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Na pandemia, Burger King aposta em “disk saúde mental” para funcionários

Em entrevista à EXAME, Vice-Presidente de Gente e Gestão comenta sobre ferramentas de acompanhar saúde mental dos funcionários

Loja do Burger King: sucesso da rede não é feito só de hambúrgueres - e sim de uma tecnologia que passa a servir o modelo de gestão (Germano Lüders/Site Exame)

Loja do Burger King: sucesso da rede não é feito só de hambúrgueres - e sim de uma tecnologia que passa a servir o modelo de gestão (Germano Lüders/Site Exame)

Victor Sena

Victor Sena

Publicado em 14 de abril de 2021 às 09h00.

Com 16 mil funcionários e 900 restaurantes no país, o Burger King Brasil viu as questões de saúde mental disparar entre os colaboradores disparar nos últimos 12 meses da pandemia.

Entre as principais dificuldades encontradas, estavam o isolamento social forçado. Mas a empresa não foi pega de surpresa. Desde o fim de 2019, antes da pandemia, a rede já tinha lançado uma linha de atendimento, por telefone, em que os funcionários poderiam buscar por aconselhamento psicológico, financeiro e jurídico. Hoje, o Confio atende principalmente os funcionários dos restaurantes, que são os que mais buscam a ajuda.

Em entrevista à EXAME, a vice-presidente de gente e gestão do Burger King, Marcia Baena, defende que por trás de qualquer programa que promova a saúde mental, como este de aconselhamento, é necessário haver uma liderança bem treinada na ponta.

"A relação com a liderança é o que faz a diferença na experiência do colaborador em qualquer empresa, e também na saúde mental. Isso porque havendo uma questão de confiança essas dificuldades não deixam de existir, mas ficam mais leves", opina. Confira os principais pontos da entevista abaixo.

De onde surge essa preocupação maior com a saúde mental na rede Burger King?

Nos últimos 10 anos, passamos por diversos estágios no que se refere a gestão de pessoas. Em um momento, era preciso atuar em turnover, depois em engajamento e a gente vem adequando nossas práticas.

Em 2018, a gente começou a trabalhar em um programa de qualidade de vida, que tem várias iniciativas, como flexibilização de jornada, programas para gestantes, fracionamentos. Então a gente passou a olhar de uma maneira estruturada a questão da qualidade de vida, do equilíbrio entre vida e trabalho.

Com a pandemia, tudo ganhou uma outra necessidade. Então esse programa, em 2020, se tornou urgente. Quando se deparou com a pandemia em 2020, tivemos a vantagem de já ter umas séries de iniciativas de estarem implementadas ou em fase implementação, e isso nos permitiu acelerar e potencializar a utilização delas. Rapidamente percebemos que proteção de vida e saúde na pandemia não poderia se restringir ao físico, porque o ambiente da pandemia estava exigindo muito do psicológico das pessoas. Aí, passamos a dar um zoom nas iniciativas de saúde mental.

Como foi esse foco na saúde mental a partir do começo da pandemia?

A gente se organizou numa frente com médicos, de saúde, com pessoas olhando sintomas, pessoas que tinham sido contaminadas e o reforço na saúde mental. Aí entramos com a divulgação muito forte do programa Confio. A saúde mental é um tema que as pessoas ainda tem preconceito e estigma em falar.

Por isso, é um canal que tem sigilo e que está à disposição do colaborador e ele não precisa passar pelo gestor. Além disso, passamos a usar todas as nossas formas de comunicação interna para falar de saúde, inclusive saúde mental. Passamos a oferecer aula de mindfulness, de ioga, de ginástica, laboral, lives falando sobre o tema de saúde mental. Então, 90% dos acessos hoje do Confio são buscando ajuda em relação à saúde mental.

Marcia Baena

Marcia Baena: "Embora sigiloso, a gente consegue ter a informação sobre os temas mais buscados, as principais dificuldades dos colaboradores" (Burger King)

Como funciona o Confio?

Ele é uma solução de atendimento aos colaboradores e familiares, uma solução gratuita, 24 horas, sete por dias por semana e sigilosa. Ela faz a orientação em três grandes frentes: financeira, psicológica e jurídica. Isso porque os colaboradores, falando em qualidade de vida, podem estar endividados e isso estar tirando o sono dele.

Às vezes, questões familiares era um problema para ele. Boa parte do nosso público é o dos restaurantes, que muitas vezes têm funcionários bastante simples, sem acesso a alguns recursos. Esse canal é feito por uma empresa terceirizada, até porque tem uma questão de sigilo. É uma equipe multifuncional, composto por assistentes sociais, advogados, assistentes sociais.

De alguma forma, o BK utiliza essas informações que vem ali para tomar decisões sobre a gestão de pessoas?

Embora sigiloso, a gente consegue ter a informação sobre os temas mais buscados, as principais dificuldades dos colaboradores. A gente tem pensado nisso como uma forma de retroalimentar nossas iniciativas. No início da pandemia, quando a gente divulgou o canal e percebemos o volume de buscas por temas de saúde mental, a gente também começou a falar mais sobre o assunto na empresa. São inputs que ajudam a ir adequando medidas nossas.

Hoje, o que temos mais feito são iniciativas de capacitação com as lideranças, para que elas estejam mais treinadas para identificar sinais de problemas com saúde mental. Como seres humanos, nós não fomos treinados para olhar isso. Nem para olhar para nós, quiçá olhar isso para dentro de uma equipe. Então o Confio me dá muitos dados, muita informação.

O ambiente de restaurantes é mais estressante. Somado a isso, eles têm um grupo de funcionários com escolaridade mais baixa e que pode estar com maior vulnerabilidade social. Como vocês olham para isso?

A gente olha para todos os nossos públicos. No caso dos restaurantes, todos os cuidados existem, como intervalo de descanso, seja entre a jornada, seja intervalo o que ele precisa ter no horário de trabalho. Agora, existe um arma, um antídoto, que é o mesmo. Para a loja ou para o corporativo, que é a liderança.

A relação com a liderança é o que faz a diferença na experiência do colaborador em qualquer empresa, e também na saúde mental. Isso porque havendo uma questão de confiança essas dificuldades não deixam de existir, mas ficam mais leves. Além das práticas concretas, como questões de plano de saúde, remuneração e capacitação, a gente tem investido no tato desse líder. É quem o colaborador procura, é quem o colaborador aciona, que a gente tá nesse momento.

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