ESG

Insegurança alimentar severa atinge mais de 21 milhões de brasileiros, aponta ONU

O número de pessoas sem condições financeiras para arcarem com alimentação passou de 27,1 milhões em 2020 para 48,1 milhões no ano seguinte. Relatório também aponta a situação global

A prevalência de insegurança alimentar severa teve um aumento de 3,5%, em 2022 (Getty Images/Getty Images)

A prevalência de insegurança alimentar severa teve um aumento de 3,5%, em 2022 (Getty Images/Getty Images)

Fernanda Bastos
Fernanda Bastos

Repórter de ESG

Publicado em 17 de agosto de 2023 às 09h36.

Última atualização em 17 de agosto de 2023 às 13h42.

No estudo The State of Food Security and Nutrition in the World, o número de brasileiros que estão sujeitos à insegurança alimentar – ou seja, têm disponibilidade escassa aos alimentos – no Brasil, 21,1 milhões de pessoas lidam com as condições severas desse contexto alimentar. A situação é bastante agravante pois, segundo o estudo, quase 600 milhões de pessoas ainda passarão fome em 2030. Segundo o documento, é preciso priorizar a nutrição infantil, fortalecer as cadeias de abastecimento (do inglês, supply chain) e lidar com a urbanização. 

Outro detalhe que sofreu aumento nos últimos anos foram os níveis de fome ao redor do mundo. Essa crescente aconteceu a partir de 2019, de acordo com o estudo. Em 2019, a fome atingia 7,9% da população, o que corresponde a 613 milhões de pessoas, mas no ano passado, o percentual aumentou para 9,2%.  Dentre as justificativas para essa crescente estão, primordialmente, as crises, como as consequências econômicas da pandemia do Covid-19 e a indisponibilidade de alimentos por conta da guerra na Ucrânia – que podem atrasar as expectativas para erradicação da fome previstas para 2030. 

“Os sistemas agroalimentares continuam altamente vulneráveis a choques e perturbações decorrentes de conflitos, variabilidade climática e extremos, e contração econômica. Esses fatores, combinados com desigualdades crescentes, continuam desafiando a capacidade dos sistemas agroalimentares para entregar dietas nutritivas, seguras e acessíveis para todos. Esses principais impulsionadores da insegurança alimentar e desnutrição é o nosso novo normal”, afirmou o documento.

O relatório contou com o envolvimento da ONU (Organização das Nações Unidas), UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e a FAO Agrifood Economics. Além disso, teve a participação de uma equipe de técnicos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (IFAD), do Programa Alimentar Mundial (PAM) e da Organização Mundial da Saúde (OMS). 

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Durante o ano passado, cerca de 30% da população mundial (por volta de 2,5 bilhões de pessoas) não contaram com acesso constante aos alimentos. Pensando nisso, a premissa do segundo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que busca acabar com a fome em 2030 pode não ser alcançada.

Para isto, é necessário criar alternativas para destacar pontos de atenção regionais, ao mesmo tempo que tenta reverter o aumento da fome em níveis globais. Outros Objetivos relevantes para o contexto são: o ODS 1 (Erradicação da Pobreza), ODS 3 (Boa Saúde e Bem-Estar), ODS 10 (Reduzir as Desigualdades), ODS 11 (Cidades e Comunidades Sustentáveis) e ODS 12 (Consumo Responsável e Produção)

A insegurança alimentar no mundo

O estudo destaca que dos 2,4 bilhões de pessoas que enfrentam falta de acesso constante aos alimentos, enquanto cerca de 900 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar grave. Além disso, o acesso a dietas saudáveis caiu desde o contexto pós-pandemia, quando 3,1 bilhões de pessoas foram impossibilitadas de pagar uma dieta nutritiva em 2021 – o que corresponde a um aumento de mais de 130 milhões de pessoas em comparação com 2019.

As preocupações não dizem respeito apenas à fome. “Em 2022, 2,4 bilhões de pessoas, compreendendo relativamente mais mulheres e pessoas que vivem em áreas rurais, não têm acesso a alimentos nutritivos, seguros e suficientes durante todo o ano. O impacto persistente da pandemia sobre a renda disponível das pessoas, o aumento do custo de uma dieta saudável e o aumento geral na inflação também continuou a deixar bilhões sem acesso a uma dieta saudável e acessível. Milhões de crianças com menos de cinco anos de idade continuam a sofrer de nanismo (148 milhões), emagrecimento (45 milhões) e excesso de peso (37 milhões)”.

Além disso, o relatório revela que 148 milhões de crianças com menos de cinco anos de idade tiveram algum tipo de atrofia relacionada à alimentação e 37 milhões estavam acima do peso em 2022. Apesar das taxas de amamentação exclusiva registrarem progresso, é preciso maior esforço para melhorar as taxas de desnutrição e alinhá-las com as metas para 2030.

Contexto brasileiro

Apesar dos números atuais relevantes, a América Latina teve progresso na redução da fome. O Brasil, por exemplo, teve uma diminuição de dois milhões de pessoas desnutridas, se comparado o período de 2004-2006 com 2020-2022. Também diminuiu o contingente de mulheres atingidas de 15 a 49 anos atingidas por anemia. Em 2012, 10,1 milhões de mulheres tinham anemia mas em 2022, dez anos depois, esse número caiu para 9,2 milhões.  

No Brasil, em 2021, o custo de uma dieta saudável estava na casa dos 3.350 PPP dólares (por pessoa por dia), enquanto em 2017, o valor para arcar com alimentação saudável era de 2.809 dólares. Pensando nessa parte financeira, o número de pessoas sem condições para arcarem com alimentação passou de 27,1 milhões em 2020 para 48,1 milhões no ano seguinte.  

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