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O que esperar das ações da Vale com acordo sobre Brumadinho?

Mineradora estima despesa adicional de R$ 19,8 bilhões no resultado de 2020 por causa do acordo pelo rompimento da barragem

Vale: produção menor diante de forte base de comparação (Washington Alves/Reuters)

Vale: produção menor diante de forte base de comparação (Washington Alves/Reuters)

PB

Paula Barra

Publicado em 4 de fevereiro de 2021 às 10h43.

Última atualização em 5 de fevereiro de 2021 às 07h24.

O acerto do acordo bilionário de indenização da Vale (VALE3) relacionado ao acidente de Brumadinho levantou a questão sobre as perspectivas para as cotações.

A companhia informou na manhã de quinta-feira, 4, que pagará 37,7 bilhões de reais ao governo de Minas Gerais no acordo.

Pouco depois do anúncio, as ações da Vale chegaram a ter a negociação interrompida na B3 por 34 minutos, das 10h21 às 10h55; depois retomaram as negociações com alta de cerca de 2%, mas apagaram os ganhos pouco depois em meio à piora do mercado. Os papéis fecharam em queda 1,26%, em 89,29 reais.

Antes de serem suspensos, na cotação das 10h21, os papéis marcavam valorização de 1,76%, em 92,02 reais.

De acordo com fato relavante, divulgado pela empresa com o pregão em andamento, o valor contempla projetos de reparação socioeconômica e socioambiental.

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Considerando o montante do acordo, a Vale estima, com base nos fluxos de desembolso preliminares, que uma despesa adicional de, aproximadamente, 19,8 bilhões de reais será reconhecida no resultado do exercício de 2020.

Desse montante, a companhia diz que 5,4 bilhões de reais serão quitados mediante a liberação de depósitos judiciais e 14,4 bilhões de reais serão acrescidos no passivo associado à reparação socioeconômica e socioambiental de Brumadinho.

"A Vale está determinada a reparar integralmente e compensar os danos causados pela tragédia de Brumadinho e a contribuir, cada vez mais, para a melhoria e o desenvolvimento das comunidades em que atuamos. Confiamos que este Acordo Global é um passo importante nessa direção. Sabemos que temos um caminho a percorrer e seguimos firmes nesse propósito, alinhado com nosso Novo Pacto com a sociedade", diz o diretor-presidente da companhia, Eduardo Bartolomeo, no documento.

De acordo com nota divulgada pelo governo de Minas Gerais, cerca de 30% dos recursos do acordo vão beneficiar o município e a população de Brumadinho, onde a barragem se rompeu, deixando cerca de 270 mortos, além de atingir a cidade, mata e instalações da própria mineradora, explicou o governo de Minas Gerais em comunicado.

Outros montantes serão direcionados em benefício de população do Estado mineiro.

O acordo não prejudicará ações individuais por indenizações e criminais, que seguem tramitando, explicou o governo de Minas Gerais na nota.

O entendimento também não prevê um teto financeiro a ser gasto com a reparação do meio ambiente, que ficará a cargo da Vale.

Para a reparação socioambiental, serão destinados 6,55 bilhões de reais, incluindo um valor de 1,55 bilhão de reais para compensação de danos ambientais já conhecidos. Um dos projetos desenvolvidos como compensação é a universalização do saneamento básico nos municípios atingidos.

O acordo já considera recursos que tiveram sua aplicação iniciada pela Vale em projetos de reparação, no valor de 5,89 bilhões de reais, incluindo pagamento de moradias provisórias de atingidos, atendimentos psicossociais, fornecimento de água para consumo humano e irrigação, dentre outras.

Outros destaques no radar da Vale: relatório de produção e minério

Apesar do dia morno para os papéis, no radar, a companhia ainda tem mais duas notícias positivas: a alta do minério de ferro e o relatório de produção do quarto trimestre, reportado pela empresa ontem após o fechamento do pregão.

A produção de minério de ferro da Vale atingiu 84,5 milhões de toneladas no quarto trimestre, avanço de 7,9% na comparação anual, mas abaixo das projeções de 86,6 milhões de toneladas dos analistas consultados pela Bloomberg. No acumulado do ano, a produção de minério alcançou 300,39 milhões de toneladas, leve recuo de 0,5% em relação ao registrado em 2019.

As vendas de minério atingiram 82,83 milhões de toneladas métricas no último trimestre do ano passado, avanço de 6,3% na comparação com o mesmo período de 2019. Em 2020, totalizaram 254,87 milhões de toneladas métricas, queda de 5,4%.

Em relatório, os analistas do BTG Pactual ressaltaram que os embarques de minério da companhia atingiram 91,3 milhões de toneladas no último trimestre do ano, superando em 3% suas estimativas, e sugerindo que o Ebtida da empresa no quarto trimestre pode ultrapassar a marca de 9 bilhões de dólares, 5% acima do que eles consideram no modelo.

Tendo em vista ainda o acordo que a empresa fechou com o governo de Minas Gerais, eles comentaram que veem condições para as ações terem um "re-rating" (uma reavaliação para cima) do mercado a partir de agora.

Os analistas reiteraram compra para os papéis, recomendando que os investidores elevem suas exposições às ações com a Vale negociando em Bolsa a 3,1 vezes o Ebtida estimado para 2021 -- o que, para eles, está "grosseiramente subavaliado".

Para Luis Sales, estrategista-chefe da Guide Investimentos, os números, em geral, vieram em linha com as expectativas do mercado, mas as vendas surpreenderam. Eles destacam que a companhia teve recorde de vendas de minério para a China no quarto trimestre; retorno de Serra Leste e Fábrica; recorde de vendas de níquel em um trimestre desde o quarto trimestre de 2019; e início da manutenção da mina de Moatize.

O minério de ferro negociado no porto chinês de Qingdao subiu 3,52% nesta sessão, indo para 158,03 a tonelada.

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