Ponte aérea de jatinho a 750 reais. Mas compartilhada
Publicado em 10/11/2017 às 16:34.
Última atualização em 10/11/2017 às 16:53.
Depois de atuar no processo de internacionalização do aplicativo de transporte Easy Taxi, que chegou a estar em mais de 30 países, o polonês Paul Malicki prepara uma nova empreitada no Brasil: a Flapper, companhia de compartilhamento de voos em jatinhos.
É, vá lá, uma espécie de Uber da aviação executiva. A diferença com um simples táxi aéreo está na praticidade de fazer tudo por um aplicativo e poder viajar no mesmo dia. A ideia é que o preço também seja mais atrativo.
O negócio tenta decolar desde o ano passado, mas apenas na próxima terça-feira 14 acontecerá o primeiro voo compartilhado da nova fase da empresa, entre o aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Cada um dos oito ocupantes do jatinho Beechcraft King Air B200 vai pagar em média 750 reais pelo trecho.
O aplicativo da Flapper começou como uma plataforma de compartilhamento de helicópteros, mas a coisa não andou. Os sócios da companhia notaram os brasileiros gostam de transportar muita bagagem e não estavam confortáveis em compartilhar o aperto dos helicópteros.
“Tivemos que ir fundo para entender o gosto do brasileiro. Em resumo é levar muita bagagem, sem nenhum tipo de atraso, pouca burocracia e com muita preocupação com a questão segurança”, diz. “Precisamos rever nossa estratégia logo no começo”.
Outro percalço foi a questão burocrática com a Anac, agência que regula o setor aéreo. Foram meses até conquistar a autorização na última semana, que prevê menos de 15 voos por semana, sem horários fixos para trazer opções flexíveis aos clientes e prioridade para uso de aeroportos não comerciais. Mas
Qualidade x escala
A Flapper vai tentar encontrar um meio termo entre o luxo e os cada dia mais populares voos comerciais. Enquanto a companhia planeja cobrar em média 750 pela ponte aérea, um voo regular de um só trecho custa em média 300 reais. Alugar um jatinho custa de 10.000 a 15.000 reais. “Nosso serviço foca a classe média alta e a classe alta. Pessoas que querem agilidade no embarque, um serviço diferenciado e estão dispostas a pagar por isso”, explica Malicki.
Ele diz que a expectativa é ajustar os preços com tarifas dinâmicas à medida que a empresa crescer, aproveitando sua experiência de diretor de marketing da Easy. “A ideia é manter a qualidade no serviço. Enquanto na minha experiência com a Easy Taxi buscamos transporte para todos, na Flapper o foco é para poucos. Sempre digo que qualidade é difícil de escalar”, diz.
O executivo prodígio, que começou a trabalhar aos 15 anos quando se tornou sócio do irmão ao comprar uma empresa do governo da Polônia na época da transição do comunismo para o capitalismo, conta com o tamanho do mercado e a ociosidade das aeronaves para se dar bem de novo no Brasil. O país é o segundo maior mercado de jatos comerciais, perdendo apenas para os Estados Unidos.
“A média de uso dos jatos americanos é de 1.500 horas por ano, enquanto no Brasil é de 500 horas. Esse tempo ocioso pode ser muito bem aproveitado”, avalia.
Malicki tem um parceiro na empreitada, o russo Arthur Virzin, diretor da empresa de pagamentos Qiwi. Eles captaram cerca de 1 milhão de reais de investidores nacionais e comemoram a chegada de um novo aporte, sem revelar o valor e a origem. "Estamos nos preparando para crescer rápido. Ainda este ano teremos rotas de São Paulo para Ubatuba (SP) e Angra dos Reis (RJ), por cerca de 500 reais por pessoa”, diz.
Além disso, a empresa se tornou parceira do programa Voe Minas, que promove o desenvolvimento econômico regionalizado, e terá voos subsidiados pelo governo mineiro para 16 cidades este ano. “Os trajetos dentro do estado custarão cerca de 200 por trecho”, diz.
A Flapper não é dona dos jatinhos e conta com dois parceiros: a Líder Aviação e a Icon Aviation, ambas companhias que já fazem táxi aéreo. Funciona assim: a nova empresa freta a aeronave com condições especiais (já que muitas vezes estariam paradas) e compartilha os voos com os clientes. Sendo assim, o custo de manutenção fica com as donas das aeronaves, que prometem investir em novos jatinhos para atender a Flapper com exclusividade em breve.
No ano que vem a Flapper pretende lançar um modelo de assinatura, com voos a vontade entre São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte para todos membros que pagarem 3.000 reais por mês.
A empresa foi lançada em um momento em que a aviação executiva enfrenta dificuldade no Brasil. As vendas de jatinhos executivos recuaram 5% em 2016, na comparação anual. A frota nacional atualmente soma cerca de 700 aeronaves, de acordo com a Abag (Associação Brasileira de Aviação Geral).
Nessa toada, crescem as empresas de compartilhamento de propriedade de jatinhos, como a Prime Fraction Club, onde os compradores rateiam o investimento e pagam cotas superiores a 100.000 reais por mês para usar a aeronave.
Voar de Flapper certamente não tem o glamour de ser sócio (ou dono) de um jatinho, e também não dá a flexibilidade de horários das empresas comerciais. Mas é um meio termo que, para Malicki e seus sócios, tem tudo para pegar no Brasil.
Se tudo der certo, em breve eles terão que encarar um novo desafio: a autorização da Anac para apenas 15 voos por semana. Hoje tudo que eles querem é que o problema venha o quanto antes.