora", disse. "Juntando tinha R$ 25 a R$ 30 milhões por fora pra receber dos dois turnos", afirmou.

Os vídeos do depoimento do casal foram tornados públicos nesta sexta-feira, 12.

Defesa

Em nota enviada à imprensa na quinta-feira, 11, após o STF liberar o sigilo da delação do casal, a assessoria de Dilma Rousseff disse que João Santana e Mônica Moura "prestaram falso testemunho e faltaram com a verdade em seus depoimentos, provavelmente pressionados pelas ameaças dos investigadores".

"Apesar de tudo, a presidente eleita acredita na Justiça e sabe que a verdade virá à tona e será restabelecida", afirma a nota.

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