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Mistério em Wall Street: ações de tecnologia se descolam de juros longos

A ruptura da tendência pode refletir a convicção crescente de que as ações de crescimento oferecem proteção contra uma inflação nas máximas em 40 anos

Preços de ações estão sob o impacto do aperto da política monetária pelo Fed (Tim Clayton/Corbis/Getty Images)

Preços de ações estão sob o impacto do aperto da política monetária pelo Fed (Tim Clayton/Corbis/Getty Images)

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Bloomberg

Publicado em 3 de abril de 2022 às 08h30.

Por Elaine Chen e Isabelle Lee*

Aqui vai mais um dos crescentes sinais contraditórios de Wall Street sobre a economia: as ações de grandes empresas de tecnologia estão quebrando sua correlação histórica com títulos de longo prazo -- uma divergência potencialmente insustentável.

Um fundo negociado em bolsa que rastreia empresas de altíssimo valor de mercado supera há duas semanas um ETF de referência que segue títulos de longo prazo do Tesouro americano, desde que o Federal Reserve iniciou seu ciclo de aperto monetário.

O Invesco QQQ Trust Series 1 -- que acompanha o índice Nasdaq 100 -- subia 7,9% de 16 a 31 de março, enquanto o iShares 20+ Year Treasury Bond ETF caiu quase 1%.

Isso contraria a tendência dos últimos anos, quando os dois ETFs geralmente andaram em sincronia. Por um lado, a ruptura reflete a convicção crescente de que as ações de crescimento oferecem proteção contra uma inflação próxima das máximas de quatro décadas, especialmente devido à sua reputação de apresentar lucros independentemente das reviravoltas dos ciclos de negócios.

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Rendimentos mais altos de títulos tendem a reduzir o valor presente de lucros futuros, algo que pode prejudicar as empresas de tecnologia em particular devido a suas promessas de expansão de lucros ao longo de vários anos.

No entanto, apesar de uma disparada nos rendimentos ao longo da curva do Tesouro, o "caso de amor" com as empresas gigantes perdura. Outro ponto de vista é que a incerteza econômica sinalizada pelo mercado de títulos está levando os investidores a essas máquinas de lucro confiáveis, graças à forte base de usuários de que desfrutam as cinco gigantes de tecnologia americanas -- Apple, Alphabet, Amazon, Meta, Netflix -- e afins.

“Existem barreiras de saída para clientes, existem barreiras de entrada para concorrentes, existem receitas recorrentes que são muito confiáveis em um mundo muito incerto”, disse Lawrence Creatura, sócio-diretor do fundo de hedge PRSPCTV Capital.

A grande questão é se tudo isso pode durar. Para Matt Maley, estrategista-chefe de mercado da Miller Tabak + Co., a enorme diferença de desempenho dos dois ETFs reflete a discrepância entre como títulos e ações estão reagindo à postura cada vez mais hawkish (rigorosa) do Fed.

Ele aposta que os preços do QQQ vão esfriar no segundo trimestre, à medida que as pressões inflacionárias persistentes minarem os lucros corporativos.

“A história nos diz que quando uma divergência se desenvolve, é o mercado de títulos que geralmente acerta, e o mercado de ações que não”, disse.

Nas negociações de quarta-feira, dia 30, o QQQ fechou com queda de 1,1%, enquanto o TLT subiu 0,8%.

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