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O plano anti-dólar da Chilli Beans

Com 80% de toda a sua produção importada, empresa apostou em produção nacional e até uma saída pelo mar para amenizar as perdas causadas pelo dólar

Meta: apesar do câmbio, o empresário Caito Maia aposta em passar de 805 para 850 lojas até o fim do ano (Marcela Soares Cardoso Silva/Wikimedia Commons)

Meta: apesar do câmbio, o empresário Caito Maia aposta em passar de 805 para 850 lojas até o fim do ano (Marcela Soares Cardoso Silva/Wikimedia Commons)

AJ

André Jankavski

Publicado em 22 de junho de 2018 às 07h43.

Última atualização em 2 de agosto de 2018 às 12h34.

Se a valorização do dólar afeta a rotina de milhares de companhias no Brasil, que dirá a de uma empresa nascida da importação de produtos comprados nos Estados Unidos. É o caso da fabricante de óculos Chilli Beans, do empresário Caito Maia. Em busca de uns trocados para manter a sua banda, chamada “Las Ticas Tienen Fuego”, Maia viajava para os Estados Unidos nos meados da década de 1990 e trazia óculos de grifes internacionais para vender aos amigos por um preço camarada.

O bico se tornou uma empresa que fatura, hoje, 620 milhões de reais. No início, o real forte foi responsável por consolidar a empresa. Agora, a história mudou: o real enfraquecido está penalizando a Chilli Beans – de janeiro para cá, a cotação da moeda americana saltou de 3,23 reais para 3,78.

Isso ocorre porque 80% de toda a produção da Chilli Beans vem da China e é paga, evidentemente, na moeda americana. Em 2016, em meio ao processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff que causou instabilidade no dólar, Maia começou a se mexer. Na época, apenas 10% dos óculos, carteiras e relógios da empresa eram fabricados por aqui. A meta, então, era triplicar a produção nacional.

Não deu muito certo. “Não conseguimos encontrar fábricas para absorver a produção, tanto na questão de volume quanto de qualidade”, diz o empresário. Atualmente, a empresa vende dois milhões de óculos escuros, o produto carro chefe, por ano, dos quais 400 000 vêm de uma fábrica terceirizada em Montes Claros (MG).

Mesmo dobrando os produtos “made in Brazil”, as despesas continuavam subindo além do que ele considerava aceitável. Maia, então, começou a ir atrás de outras soluções. Em uma de suas viagens semestrais para a China, negociou um desconto de 5% no valor final. “Quando o dólar aumenta muito, o meu parceiro sabe que precisa dar um desconto”, afirma. A saída que vem dando mais resultado, no entanto, veio, literalmente, pelo mar.

É sabido que a moda é uma indústria altamente efêmera. Ou seja, o que está sendo muito vendido hoje pode encalhar nas prateleiras amanhã. Por conta dessa demanda, 30% de tudo o que era importado pela Chilli Beans vinha da China por avião. Nesse momento, o conceito foi deixado um pouco de lado pela empresa. “Em tempos como esses, é necessário abrir mão de algumas coisas e decidimos que tudo passaria a vir para o Brasil de navio”, diz Maia. O resultado foi uma economia de 30%, em média, no valor que foi repassado para os consumidores. Um óculos de 199 reais, por exemplo, passou a ser vendido nas lojas da Chilli Beans por 149 reais.

É desta maneira que a empresa espera bater suas metas, apesar de tudo. Em janeiro, foi determinado que o faturamento deveria subir 11%, enquanto o lucro operacional (EBIT) precisaria aumentar 16%. Em número de lojas, a Chilli Beans deve crescer das atuais 805 para 850 até dezembro. É uma meta pra lá de otimista em meio ao caso brasileiro. “A greve dos caminhoneiros atrapalhou um pouco os planos, mas ainda continuo otimista que vamos alcançar esses resultados”, afirma Maia.

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