75% das universidades e institutos federais do país vão paralisar hoje
Ministro Weintraub disse que universidades precisam deixar de ser tratadas como "torres de marfim"
Estadão Conteúdo
Publicado em 15 de maio de 2019 às 09h35.
Brasília e São Paulo — Pelo menos 75 das 102 universidades e institutos federais do país convocaram protestos para esta quarta-feira, 15, em resposta ao bloqueio de 30% dos orçamentos determinado pelo Ministério da Educação (MEC). Eles terão apoio de universidades públicas estaduais de diversos Estados - incluindo São Paulo, onde os reitores de USP, Unicamp e Unesp convocaram docentes e alunos para "debater" os rumos da área. Um dos alvos do protesto, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse nesta terça-feira, 14, que as universidades precisam deixar de ser tratadas como "torres de marfim" e não descartou novos contingenciamentos.
Cientistas e pesquisadores de diversas instituições e estudantes de faculdades privadas também vão aos protestos convocados. É o caso, por exemplo, de PUC-SP e Mackenzie. Além da comunidade do ensino superior, a rede básica também aderiu à paralisação. Pelo menos 33 dos principais colégios particulares de São Paulo vão integrar o movimento, apesar da federação nacional das escolas sugerir corte de ponto de funcionários faltosos. A Apeoesp, sindicato dos professores da rede estadual pública de São Paulo, o maior da América Latina, convocou os professores a paralisarem - o mesmo foi feito pelos sindicatos da rede paulistana.
Atos em todos os Estados vêm sendo chamados pelas maiores entidades estudantis e sindicais do País, incluindo a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). Em Brasília, o prédio do MEC já amanheceu nesta terça-feira cercado por homens da Força Nacional de Segurança Pública. O secretário executivo da pasta, Antoni Paulo Vogel, afirmou que a proteção foi pedida pelo governo federal. "Temos de estar preparados para evitar qualquer tipo de problema. Simples assim."
Autonomia e custos. O ministro Weintraub afirmou na terça ser favorável até à entrada da polícia nas universidades. "Autonomia universitária não é soberania", disse, durante café da manhã com jornalistas. Ele argumentou que, no passado, a regra pode ter feito sentido, "mas atualmente é dispensável".
Ele destacou ainda que a autonomia das instituições deve se dar também na área financeira, com a criação de mecanismos que permitam a busca de recursos e patrocínios. "Hoje elas não podem... Não estou falando em cobrar, sou contra cobrar dos alunos de graduação." Mas, emendou, "o ideal seria a criação de mecanismos para que empresas se tornem patronas de instituições, possam construir prédios, colocar nomes nas novas instalações", disse. "Essas torres de marfim que a gente criou impedem que renda possa ser gerada para ser usada na pesquisa."
O ministro se esquivou de fazer comentários sobre a greve, mas condicionou a liberação dos recursos bloqueados à aprovação da reforma da Previdência e não descartou novos cortes. Weintraub procurou ainda reduzir a importância do bloqueio sofrido pela pasta que lidera, citando outros ministérios que tiveram contingenciamentos maiores, como a Defesa.
O ministro disse ter recebido 50 reitores desde que assumiu e, de acordo com os relatos, a conta das universidades está em dia e "a vida segue normal". Ele reiterou que o bloqueio só deve ser sentido no segundo semestre. "Se tiver algum problema, vou até o Ministério da Economia, para abrir exceção."
À tarde, em entrevista à Rádio Jovem Pan, Weintraub voltou a negar o contingenciamento de 30% - anunciado pelo próprio MEC. "Mostrem os números. Parem de mentir. Estamos contingenciando 3,5%."
Pela manhã, ele havia sido dramático ao falar sobre seu curto período à frente do Ministério da Educação. Transcorridos menos de dois meses da sua posse, ele se queixa de perseguição. "Estou sendo caçado com taco de beisebol e machadinha. O inimigo número 1 de tudo", disse. "Estou sendo moído."
Justiça
A juíza Renata Almeida de Moura Isaac, titular da 7.ª Vara Cível de Salvador, solicitou que a União justifique, em até cinco dias, cada um dos bloqueios orçamentários que impôs às instituições de ensino superior no País. O pedido é consequência da ação popular impetrada pelo deputado federal Jorge Solla (PT-BA), no dia 30 de abril, que pediu a "anulação imediata" dos cortes, sob alegação de que o ministro Abraham Weintraub (Educação) atribuiu publicamente a decisão à uma reprimenda às instituições que "promoviam balbúrdia".