São Paulo – São tempos difíceis para o real: nos últimos doze meses, a moeda brasileira foi a segunda que mais desvalorizou no mundo, perdendo apenas para o rublo russo. Para se ter uma ideia, ontem o dólar estava cotado a 3,876 reais. Se a queda de valor do real é ruim para grande parte dos empreendimentos brasileiros, pode ser ainda pior para as pequenas e médias empresas.
Nesse tipo de negócio, a desvalorização do real tem um impacto ainda maior sobre os custos empresariais, afirma Daniel Sousa, professor de economia do Ibmec/RJ. “Como as pequenas empresas têm uma margem de manobra menor do que as grandes, com menos acesso ao crédito e aos subsídios do governo, elas são bem mais impactadas por essa perda de valor da moeda”.
Além disso, as PMEs têm mais dificuldades para comprar e vender em grandes quantidades e, portanto, combinarem melhores condições com os fornecedores. “Elas vão muito na negociação caso a caso. Com um acordo de volume menor, ficam mais à mercê da outra parte da conversa”, explica Gustavo Marques, gerente de acesso a mercados e serviços financeiros do Sebrae-SP.
O golpe é ainda mais letal caso a maioria dos gastos empresariais estiver negociada em dólar (enquanto a receita permanece em reais). “Quem precisa importar – ou seja, tem sua matéria-prima precificada em dólar, como as commodities – tem um impacto financeiro grande no seu resultado”, diz Rafael Mingone, sócio da TMG Capital.
Essa queda na receita não é repassada para o bolso do consumidor, porque o empreendimento enfrenta muita concorrência. “A PME vai tirar do próprio lucro para se manter competitiva. Já a grande não tira da sua própria margem, porque consegue negociar com seus fornecedores”, explica Marques.
Não há previsões otimistas para que o real se valorize, ao menos para o curto prazo (até o final do ano, a expectativa é que o dólar fique no patamar de quatro reais). Mas nem por isso tudo está perdido: essa é justamente a hora para enxergar oportunidades. Veja, a seguir, como sua empresa pode lidar com a alta do dólar:
Controle as perdas
Proteção é a palavra de ordem nesse momento. Para conseguir controlar os efeitos da oscilação dos valores, Mingone recomenda uma tática usada principalmente por grandes empresas: o hedge (já sabe o que essa palavra significa?). Por meio dele, a companhia pode negociar a cotação que será usada já na hora de fechar o acordo, o que evita surpresas mais para frente.
“Se você é uma exportadora ou uma importadora, há hoje instrumentos financeiros que protejem o negócio da variação cambial. Isso é algo que as instituições financeiras oferecem”, afirma o consultor.
Já Marques, do Sebrae-SP, recomenda procurar parceiros nacionais, quando for possível, porque aí a negociação é feita em reais. “Nesse momento, procure alternativas de fornecedores no mercado interno. Isso reduz um pouco a dependência em negócios localizados no exterior”, recomenda.
Impulsione seus ganhos
Se as importadoras brasileiras são as que mais sofrem com a alta do dólar, o contrário também vale: as empresas que exportam levam vantagem nesse momento. Isso porque sua matéria-prima é comprada em reais, no mercado local, enquanto sua receita é em dólares, por meio de clientes internacionais.
No entanto, esse tipo de pequena empresa, que exporta de forma cotidiana, ainda representa uma pequena parcela do total. “Mesmo dentro dessa minoria, as PMEs ficam muito na mão do intermediário. É ainda mais difícil um pequeno negócio combinar a exportação de forma direta. E, claro, essa intermediação gera um custo a mais”, explica Marques.
Porém, não adianta se unir a essa parcela de empresas apenas por oportunismo: é preciso que o comércio exterior seja uma política do empreendimento. “A PME que já aderiu à exportação tem bons parceiros e, portanto, sai na frente. Não queira fazer isso só agora, porque o dólar está alto”, alerta o gerente. Isso porque exportar requer a especificação do seu produto ou serviço, por meio de um site em inglês e uma equipe que fale o idioma, por exemplo. É um grande investimento de dinheiro e tempo.
Mingone ressalta que ter a exportação como uma alternativa dentro do negócio também é uma forma de hedge, só que mais natural do que pré-fixar a cotação da moeda em um acordo. “Você diversifica e cria um equilíbrio. Isso é importante para a operação da empresa e para sua saúde financeira”, explica.
Além de fazer essas análises de mercado, todo momento de recessão econômica pede a reanimação do espírito empreendedor. “A pequena empresa deve tentar inovar, como uma forma de diferenciação em relação aos concorrentes e também como forma de otimizar a operação, cortando custos”, afirma Sousa. “No mais, é ter paciência e esperar a crise passar”.
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1. Da ideia à ação
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São Paulo - Na
crise econômica, montar um negócio pode ser uma forma de fugir do desemprego, ou ainda uma oportunidade de ganhar mais do que com como funcionário. No entanto, o período de incertezas aumenta o medo de o empreendimento ir por água abaixo. Sendo assim, como saber qual
ideia de negócio dá certo numa época em que todas as moedas são contadas? Antes de tudo, é preciso entender que a recessão é uma época em que as pessoas querem se defender de algo. "Toda vez que a gente entra em uma crise, as pessoas se posicionam contra determinadas ameaças. Mas, todas as vezes que elas existem, há também oportunidades de negócio", diz Luiz Arnaldo Biagio, professor da Business School São Paulo (BSP). "Essa é a hora de buscar o que você pode fazer de diferente, e tem muita gente prosperando. Claro que não é fácil, mas a gente não pode se abater: a crise tem que servir como um motivador", afirma Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora e professora de empreendedorismo na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e no Insper. Por incrível que pareça, a recessão pode ajudar o empreendedor nacional. Isso porque, com a alta do dólar, a importação se torna uma opção mais cara. "Produtores nacionais podem colocar produtos no mercado e se apresentar para grandes empresas", analisa Pedro Vidigal, membro da Fundepar, gestora de investimentos em empresas tecnológicas de universidades. Seja qual for o foco do negócio, um empreendedor em tempos de crise não pode se esquecer da situação de seus clientes, que estão controlando mais os gastos. "As pessoas evitam gastar mais com coisas novas, ou seja, há uma tendência de segurar o dinheiro. Você terá que ser mais certeiro no seu negócio", diz Max Bianchi Godoy, professor de planejamento estratégico do Ibmec/DF. Para acertar esse alvo, a palavra de ordem é estudar muito o mercado e olhar todas as possbilidades. Por isso, os quatro especialistas deram dicas de ideias de negócio que podem dar certo durante a recessão econômica - e por quê. Navegue nas fotos acima e veja algumas dessas ideias.
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2. Venda de cosméticos no varejo
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A vaidade é a
quarta maior economia do mundo, movimentando uma quantia maior que o PIB da Alemanha. No Brasil, é um mercado consolidado. "A possibilidade de negócio nessa área é muito grande, as pessoas não deixam a beleza de lado", diz Biagio. Na crise, o professor afirma que muitas pessoas optam por trocar o salão de beleza pelos cuidados em casa. Sendo assim, uma boa ideia de negócio é apostar em produtos de beleza voltados ao consumidor final, oferecendo uma solução mais barata para quem não pode ou não quer se descuidar da aparência.
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3. Comida prática
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Com crise ou sem crise, o setor de alimentação continua faturando. Mas os consumidores podem poupar idas a restaurantes em prol de opções mais modestas. Por isso, Biagio recomenda buscar algum negócio no setor que facilite a vida do cliente (e que seja financeiramente mais viável). Por exemplo, ao invés de ele ir a restaurante para comer uma salada, o que envolve deslocamento e um preço alto, ofereça uma salada pronta, vendida em supermercados.
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4. Empreendimentos sobre rodas
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4/13 (Creative Commons/Flickr/Todd Lappin)
Muitas pessoas demitidas pegam seu Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e usam o valor para transformar vans e caminhões em um negócio, diz Godoy. Mas, para que a tendência não vire fracasso, o professor recomenda se especializar em poucos produtos, mas inovadores. "Eles devem ser baratos e atrair as pessoas", afirma. A dica do especialista é buscar algo diferente, e fugir do óbvio "como as comidas gordurosas que sempre existiram na rua". Para regiões que tenham um apelo de "geração saúde", por exemplo, uma ideia é investir em sucos diferenciados, voltados para uma alimentação saudável.
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5. Conserto de produtos
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As roupas descosturam e o smartphone quebra. Quem geralmente iria direto comprar um substituto se depara com um orçamento apertado durante a crise econômica. A alternativa? Procurar um serviço de reparos. "Em geral, o negócio de consertos tende a sobreviver mais na crise, porque as pessoas tendem a conservar mais o que elas já têm.", diz Godoy. Por isso, serviços como costura, carpintaria e assistência técnica, em geral, são mais requisitados nesse momento.
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6. Móveis montáveis
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Comprar um móvel para a casa já implica um grande custo, em especial épocas de crise. Por isso, quem realmente precisa gastar com esses itens irá procurar uma maneira de poupar em gastos adicionais. Nessas horas, oferecer móveis montáveis surge como uma alternativa, já que não há o valor de montagem incluído, recomenda Biagio. A pioneira no serviço é a loja sueca Ikea, mas alguns empreendedores estão criando negócios inovadores com a mesma possibilidade, como
os blocos de Lego da vida real.
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7. Treinamento em vendas e relacionamento com cliente
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Todo negócio procura vender mais durante a recessão. Nessa empreitada, alguns percebem que talvez precisam aprender a arte da negociação comercial. "Na crise, o conhecimento de vendas está sendo muito demandado", diz Ana. "Quem tem esse conhecimento e consegue compartilhá-lo pode montar um negócio sobre ensinar a vender". Mas não se trata somente de vender mais, e sim vender melhor. Por isso, um empreendedor que ensine não só a vender, mas também a fazer o pós-venda, encontra boas oportunidades. "É algo de que muita gente fala, mas existem poucos que conseguem ensinar o relacionamento com o cliente de uma forma direta e assertiva, com ações práticas".
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8. Divulgação e conteúdo para pequenas e médias empresas
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Um ponto de deficiência em muitos empreendimentos iniciais é a falta de uma divulgação eficiente. Por isso, Ana afirma que empreendedores com experiência em comunicação podem encontrar um mercado ainda pouco desenvolvido: o de assessoria especializada no setor das PMEs. O trabalho de marketing se relaciona com o da produção de conteúdo, algo muito requisitado pelos consumidores de um negócio. Não se trata apenas de realizar anúncios publicitários de um produto de beleza, por exemplo, mas também gerar informação que ajude o cliente no seu dia a dia, como os benefícios de cuidar da estética. "Não há muitas pessoas ou negócios que consigam gerar um conteúdo relevante e que, ao mesmo tempo, agrade as pessoas".
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9. Negociação digital entre varejo, empreendedor e consumidor
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9/13 (Pekic/Thinkstock)
Muitas pessoas têm algo que gostariam de vender: roupas usadas, livros já lidos, artesanato ou docinhos. Mas montar um comércio eletrônico próprio é uma tarefa árdua, que gera sucesso para poucos. Por isso, montar o chamado marketplace, que conecta os empreendedores aos consumidores finais, pode se tornar uma boa ideia de negócio. "Tem muita gente com produto, mas que precisa de um canal de vendas, e é isso que falta para o negócio deslanchar", explica Ana. Já Vidigal sugere uma outra nuance dentro da negociação online: conectar empreendedores virtuais não aos seus clientes, mas aos gigantes do setor. A ideia do negócio seria oferecer uma proposta à varejista para comprar produtos dos pequenos empreendedores: vale oferecer um desconto se a gigante comprar em grande quantidade. "No momento de crise, se as pessoas tiverem uma oportunidade de comprar com menor custo, elas deixam de frear as compras para apenas desacelerá-las".
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10. Redução de custo em logística
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Logística é um assunto complicado e que gera gastos enormes, especialmente para os empreendimentos brasileiros. Segundo Vidigal, ter um negócio que proponha a redução de custos na área gera um grande atrativo, especialmente em distribuidoras e indústrias de grande porte. O especialista recomenda oferecer como proposta a otimização dos fluxos logísticos internos do cliente, por meio de recursos tecnológicos e de novidades digitais. O empreendedor poderia tanto trabalhar para outras empresas quanto para serviços públicos.
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11. Economia de energia
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Na mesma linha de poupança de gastos empresariais, reduzir o custo da salgada conta de luz é uma grande preocupação dos negócios. O empreendedor inovador, que tem conhecimento de hardware e de serviços na nuvem, possui uma boa oportunidade de startup nas mãos. Segundo Vidigal, soluções de economia de energia que possam ser acopladas a hospitais, condomínios, universidades e órgãos públicos têm um apelo tanto pela redução de custo, que é o foco da grande maioria dos empresários, quanto pela sustentabilidade.
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12. Franqueamento
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O setor de franquias
cresceu 11,2% neste semestre, em relação ao mesmo período do ano passado. Em comparação com um negócio próprio, o franqueamento costuma ser mais seguro, uma vez que o franqueador já possui o
know-how sobre a área de atuação da franquia. "O grande problema é que há um investimento inicial alto e, às vezes, é preciso buscar um sócio. Mas tem sido um bom negócio", afirma Godoy. Ter uma marca conhecida do público também pode ajudar em épocas de crise. "A pessoa não se arrisca muito nessas horas, então é difícil construir um nome no mercado. A pessoa prefere pagar mais para não ter dor de cabeça no futuro". O docente destaca que, já que o franqueamento é apenas um modelo, é possível ter uma franquia com as ideias de negócio apresentadas anteriormente, aumentando as chances de sucesso na recessão.
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13. Veja agora quem transformou a ideia em realidade:
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13/13 (ThinkStock/sjenner13)