Alckmin descarta rodízio e vê uso político da crise de água
"Não há necessidade nem é tecnicamente adequado fazer (rodízio) porque poderíamos perder mais água", afirmou Alckmin
Da Redação
Publicado em 5 de agosto de 2014 às 11h38.
São Paulo - O governador de São Paulo e candidato à reeleição pelo PSDB, Geraldo Alckmin , descartou na segunda-feira, 04, a hipótese de promover racionamento de água e disse que a Sabesp tem condições de garantir o abastecimento das cidades atendidas pelo Sistema Cantareira até o "começo do ano que vem".
Primeiro concorrente da eleição ao Palácio dos Bandeirantes a participar da série Entrevistas Estadão, o tucano criticou o que chamou de "exploração política" da crise hídrica.
"Não há necessidade nem é tecnicamente adequado fazer porque poderíamos perder mais água e, com o risco do racionamento, as pessoas poderiam guardar mais água e perder toda a cultura de evitar desperdício", afirmou Alckmin.
O governador citou duas vezes o presidente do Conselho Mundial de Água, Benedito Braga, que se posicionou contra a adoção de racionamento por motivos técnicos e sociais.
"O que estamos fazendo em economia de água (com o bônus para quem economiza água) equivale a um racionamento de 36 horas com água e 72 horas sem. Sem a população ser prejudicada", disse Alckmin.
O tucano afirmou que essa prática tem resultado em economia de 8 metros cúbicos por segundo no Cantareira durante "a maior seca dos últimos 84 anos".
Falta dágua e obras
O candidato à reeleição negou que a Sabesp tenha feito "racionamento branco" ao adotar medidas como a redução da pressão dágua no período noturno. Moradores de bairros atingidos pela manobra se queixam de terem sido surpreendidos.
"Isso é normal, é trabalho que se faz permanentemente. Não tem nenhum problema. Aliás, eu tenho visto muita exploração política", afirmou. "De 19 de julho a 2 de agosto, no ano passado, a ouvidoria da Sabesp teve 28 mil reclamações. Em 2014, apenas 15 mil."
Alckmin defendeu as medidas tomadas no enfrentamento da estiagem, como a substituição de áreas que eram abastecidas pelo Cantareira para atendimento pelos Sistemas Guarapiranga, Imigrantes e Alto Tietê.
"Fomos o único ente federativo que demos um bônus para quem economizasse água e tivemos 86% da população reduzindo o consumo de água."
O governador disse que sua gestão "vai antecipar em seis anos" as obras de interligação das represas de Jaguari e Atibainha, previstas para 2020 como uma das formas de garantir as reservas dágua do Cantareira.
Fora isso, Alckmin destacou as parcerias público-privadas (PPP) para obras de retirada de água do Rio São Lourenço e a interligação do Sistema Cantareira com o Paraíba.
O governador defendeu medidas tomadas pelo PSDB, que vai completar 20 anos à frente do Estado. "Quando o Mário Covas assumiu (em 1995), mesmo que chovesse muito, havia 6 milhões de pessoas com rodízio de água em São Paulo."
Palanque
Alckmin defendeu a aliança local com o PSB de Eduardo Campos, cujo partido indicou o deputado Márcio França para a vice do tucano, mas reiterou apoio ao correligionário Aécio Neves na disputa pela Presidência. "Eu só tenho um candidato, que é o senador Aécio Neves. Ele sabe que o meu candidato é Aécio Neves, mas tenho grande apreço por Eduardo Campos", afirmou, ao ser perguntado sobre comitês que pregam voto nele e no candidato do PSB ao Planalto e se eventualmente participaria de atos de campanha com o adversário de Aécio.
Cartel de trens
Ao ser questionado sobre o cartel do setor metroferroviário, Alckmin também disse ver uso político do caso, ao citar que as denúncias após o acordo de leniência da Siemens no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) surgiram primeiro em relação a São Paulo e Distrito Federal - governados por partidos de oposição ao PT na época dos contratos - e depois chegaram a licitações de Belo Horizonte e Porto Alegre, cujos sistemas são administrados pela União.
"Cartel é fenômeno econômico que ocorre fora do governo, o governo é vítima", afirmou Alckmin. O governador lembrou que chegou a cancelar uma concorrência suspeita e que investigações desse tipo não são simples. "Se não fosse a Siemens fazer uma delação premiada, eles (Cade) não teriam ficado sabendo."
Alckmin lembrou que o Estado processou a Siemens, a quem chamou de "ré confessa", e outras empresas envolvidas no cartel. "Não queremos transparência vazada, queremos transparência total", afirmou, sugerindo vazamento seletivo de informações relacionadas à investigação do caso.
Tarifa de trens e metrô
Alckmin não quis se comprometer com a manutenção da tarifa de R$ 3 pela viagem de trem ou metrô ou de R$ 4,65 em caso de integração com os ônibus municipais, por meio do bilhete único. Em 2013, o governo chegou a elevar o preço da passagem individual para R$ 3,20, mas voltou atrás após os protestos de junho.
O governador afirmou que um eventual aumento da tarifa a partir de 2015, em caso de reeleição, está condicionado à taxa de inflação do País. "Não há nenhuma previsão de aumento", respondeu, ao ser questionado se haveria reajuste até o fim deste ano. Em seguida, quando a pergunta era se essa previsão se estenderia para 2015, Alckmin afirmou: "Não posso garantir que não vai ter mais. Depende da inflação."
Alckmin citou projetos em andamento, como a extensão da Linha 5 (Capão Redondo-Chácara Klabin), a construção da Linha 6 (Brasilândia-São Joaquim) e fez piada com o número de outro ramal. "Em Cumbica temos a Linha 13 em andamento. E eu queria dizer que, embora a linha se chame 13, nós não temos superstição."
Criminalidade
Alckmin também foi questionado sobre os recordes de crimes contra o patrimônio, notadamente roubos, registrados no atual mandato. O candidato à reeleição começou respondendo sobre os avanços obtidos na área de homicídios.
"No estado de São Paulo, o número de homicídios para cada 100 mil habitantes, há 17 anos, era 35. Fomos reduzindo e, no ano passados, tivemos um número de 10,5 para 100 mil. No Brasil é de mais de 20", afirmou o governador. "Saímos de 5.º Estado mais violento do Brasil para o 2.º mais seguro do País."
O tucano apresentou um quadro que indica redução geral nos índices de criminalidade no Estado, à exceção dos roubos, e comentou que o fato de ser possível registrar eletronicamente as ocorrências pode ter influenciado as estatísticas.
"Fomos pioneiros na delegacia eletrônica. O (registro de) roubo passou a ser feito eletronicamente. É óbvio que teve aumento. Perda de documentos, celulares, tudo isso está entrando. Não queremos estatísticas para dizer que somos melhores que os outros, mas a verdade."
O governador, que se disse otimista, afirmou que o combate ao roubo e furto de veículos tem surtido efeito, e isso será sentido na renovação de seguros nos próximos meses. "Não tenho dúvidas de que, assim como vencemos a luta contra os crimes contra a vida, vamos vencer também o roubo", afirmou. "Aliás, já caiu o principal, que é roubo e furto de veículo. Principal porque é na hora do roubo do veículo que ocorre o latrocínio."
Alckmin defendeu medidas tomadas em sua gestão no combate ao crime organizado. "No mundo inteiro tem organização desse tipo. O que precisa ser feito é o isolamento desses líderes, com regime disciplinar diferenciado, presídio de segurança máxima e isolamento", afirmou. "Já temos seis penitenciárias com bloqueadores de celular."
No atual mandato, investigações apontaram para um plano de atentado contra o governador por parte do Primeiro Comando da Capital (PCC), liderado por Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, preso em Presidente Bernardes. "Ele está em penitenciária que tem bloqueador de celular. A organização tem que ser combatida permanentemente e o Estado toma todas as providências."
Cracolândia e tráfico
Ainda no assunto segurança, Alckmin aproveitou para fazer críticas ao governo federal. "São Paulo é o Estado que mais investe no Brasil em segurança pública. Agora, infelizmente, o Brasil é o maior consumidor de crack e de cocaína do mundo - e nós não produzimos. Como é que isso entra no País?"
Por outro lado, Alckmin disse ser "positivo" o projeto Braços Abertos, desenvolvido pela gestão Fernando Haddad (PT) para atender usuários na região da Cracolândia. "Infelizmente nós vivemos uma epidemia. É preciso tratar o doente, porque a dependência química é uma doença, como apendicite e pneumonia, e é difícil a pessoa sozinha sair."
Ao ser questionado sobre a legalização de drogas, Alckmin se disse contra a proposta. "Não tenho nenhuma convicção de que a legalização possa melhorar (a situação)."
Saúde e Santa Casa
Na entrevista, o governador voltou a rebater dados do governo federal ao comentar a crise financeira da Santa Casa de São Paulo, que chegou a fechar o atendimento de emergência por falta de recursos. O Ministério da Saúde e a secretaria paulista da área trocaram acusações sobre o repasse de verbas públicas à entidade.
"Imagina se iríamos deixar de repassar verbas do governo federal para a Santa Casa. Aqueles incentivos que disseram que não estão sendo repassados: um foi extinto em 2006 e o outro, em 2012", disse Alckmin. "Não tem briguinha, só a verdade. O problema não é só da Santa Casa de São Paulo. Há uma crise de financiamento (da saúde)." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.