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Uma nova dimensão

Scott Crump criou uma fábrica de impressoras 3D no final dos anos 80. Hoje ele é dono da Stratasys, que faturou 120 milhões de dólares no ano passado

Impressora 3D fabricada pela Stratasys (Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 21 de abril de 2011 às 08h00.

Um dos grandes desafios de quem empreende em setores muito inovadores é atravessar o período em que seu mercado ainda não está maduro. O americano Scott Crump, de 58 anos, passou por essa situação. Há 23 anos, Crump fundou a Stratasys, fabricante de impressoras 3D que imprimem objetos de plástico derretido ou metal com base em um desenho ou projeto feito no computador. Naquela época, ninguém sabia exatamente qual poderia ser a utilidade de uma máquina como essa. “Quando paro para pensar em como começamos, me surpreendo em ver que o tempo passou rápido e quanto a nossa tecnologia avançou”, diz. “É difícil de acreditar como nossos primeiros dias foram difíceis.”

Com sede na cidade de Minneapolis, a Stratasys vendeu no ano passado 2 500 impressoras e faturou 117 milhões de dólares, quase 20% mais que em 2009. Meses atrás, Crump deu um passo decisivo ao firmar um acordo com a gigante Hewlett Packard, que passou a distribuir suas impressoras 3D. Foi um feito considerável para uma empresa que, até o ano 2000, patinou. A história mudou quando sua equipe de engenheiros conseguiu desenvolver uma máquina confiável, de pequeno porte e relativamente barata. “O progresso de um negócio é evolutivo e raramente acontece aos saltos”, diz Crump. “O mais comum é que uma nova tecnologia se desenvolva lentamente.”

Quando Crump começou, o melhor que o dono de uma empresa como a Stratasys poderia esperar era desenvolver uma tecnologia capaz de interessar grandes empresas com dinheiro para investir centenas de milhares de dólares numa máquina para imprimir uns poucos protótipos de engenharia. Não se conhecia ainda o conceito de “cauda longa”, que surgiu para explicar como a internet foi capaz de viabilizar economicamente a venda de itens em menor escala — a própria internet, na época, era uma pequena rede restrita a uns poucos centros de pesquisa americanos. A multiplicação dos mercados de nicho e o interesse das companhias em produzir bens de consumo quase personalizados puseram as impressoras 3D no centro das atenções.

O crescimento da Stratasys coincidiu com a expansão do mercado de impressoras 3D, que, a partir de 2003, ganhou contornos promissores. A tecnologia existe há várias décadas e vem ajudando engenheiros e designers a fazer protótipos, com custo baixo e em poucas horas, antes de se aventurarem a produzir o objeto de verdade. Recentemente, as impressões em 3D ganharam espaço com o desenvolvimento de novos softwares e o uso de materiais mais duráveis, como o titânio. Com isso, empresas começaram a produzir não só protótipos mas também produtos finais personalizados. Mais de 20% dos objetos impressos em 3D hoje em dia são produtos prontos, ante quase 80% de protótipos, segundo o consultor Terry Wohlers, que dirige uma empresa de pesquisa especializada nesse tipo de negócio. Ele prevê que, até 2020, 50% dos trabalhos impressos em 3D serão produtos finais — hoje, uma das aplicações mais corriqueiras é a impressão de maquetes de construções, móveis, ferramentas e objetos de arte. Para especialistas como Wohlers, trata-se de uma revolução comparável à invenção da máquina a vapor. Pode ser puro exagero. Mas cada vez mais técnicos acreditam que, no futuro, muitas fábricas poderão ter impressoras 3D operando ao lado de equipamentos tradicionais, como fresadoras, prensas, equipamentos de fundição e moldagem por injeção de plástico.


A Stratasys está acompanhando essa evolução. Em seu portfólio de clientes, há empresas dos ramos aeroespacial, educacional e automotivo — a grande vitrine é uma parceria com a canadense Kor Ecologic, para quem a Stratasys vai imprimir a carroceria de um carro híbrido, o Urbee, projetado para rodar movido a energia solar ou etanol.

As primeiras impressoras que saíram da fábrica da Stratasys estavam bem longe dessa realidade. Cada máquina tinha o tamanho de uma geladeira e usava uma tecnologia rudimentar para o padrão atual. Para montar as primeiras unidades, Crump vendeu 35% da empresa para investidores. As máquinas custavam 300 000 dólares — e os primeiros clientes foram companhias como a General Motors e a 3M. A meta de Crump era reduzir o preço e o tamanho das impressoras para torná-las acessíveis a clientes como desenhistas industriais, escolas de engenharia e empresas menores interessadas em fazer protótipos de produtos que gostariam de testar.

Quem se lança muito cedo num mercado inovador tem a vantagem de chegar antes de todo mundo para aproveitar as melhores oportunidades — mas, ao mesmo tempo, corre o risco de ver seu espaço invadido repentinamente por grandes empresas com mais recursos para desenvolver uma tecnologia concorrente. Crump tomou esse susto em 1992, quando a IBM anunciou que estava desenvolvendo uma impressora 3D de pequeno porte com um mecanismo bastante parecido com o que a Stratasys havia patenteado.

Com medo de ficar para trás, ele procurou a IBM oferecendo parte de sua empresa. A IBM aceitou e investiu 500 000 dólares na Stratasys. As primeiras 300 máquinas, batizadas de Genesys, já custavam perto de 55 000 dólares cada uma, tornando-se, assim, mais acessíveis a clientes menores. As dificuldades de manutenção, porém, continuavam a ser um obstáculo para o crescimento da empresa — devido aos defeitos frequentes na impressão dos objetos, a IBM e a Stratasys tiveram de suspender a produção das impressoras por duas vezes num período de cinco anos. Em 1998, Crump fez uma revisão completa do projeto, substituindo os materiais utilizados nas impressoras por outros, mais resistentes. Não foi o bastante. Em 2001, a produção foi interrompida novamente.

A saída foi simplificar a tecnologia. Um dos principais problemas estava relacionado ao material plástico usado para “imprimir os objetos”. O projeto desenvolvido com a IBM utilizava pequenos discos de plástico, que eram aquecidos até derreter e então expelidos por um bico. Ora o bico entupia, ora o carregador dos discos emperrava. Crump então teve a ideia de substituir esse sistema por carretéis de uma espécie de linha, o que eliminou componentes caros. Além de imprimir melhor, as máquinas ficaram bem mais baratas, em torno de 25 000 dólares. A confiabilidade aumentou a ponto de o equipamento funcionar sem falhas por até 3.000 horas — seis vezes a performance do modelo anterior.

Crump fundou a Stratasys pouco depois de sair da faculdade de engenharia. “Herdei a verve empreendedora do meu pai, criador de oito empresas tecnológicas, entre as quais uma fabricante de equipamentos de diagnóstico ocular e aparelhos para filtrar água”, afirma. Segundo suas contas, existem 1,7 milhão de computadores no mundo que utilizam programas CAD (sigla em inglês para computer-aided design), softwares usados pela engenharia, geologia, geografia, arquitetura e design para facilitar o projeto e o desenho técnicos. “Se apenas um em cada 20 usuários comprar uma impressora 3D, há um mercado de 2 bilhões de dólares a ser explorado”, diz ele.

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Um dos grandes desafios de quem empreende em setores muito inovadores é atravessar o período em que seu mercado ainda não está maduro. O americano Scott Crump, de 58 anos, passou por essa situação. Há 23 anos, Crump fundou a Stratasys, fabricante de impressoras 3D que imprimem objetos de plástico derretido ou metal com base em um desenho ou projeto feito no computador. Naquela época, ninguém sabia exatamente qual poderia ser a utilidade de uma máquina como essa. “Quando paro para pensar em como começamos, me surpreendo em ver que o tempo passou rápido e quanto a nossa tecnologia avançou”, diz. “É difícil de acreditar como nossos primeiros dias foram difíceis.”

Com sede na cidade de Minneapolis, a Stratasys vendeu no ano passado 2 500 impressoras e faturou 117 milhões de dólares, quase 20% mais que em 2009. Meses atrás, Crump deu um passo decisivo ao firmar um acordo com a gigante Hewlett Packard, que passou a distribuir suas impressoras 3D. Foi um feito considerável para uma empresa que, até o ano 2000, patinou. A história mudou quando sua equipe de engenheiros conseguiu desenvolver uma máquina confiável, de pequeno porte e relativamente barata. “O progresso de um negócio é evolutivo e raramente acontece aos saltos”, diz Crump. “O mais comum é que uma nova tecnologia se desenvolva lentamente.”

Quando Crump começou, o melhor que o dono de uma empresa como a Stratasys poderia esperar era desenvolver uma tecnologia capaz de interessar grandes empresas com dinheiro para investir centenas de milhares de dólares numa máquina para imprimir uns poucos protótipos de engenharia. Não se conhecia ainda o conceito de “cauda longa”, que surgiu para explicar como a internet foi capaz de viabilizar economicamente a venda de itens em menor escala — a própria internet, na época, era uma pequena rede restrita a uns poucos centros de pesquisa americanos. A multiplicação dos mercados de nicho e o interesse das companhias em produzir bens de consumo quase personalizados puseram as impressoras 3D no centro das atenções.

O crescimento da Stratasys coincidiu com a expansão do mercado de impressoras 3D, que, a partir de 2003, ganhou contornos promissores. A tecnologia existe há várias décadas e vem ajudando engenheiros e designers a fazer protótipos, com custo baixo e em poucas horas, antes de se aventurarem a produzir o objeto de verdade. Recentemente, as impressões em 3D ganharam espaço com o desenvolvimento de novos softwares e o uso de materiais mais duráveis, como o titânio. Com isso, empresas começaram a produzir não só protótipos mas também produtos finais personalizados. Mais de 20% dos objetos impressos em 3D hoje em dia são produtos prontos, ante quase 80% de protótipos, segundo o consultor Terry Wohlers, que dirige uma empresa de pesquisa especializada nesse tipo de negócio. Ele prevê que, até 2020, 50% dos trabalhos impressos em 3D serão produtos finais — hoje, uma das aplicações mais corriqueiras é a impressão de maquetes de construções, móveis, ferramentas e objetos de arte. Para especialistas como Wohlers, trata-se de uma revolução comparável à invenção da máquina a vapor. Pode ser puro exagero. Mas cada vez mais técnicos acreditam que, no futuro, muitas fábricas poderão ter impressoras 3D operando ao lado de equipamentos tradicionais, como fresadoras, prensas, equipamentos de fundição e moldagem por injeção de plástico.


A Stratasys está acompanhando essa evolução. Em seu portfólio de clientes, há empresas dos ramos aeroespacial, educacional e automotivo — a grande vitrine é uma parceria com a canadense Kor Ecologic, para quem a Stratasys vai imprimir a carroceria de um carro híbrido, o Urbee, projetado para rodar movido a energia solar ou etanol.

As primeiras impressoras que saíram da fábrica da Stratasys estavam bem longe dessa realidade. Cada máquina tinha o tamanho de uma geladeira e usava uma tecnologia rudimentar para o padrão atual. Para montar as primeiras unidades, Crump vendeu 35% da empresa para investidores. As máquinas custavam 300 000 dólares — e os primeiros clientes foram companhias como a General Motors e a 3M. A meta de Crump era reduzir o preço e o tamanho das impressoras para torná-las acessíveis a clientes como desenhistas industriais, escolas de engenharia e empresas menores interessadas em fazer protótipos de produtos que gostariam de testar.

Quem se lança muito cedo num mercado inovador tem a vantagem de chegar antes de todo mundo para aproveitar as melhores oportunidades — mas, ao mesmo tempo, corre o risco de ver seu espaço invadido repentinamente por grandes empresas com mais recursos para desenvolver uma tecnologia concorrente. Crump tomou esse susto em 1992, quando a IBM anunciou que estava desenvolvendo uma impressora 3D de pequeno porte com um mecanismo bastante parecido com o que a Stratasys havia patenteado.

Com medo de ficar para trás, ele procurou a IBM oferecendo parte de sua empresa. A IBM aceitou e investiu 500 000 dólares na Stratasys. As primeiras 300 máquinas, batizadas de Genesys, já custavam perto de 55 000 dólares cada uma, tornando-se, assim, mais acessíveis a clientes menores. As dificuldades de manutenção, porém, continuavam a ser um obstáculo para o crescimento da empresa — devido aos defeitos frequentes na impressão dos objetos, a IBM e a Stratasys tiveram de suspender a produção das impressoras por duas vezes num período de cinco anos. Em 1998, Crump fez uma revisão completa do projeto, substituindo os materiais utilizados nas impressoras por outros, mais resistentes. Não foi o bastante. Em 2001, a produção foi interrompida novamente.

A saída foi simplificar a tecnologia. Um dos principais problemas estava relacionado ao material plástico usado para “imprimir os objetos”. O projeto desenvolvido com a IBM utilizava pequenos discos de plástico, que eram aquecidos até derreter e então expelidos por um bico. Ora o bico entupia, ora o carregador dos discos emperrava. Crump então teve a ideia de substituir esse sistema por carretéis de uma espécie de linha, o que eliminou componentes caros. Além de imprimir melhor, as máquinas ficaram bem mais baratas, em torno de 25 000 dólares. A confiabilidade aumentou a ponto de o equipamento funcionar sem falhas por até 3.000 horas — seis vezes a performance do modelo anterior.

Crump fundou a Stratasys pouco depois de sair da faculdade de engenharia. “Herdei a verve empreendedora do meu pai, criador de oito empresas tecnológicas, entre as quais uma fabricante de equipamentos de diagnóstico ocular e aparelhos para filtrar água”, afirma. Segundo suas contas, existem 1,7 milhão de computadores no mundo que utilizam programas CAD (sigla em inglês para computer-aided design), softwares usados pela engenharia, geologia, geografia, arquitetura e design para facilitar o projeto e o desenho técnicos. “Se apenas um em cada 20 usuários comprar uma impressora 3D, há um mercado de 2 bilhões de dólares a ser explorado”, diz ele.

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