EXAME Agro

Cerrado gera 60% de toda a produção agrícola do país. Você sabia?

O desafio atual é como equilibrar a produção de alimentos com a proteção do bioma

O Cerrado ocupa 2 milhões de quilômetros quadrados, o que cobre 24% do território brasileiro, reúne 8 das 12 bacias hidrográficas do país e tem 330 mil espécies de plantas e animais

O Cerrado ocupa 2 milhões de quilômetros quadrados, o que cobre 24% do território brasileiro, reúne 8 das 12 bacias hidrográficas do país e tem 330 mil espécies de plantas e animais

EXAME Solutions
EXAME Solutions

EXAME Solutions

Publicado em 8 de maio de 2024 às 15h00.

Última atualização em 8 de maio de 2024 às 15h25.

Muito se fala da importância da Amazônia para o Brasil e o mundo. E, de fato, esse bioma tem grande relevância para o planeta. Mas existe um outro bioma brasileiro também muito valioso – e bem menos falado: o Cerrado.

O Cerrado sempre ficou um pouco na sombra da Amazônia, mas essa região, considerada a savana mais biodiversa do mundo, detém uma terra tão fértil que é responsável por 60% de toda a produção agrícola do Brasil, incluindo culturas como soja, milho e algodão.

Por que o Cerrado é tão importante?

São 2 milhões de quilômetros quadrados, o que cobre 24% do território brasileiro. Ali estão oito das 12 bacias hidrográficas do país, incluindo o Aquífero Guarani, o segundo maior reservatório subterrâneo do mundo. Em relação à biodiversidade, o Cerrado concentra 330 mil espécies — 5% de toda a biodiversidade do planeta — entre plantas, aves, répteis, anfíbios, peixes, insetos e mamíferos.

Além disso, o bioma é um importante reservatório de carbono. Embora o Cerrado não seja uma floresta tropical, as suas árvores, pastagens e solos ricos retêm um sexto de todo o carbono armazenado no Brasil.

Agricultura no Cerrado

A área destinada a culturas no Cerrado cresceu muito nos últimos anos, 87% entre 2000 e 2015, segundo dados de um levantamento de 2016, e segue avançando em um ritmo ainda mais acelerado. Somente em 2023, a área de savana do Cerrado convertida em locais de agricultura aumentou 43%, de acordo com dados oficiais do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Segundo um levantamento do MapBiomas, no Cerrado, a soja teve um aumento de mais de 15 vezes de área plantada, cerca de 18 milhões de hectares, colocando o bioma na liderança em área agrícola e área plantada com soja no país. Hoje, o Cerrado corresponde a 48% da área plantada com soja no Brasil. Em 2022, a soja ocupava 11% da área do bioma.

Com isso, o Cerrado é parte fundamental do agronegócio brasileiro — e o grande desafio é como equilibrar essa produção de alimentos com a proteção ecológica.

Ainda que a região seja um reservatório relevante de carbono, a produção agrícola e a conversão de terras em áreas cultiváveis estão consumindo essa reserva. Em 2022, essas atividades liberaram 304 milhões de toneladas de CO2, segundo dados do Sistema de Estimativa de Emissão de Gases (SEEG).

Outro ponto preocupante é que a conversão da vegetação nativa em terras agrícolas perturba os padrões regionais de precipitação, agrava a erosão e reduz a capacidade do solo de reter água. Desde 1985, quase 90% das bacias hidrográficas analisadas sofreram diminuição dos fluxos de água. Nesse ritmo, os fluxos dos rios no Cerrado cairão um terço até 2050.

Nesse cenário, um novo relatório publicado pela Aliança para as Florestas Tropicais do Fórum Econômico Mundial mostra que a tecnologia inteligente, melhores políticas e o aumento do investimento poderiam criar sinergia entre algo que parece antagônico: a agropecuária e a proteção do meio ambiente.

Entre as principais recomendações para alcançar esse equilíbrio no Cerrado, estão:

  • Intensificação sustentável da agricultura: a principal conclusão aqui é que o Brasil pode aumentar os seus níveis de produção agrícola e de carne bovina sem ter de converter mais savanas nativas. O foco deve ser na restauração dos 32 milhões de hectares de terras degradadas no Cerrado de volta a terras produtivas, utilizando agricultura regenerativa e sistemas que integrem culturas, pecuária e silvicultura. A otimização da produção de carne bovina, por exemplo, poderia aumentar a produtividade de 67 kg para 157 kg de carne por hectare por ano, reduzindo as emissões de carne bovina em 45% por quilo. De acordo com o relatório, a intensificação sustentável da agricultura no Cerrado poderia acrescentar de US$ 17 bilhões a US$ 19 bilhões anualmente ao PIB do Brasil até 2030.
  • Abordagem bioeconômica para proteger e restaurar a vegetação nativa: o Brasil pode gerar valor para a vegetação nativa capitalizando as oportunidades dos mercados de carbono e das bioindústrias, como a biossaúde, a biocosmética e o ecoturismo. Isso poderia gerar de US$ 11 bilhões a US$ 20 bilhões ao PIB brasileiro, indica o Fórum Econômico Mundial.
  • Energia renovável e indústria verde bem concebidas: o desenvolvimento de energia renovável no Cerrado, juntamente com a produção de biodiesel, combustível de aviação sustentável e hidrogênio verde para descarbonizar indústrias com grandes emissões poderia gerar entre US$ 19 bilhões e US$ 33 bilhões em novas receitas.
  • Incentivos para os produtores protegerem propriedades privadas: embora 80% da Amazônia esteja legalmente protegida contra o desmatamento e a conversão, apenas de 20% a 35% do Cerrado se beneficia das mesmas leis. Isso significa que mais de 30 milhões de hectares de terras privadas ainda poderiam ser convertidos legalmente. A recomendação do relatório é desenvolver formas de incentivar os proprietários de terras a conservar o máximo possível de vegetação nativa, ao mesmo tempo que se fortalece a aplicação da lei para eliminar a conversão ilegal.
Acompanhe tudo sobre:Alimentando o Planetabranded-content

Mais de EXAME Agro

Exportações do agronegócio alcançam recorde de US$ 15,24 bilhões em abril

Mais valioso do que ouro: conheça o mel de abelhas sem ferrão, que chega a custar R$ 1.300 o litro

Conab fará 1º leilão de compra de arroz importado na próxima semana

Como a agroecologia pode ser uma alternativa para enfrentar a fome e as mudanças climáticas?

Mais na Exame