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Como o criador do Orkut ensina a aprender com os erros

O turco Orkut Büyükkökten contou sua trajetória empreendedora a EXAME.com - incluindo como se reinventou após o fim de sua famosa rede social.

Orkut Büyükkökten: inspiração para o Orkut veio de uma rede social para conectar estudantes (Geoffrey Rosenblatt)

Orkut Büyükkökten: inspiração para o Orkut veio de uma rede social para conectar estudantes (Geoffrey Rosenblatt)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 19 de dezembro de 2016 às 06h00.

Última atualização em 6 de setembro de 2018 às 08h49.

São Paulo – No mundo do empreendedorismo, a reinvenção é a regra. Mesmo que seu negócio seja um sucesso atualmente, nada garante que a situação será a mesma daqui a algum tempo.

O turco Orkut Büyükkökten aprendeu isso na prática. Sua criação, a rede social Orkut, teve um sucesso estrondoso, principalmente no Brasil: 300 milhões de usuários passaram pela plataforma e trocaram visualizações de perfis, depoimentos, “scraps” e conversas em diversas comunidades. Desses, 40 milhões foram brasileiros, segundo o próprio criador.

Porém, a rede social foi oficialmente terminada após dez anos, em 30 de setembro de 2014. Mesmo que contasse ainda com alguns usuários ativos, a plataforma acabou perdendo um espaço significativo para redes como Facebook e Twitter.

Mas quem acha que Büyükkökten sumiu do mapa está enganado. Em pleno 2016, o empreendedor anunciou a criação do sucessor do Orkut: o Hello. A nova rede social chegou ao Brasil em julho deste ano e tem o plano de atingir dois milhões de usuários no primeiro trimestre de 2017.

Em entrevista a EXAME.com, Büyükkökten falou sobre como o Orkut nasceu e tomou proporções inesperadas. Ele nasceu da mesma forma que muitos outros negócios: a partir de um time de uma pessoa. “Foi praticamente um projeto de uma pessoa só: eu fiz o design, a programação e até mesmo a montagem dos servidores”, conta o empreendedor.

Büyükkökten também deu sua análise do porquê de a rede ter pedido usuários com o tempo e quais ensinamentos tirou com o fim de seu negócio. Além disso, explicou como pretende voltar ao mercado e enfrentar a concorrência das atuais gigantes no mundo das redes.

Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista:

EXAME.com – Como você teve a ideia de negócio do Orkut, em uma época que as redes sociais ainda estavam no começo?

Orkut Büyükkökten – Eu tive a ideia por volta dos anos 2000. Era a época do MySpace e do Friendster, e eu estava cursando uma pós-graduação da Universidade de Stanford naquele momento. Eu queria achar uma maneira de conectar os estudantes entre si de forma online e promover novas amizades. Então, criei uma plataforma na qual eles poderiam se inscrever e convidar os colegas: ou seja, um modelo tradicional de redes sociais, que vemos até hoje.

Depois, quando eu trabalhava no Google, criei uma rede social que se parecia muito com essa rede social de Stanford. Mas, agora, todo o mundo poderia se juntar a ela.

Foi praticamente um projeto de uma pessoa só: eu fiz o design, a programação e até mesmo a montagem dos servidores. O projeto começou a crescer e nós decidimos torná-lo público. Estávamos perto do lançamento quando o Google chegou para mim e falou: “por que nós não chamamos de Orkut? Você já tem esse domínio registrado, tem apenas cinco letras e é algo único”. Foi assim que o Orkut foi lançado, em 2004.

EXAME.com – Você esperava que o Orkut tivesse tanto crescimento? E por que você acha que ele se popularizou, inclusive no Brasil?

Orkut Büyükkökten – A expansão superou até nossas expectativas mais otimistas: a rede cresceu exponencialmente pouco depois de lançar. Nós tínhamos um servidor que suportava 300 mil usuários e logo tivemos de reconstruir todo o produto e seu sistema de suporte, porque atingimos um milhão de perfis.

Ao longo dos seus anos de existência, o Orkut totalizou uma comunidade online de 300 milhões de usuários por todo o mundo. Foi uma aventura incrível.

Acho que essa explosão aconteceu muito por conta do design da rede: era algo muito fácil e simples de usar. Também era possível se conectar com amigos e amigos dos seus amigos, o que ajudou a rede em termos de viralização.

Agora, se você olhar especificamente para o Brasil, verá em geral pessoas muito amigáveis, autênticas, extrovertidas e confortáveis em se expressar. Ou seja, os brasileiros gostam de se comunicar e fazer amizades. O Orkut sempre ressaltou a interação social, e isso se alinhou com a cultura do Brasil.

EXAME.com – Por que você acha que, ao longo do tempo, o Orkut foi perdendo espaço para outras redes?

Orkut Büyükkökten – Eu diria que é porque o mundo das redes sociais mudou muito, o que é representado especialmente por dois movimentos.

Primeiro, a geração da qual eu fiz parte foi pioneira na criação das redes sociais pela internet. Se você olhar para a geração atual, ela já cresce em uma sociedade com múltiplos serviços de redes, como o Facebook, o Twitter e o Snapchat. Então, há uma diferença geracional entre o Orkut e esses novos empreendimentos.

Além disso, eu também vejo uma mudança na forma de acessar a informação. A comunicação e o consumo de mídia, hoje, vêm dos smartphones. O mundo se tornou majoritariamente mobile: ficamos online o tempo todo. Já o Orkut foi construído para uma época em que tudo isso ocorria via browser. Portanto, vivenciamos também uma alteração em termos de tecnologia.

EXAME.com – Seu plano com o Hello é adaptar-se a essas novas tendências? Como você enfrentará a concorrência das grandes redes de hoje?

Orkut Büyükkökten – Ao longo da minha jornada com redes, eu aprendi mais sobre a sociedade. Percebo que é cada vez mais difícil se conectar de verdade com as pessoas por meio da internet. Há tanto esse desejo que as pessoas estão usando redes de encontro casual, como o Tinder, e redes profissionais, como o LinkedIn, para fazer amigos. Cada vez mais estamos online e passamos menos tempo com nossos amigos na vida real. Estamos mais conectados, mas mais infelizes.

Com a Hello, nós realmente acreditamos que as redes sociais devem juntar a pessoas, por meio de interações verdadeiras. As pessoas costumam compartilhar aquilo que querem que os outros vejam delas, no lugar de quem elas realmente são. É preciso ter um espaço onde você possa falar sobre o que sente de verdade e quais são suas verdadeiras paixões, que são os aspectos que conectam pessoas na vida real. Por isso, criamos a Hello como uma rede social móvel e com ênfase tanto nos interesses quanto no conceito de comunidade, e menos foco nas pessoas.

Nós falamos com os atuais usuários da Hello e eles se sentem felizes, acham a rede divertida. Não há aquele sentimento de ansiedade e depressão associado com o uso das redes sociais.

EXAME.com – Você espera que o Hello se popularize entre os brasileiros, como foi com o Orkut? Quais são os próximos planos?

Orkut Büyükkökten – Lançamos no Brasil em julho, e já tivemos um bom feedback: ficamos em destaque na loja de aplicativos para Android e o interesse foi tanto que nosso servidor até ficou um pouco lento por conta do tráfego. Para nós, o país é uma grande prioridade e estamos muito animados com a presença deles no Hello.

Também estamos preparando nosso lançamento na Índia neste mês, com previsão de chegada em janeiro do próximo ano. A expectativa é chegarmos a dois milhões usuários nos próximos quatro meses.

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