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Ele transformou lista de dívidas em um império de 11 milhões de galinhas

Leandro Pinto, fundador do grupo Mantiqueira, conta como transformou o aluguel de uma granja com 30 mil galinhas em uma gigante dos ovos

Leandro Pinto, fundador da Granja Mantiqueira: ele começou a empreender com uma fábrica de carroças (Endeavor/Divulgação)

Leandro Pinto, fundador da Granja Mantiqueira: ele começou a empreender com uma fábrica de carroças (Endeavor/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 25 de maio de 2018 às 06h00.

Última atualização em 25 de maio de 2018 às 06h00.

São Paulo - Leandro Pinto começou a empreender desde cedo - e enfrentou decepção atrás de decepção. Mas, para o natural do interior de Minas Gerais, quebrar foi um dos melhores acontecimentos da sua vida.

Isso porque a falência abriu a oportunidade de começar um novo negócio: uma granja alugada, com 30 mil galinhas. O espaço seria o primeiro da Granja Mantiqueira, que hoje possui 2.200 funcionários e 11,5 milhões de galinhas.

A granja é a maior do Brasil e a 12ª do mundo, nas palavras do próprio fundador. Pinto contou mais sobre como virou o jogo no evento Endeavor Day1 2018, com palestras sobre dias decisivos na vida de empreendedores.

Antes da granja

Leandro Pinto sempre gostou mais de trabalhar do que de estudar, apesar da resistência dos pais. Fazia uma série de serviços quando era adolescente, de engraxate a limpador de vidros. Depois entrou em um banco, ocupando desde o cargo de office boy até ajudante na mesa de captações de clientes e recursos. “Eu precisava trabalhar, eu queria produzir. Não achava certo que meu pai me mandasse dinheiro para eu ser reprovado na escola”, conta.

Achando sua carreira no banco entediante, o jovem decidiu se tornar empreendedor. Seu primeiro negócio foi uma fábrica de carroças em Itanhandu, no interior de Minas Gerais. Depois, vendeu máquinas.

Porém, uma crise no ano de 1987 fez com que Pinto não conseguisse vender nada - e ele quebrou. “Hoje, aos 50 anos de idade, confesso que foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Foi a melhor escola, que nenhum lugar do mundo ensina, nem [a Universidade de] Harvard. Quebrar, sentir dor, não ter dinheiro para pagar as contas.”

Em outubro do mesmo ano, o empreendedor recebeu uma proposta de alugar uma granja e comprar 30 mil galinhas, já que seu dono havia sofrido um enfarte e não poderia mais tocar o negócio. Pinto tinha um caminhão financiado e deu o veículo em troca dos animais e do primeiro aluguel.

Era a hora de virar o jogo - e colocar ordem na casa. Pinto e sua noiva, hoje Rogéria Pinto, compraram um papel almaço, uma caneta azul e uma caneta vermelha. Foram escrevendo a lista de dívidas, que começava com a “coalhada do Bar do Galvão”. Pouco a pouco, riscavam os pagamentos quitados e tentavam fazer a Granja Mantiqueira dar certo.

Crescimento

“Fiz uma agenda de credores e ia pedindo ajuda, contando a eles minha história. Eu não tinha estoque de milho. Várias vezes eu dormia sem saber o que as 30 mil galinhas iam comer”, conta. Mas elas nunca deixaram de ter alimento, graças a ajuda de colegas e da noiva, que emprestavam desde comida ao nome limpo na praça.

Outro momento tenso na vida da Granja Mantiqueira foi quando, por um milho contaminado, as galinhas não botaram ovos por três dias seguidos. Em 31 anos de história, diz Pinto, foi a única vez em que não teve dinheiro para pagar seus funcionários. “Falei com eles e todos entenderam. Foi mais um Day1 na minha vida.”

O pai insistiu que ele vendesse suas galinhas ao concorrente. O empreendedor foi visitar o oponente - mas apenas para pedir seis quilos de ração nova. Nos próximos dias, os ovos voltaram a surgir.

Em 1989, Pinto terminou de pagar sua lista de dívidas e se casou. Comprou um caminhão novo e um terreno para construir sua primeira granja própria. Além de vender ovos, fabricava gaiolas para si mesmo e para a concorrência. Nem a queda do telhado do novo galpão faria ele abandonar o negócio. Na virada para os anos 2000, já tinha 50 mil galinhas produzindo e um grande investimento na automatização dos processos da granja.

A Mantiqueira vendia 50% de sua produção para a rede de supermercados carioca RDC, recém-vendida para o Carrefour. Preocupado com as mudanças que isso traria, Leandro chamou um dos ex-donos da rede, o carioca Carlos Cunha, para ser seu sócio. Ele virou a ponte para a Mantiqueira chegar a varejistas de São Paulo e do Nordeste.

Dessa parceria em diante, a empresa só cresceu. A granja, que já tinha mais de cinco milhões de galinhas, resolveu abrir uma nova unidade em Mato Grosso, no município Primavera do Leste, com capacidade para seis milhões de galinhas. Hoje, são 11,5 milhões de produtoras de ovos. “Quando a vida te der motivos para você desistir, mostre para a vida que quem manda é você. Ninguém pode resolver nada por você”, aconselha.

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